quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Galloway: “a Internet é a mídia mais controlada já conhecida”


Por Sérgio Amadeu

Alexande Galloway, autor do livro Protocol: How Control Exists After Decentralization, publicado pelo MIT, estará no Brasil no início de novembro. Participará do Semináro Cidadania e Redes Digitais, promovido pelo curso de Mestrado da Faculdade Cásper Líbero. Galloway é professor associado do Departamento de Cultura e Comunicação da Universidade de N. York. Integrou coletivos de [...]
leia na íntegra: www.trezentos.blog.br

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

BarLavento retorna a Salvador


Multicultura

Por Maísa Amaral e Antonio Nelson

O grupo de samba-de-roda baiano, BarLavento, retorna ao JequitiBar, na varanda do Sesi, toda quarta-feira , às 21h, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Na próxima quarta, o Barlavento terá como convidados especiais os músicos Gereba e Tuzé de Abreu.

O público também vai conhecer o mais recente Cd "O Buraco de Maroca", aprensentado na Europa, especialmente em Portugal e Ferrara, na Itália, no trimestre junho/julho e agosto.

Davizinho de Mutá/vocal e Hamilton Reis/vocal/violão são os líderes do Barlavento e estarão na companhia de Aloísio do Cavaco e os percussionistas Henrique Almeida, Cuca e Jadson Estrêla.

Couvert: R$ 10,00 (dez reais) por pessoa.
Foto: Vanessa Costa

domingo, 27 de setembro de 2009

Notícias da guerra ao lado

TELEANÁLISE

Sentinela - Malu Fontes

Se alguém ainda tinha dúvidas, perdeu de vez o direito de tê-las. Quando um programa matinal como o Mais Você, voltado para donas de casa que querem ver famosos tomarem café dentro da televisão enquanto aprendem umas receitinhas, exibe, às oito da matina de uma segunda-feira, nada menos que uma cartilha televisual ensinando como se deve fazer para sobreviver à violência, é sinal de que a coisa saiu mesmo do controle, não tem mais jeito, enveredou por caminhos irreversíveis.

O pior é se dar conta de que a emissora líder de audiência no país investiu tempo e recursos para a produção de uma simulação de cenas toscas, visando treinar o coitado do cidadão comum a não morrer vítima da violência cotidiana, ou é perceber que a ribanceira brasileira está tão consolidada que a única forma de sobreviver é aprender, e justo com Ana Maria Braga, a como fazer para ficar vivo numa guerra que não foi anunciada oficialmente por ninguém? Em um país onde é Ana Maria quem ensina as pessoas a ficarem vivas, fazer mais o quê?

FALA QUE TE ESCUTO – Para piorar, os atores da simulação da cartilha televisual eram mil vezes piores que aqueles inacreditáveis recrutados pela Rede Record para dramatizar as agruras da vida de quem anda perdido no mundo por não ter no coração o Jesus Cristo da Universal do Reino de Deus. Do mesmo modo, as matérias de cenas fortes usadas subliminarmente no programa Falaque eu te Escuto, também da Record, são mil vezes mais eficientes. O que eram aquelas cenas na quais os ônibus têm apenas meia dúzia de passageiros e todos têm poltronas azuis estampadinhas e alcochoadas para o passageiro deitar-se sobre, encolhido em posição feral, para se proteger de um eventual tiroteio no buzu?

Se em Salvador os ônibus comuns tivessem aquelas cadeiras-poltronas, as espumas ampliariam as chamas que já viraram rotina nas retinas. E o que era, ainda, aquela moça almodovariana, sem a graça e a ironia deste, sem saber se corria para embaixo da cama ou para a sacada do quarto ou sala (sim, nos bairros onde há tiroteio toda hora, há sempre, segundo Ana Maria Braga, um quarto ou sala com varanda ou sacada) para, num cenário de tiroteio na rua, esperar, com sua blusa Bordeaux justíssima, um balaço na cara ou no meio do decote?

VOVÓ DONALDA - Como se a matéria-cartilha fosse pouca coisa para a coitada da dona de casa começar seu dia e semana, anotando receitas de como não morrer ao invés das de bolo, Ana Maria, sempre com aquela entidade de espuma, mais uma vez enfiou o pé na jaca com sua fala estapafúrdia equivocada. Após a obra prima do jornalismo de serviço e a pretexto de ilustrar o quanto as pessoas vacilam e por isso morrem em contextos de violência, mostrou e narrou, com sua cara de pseudo seriedade ornada com aqueles lábios de Vovó Donalda, as imagens registradas por câmeras do circuito de segurança de uma lanchonete onde um assalto terminou com uma moça morta.

Nas imagens, vê-se que a moça, ao perceber o assalto, corre em direção à porta de saída, e, na fuga, morre atingida por um tiro. Ana Maria narrou a cena em termos que deveriam ser considerados criminosos. Com toda a naturalidade, ou desfaçatez, do mundo, afirmou, literalmente, que a moça ‘procurou a bala perdida (sic), ‘foi ao encontro da bala’ (sic), pois, ao invés de correr para os fundos do estabelecimento, que seria a tentativa correta, expôs-se ‘indo ao encontro da bala’. Ou seja, as vítimas, além de treinar guerrilha para não morrer, ainda são responsabilizadas e implicitamente classificadas como estúpidas sem neurônio que não raciocinam no front como deveriam. Pior ou equivalente a ver coisas desse naipe da TV só mesmo ver a seborréia do mundo que atende pelo nome de futuros vereadores comemorando no Congresso a criação de cerca de 8 mil cargos de vereador. Agradeçam essa derrota nacional ao senador César Borges.

PRIMAVERA – Em Salvador, duas semanas depois dos contextos incendiários que se repetiram dias e dias em capas de jornais e cenas de TV, mais um ônibus foi incendiado, terça-feira, no bairro de São Gonçalo do Retiro, desta vez com as chamas lambendo mais dois veículos pequenos que estavam por perto e a rede elétrica. As autoridades da Segurança vieram a público, já nos telejornais da noite, dizer que o novo incêndio nada tinha a ver com os ocorridos nas primeiras semanas do mês. Como não? Não foi, também, coisa admitida pelas próprias autoridades, também uma resposta do tráfico do bairro à morte de um traficante do bairro e a seis prisões? Se isso é não ter nada em comum, então o incêndio foi o quê, senão, de novo, uma demonstração de que o tráfico vai, a partir de agora, responder sempre com fogo em ônibus e ataques a policiais a qualquer ação do Estado contra ele? Se não há nada em comum, então o fogaréu de terça deve ter sido a Primavera, anunciando que chegou ardente.

Para variar, a equipe do primeiro telejornal do dia da TV Bahia achou por bem, na manhã seguinte, confundir a bancada com a copa da emissora. A edição foi aberta com os apresentadores alvoroçadíssimos, mas não por conta de labaredas do tráfico. O motivo do alvoroço e a pauta eram mais nobres: a goleada sofrida pelo Vitória na véspera. Foram uns 10 minutos sobre o imbróglio no começo da edição e mais uns tantos ao final. Por que, afinal, não transformam aquela joça logo num programa exclusivamente futebolístico, com Big Brother nas sedes dos dois times, um BBV e BBB/no Vitória e no Bahia, e deixam os telespectadores de informação órfãos de vez de notícias?



*Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado no jornal A Tarde (Salvador/BA), 27 de setembro de 2009. maluzes@gmail.com

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Software Freedom Day 2009 Teresina


Na foto: Sandro Andrade (KDE e UFBA)

Por Aracele Torres*

O evento aconteceu no último sábado pela manhã no auditório do IF-PI. Pra um sábado de manhã até que teve uma participação considerável de pessoas. Como divulgado na programação, primeiro tivemos a palestra do Sandro Andrade, que faz parte de uma equipe baiana que ajuda no desenvolvimento do KDE.


O Sandro começou sua palestra falando sobre o projeto KDE, apontando algumas estatísticas sobre o número de pessoas ao redor do mundo envolvidas com o projeto. Depois falou sobre o Qt e suas ferramentas e sobre os motivos que levaram o KDE a adotá-lo. Em seguida fez uma sessão de "Porque e como contribuir com projetos de software livre", explicando aos participantes como eles poderiam ajudar também no desenvolvimento de um projeto de software livre. Por último, o Sandro explicou como funciona o Google Summer of Code: quem pode participar, como e o que fazer para. Ele informou que o Brasil é o 5 país em número de participações no Summer of Code e que as instituições que mais participam são: UNICAMP, USP, UFRGS, UFBA, UFPE e ITA.

Terminada a palestra do Sandro, começa a do Paulo Meirelles, que faz parte do Centro de Competência em Software Livre da USP (CCSL-USP). O Paulo apresentou pra gente o projeto do CCSL , disse que a USP está construindo um prédio de 3 andares especialmente para esse Centro de Competência. Ele enumerou também algumas razões para se envolver com Software Livre, destacando a importância da formação das comunidades para o desenvolvimento de projetos. Fez questão de ressaltar que sem a comunidade os maiores benefícios do Software Livre não serão obtidos. E por último, apresentou os projetos que o CCSL desenvolve: AAAp (ensino de programação), AcMus (acústica), Borboleta (saúde pública), Archimedes (CAD), EGene (bioinformática), Groupware Workbench, InteGrade (grades), scriptLattes, Segmentação de Vazos, Tango.

Bem, as impressões que ficaram das palestras foram muito boas. As falas do Sandro e do Paulo deram um certo gás no pessoal daqui, que não tá muito acostumado com essa discussão sobre projetos de software livre. O contato com pessoas que estão desenvolvendo projetos na área foi bem incentivador para nós. Acho que esse evento abriu muitas perspectivas, no sentindo de que viu-se a partir da fala dos meninos que é possivel sim trabalhar com software livre, ganhar dinheiro prestando serviços na área, desenvolver pesquisas, enfim, viu-se que o software livre é rico em possibilidades.

Depois do evento tivemos novas incrições na lista do PSL-PI, começamos também uma discussão sobre a possibilidade de montarmos um grupo de desenvolvedores do KDE aqui no Piauí. Ao que tudo indica iremos colher bons frutos desse evento.

Por fim, gostaria de agradecer a todos que participaram do evento, aos palestrantes e aos patrocinadores; e dizer que esperamos todos novamente no Software Freedom Day do próximo ano.

Be free!

Obs: Aracele atendeu ao pedido do Sentinelas em produzir a cobertura do Software Freedom Day 2009 Teresina. Sentinelas agradece.

Aracele Torres: http://www.cibermundi.blogspot.com/ - www.trezentos.blog.br

Exclusivo: entrevista com o cantor Silvério Pessoa


Multicultura

Sentinelas – Antonio Nelson e Luiz Eladio

O multiculturalismo do cantor e compositor pernambucano Silvério Pessoa é internacionalmente conhecido. Seus CDs são vendidos em Tóquio e em outras cidades do Japão. Em 2005 lançou o seu quinto CD solo, Cabeça Elétrica e Coração Acústico, e no ano seguinte o mundo conheceu a versão européia. Ele realizou shows na Espanha, França, Dinamarca, Alemanha, Bélgica, Suíça e num dos maiores Festivais do planeta, o Rainforest Festival, localizado na Ásia, Malásia, na ilha de Borneo.

Sua arte se propaga com facilidade rompendo algumas barreiras da indústria do mercado cultural em declínio. Através do seu site, Silvério possibilita os internautas fazerem downloads das músicas e videoclipes, vencendo o monopólio das empresas privadas, concessonárias do serviço público de transmissão de sinais de rádio e televisão, e da indústria fonográfica estrageira no Brasil.

Através do skype, conversamos sobre o preconceito da grande mídia com relação aos artistas nordestinos; psicopedagogia; arte com ética/estética e literatura. Abordamos o livro Modernidade Líquida de Zugmunt Bauman, consumismo e individualismo. Silvério prestou homenagem ao amigo, percussionista e produtor musical Ramiro Musotto, falecido em 11 de setembro de 2009. Publicaremos a íntegra da entrevista na próxima semana.
Foto: Antonio Nelson

Diogo Mainardi e Ali Kamel são desmascarados


Por Luís Carlos Azenha :

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/para-entender-o-dossie-falso-disseminado-por-mainardikamel/

Paulo Henrique Amorim combate corrupção


São Paulo, 12 de junho, 2008

Eu, Paulo Henrique Amorim, cidadão brasileiro, … entro com essa REPRESENTAÇÃO no Ministério Público Federal – São Paulo, por suspeita de MALVERSAÇÃO DE FUNDOS PÚBLICOS e de PREVARICAÇÃO contra o Ministro da Fazenda, contra os diretores da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), contra o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e os diretores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Anatel para que se promova a CESSAÇÃO DA CONDUTA, a APLICAÇÃO DAS MULTAS cabíveis, e a abertura de AÇÃO CÍVEL PÚBLICA .

I) Notícia que resume os motivos a sustentar essa REPRESENTAÇÃO:

O que é a “BrOi” ?

Daniel Dantas e os empresários Carlos Jereissati e Sergio Andrade – donos da Telemar/Oi – acharam um jeito de tomar dinheiro dos trouxas – o maior deles é o BNDES, subordinado ao Ministro do Desenvolvimento – e comprar a Brasil Telecom.

Com isso, vão ficar com o monopólio (70%) da telefonia fixa do Brasil, fora São Paulo, que é explorado pela Telefónica.

Depois de manipular as ações na Bolsa com notícias falsas sobre a criação da empresa, e antes que a regulamentação – porque o Plano Geral de Outorgas não permite a criação da “BrOi” -, Dantas conseguiu:

1) Que os fundos de pensão que controlavam a Brasil Telecom – Previ (dos trabalhadores do banco do Brasil), Petros (dos trabalhadores da Petrobrás) e Funcef (dos trabalhadores da Caixa Econômica) – retirassem da Justiça as ações que moveram contra Dantas por “gestão temerária”;

2) Que o Citibank, sócio da Brasil Telecom, retirasse da Justiça de Nova York as ações que movia contra Dantas por “gestão temerária”.

3) Que a própria Brasil Telecom retirasse as ações que tinha com o Opportuniy;

4) Que o BNDES se comprometesse a dar a Jereissati e a Andrade a grana para que os dois comprassem – sem botar um tusta do próprio bolso – a Brasil Telecom; comprassem a parte dos outros sócios na “Telemar/Oi”; e pagassem um cala-a-boca a Dantas, para que ele saísse de fininho da Brasil da Telecom e da Oi – onde ainda tinha participação minoritária. Dantas receberá um cala-a-boca de R$ 1 bilhão, coisa pouca… Parte virá da Brasil Telecom, parte da Telemar/Oi. Ou melhor, virá TUDO do BNDES.

Convém lembrar, nessa notícia, que um filho do Presidente da República é sócio da Telemar/Oi numa empresa chamada “Gamecorp”. Ela produz conteúdo para celulares da Oi, jogos, e recentemente entrou no ramo de televisão, com a TV Bandeirantes.

Paulo Henrique Amorim se candidatou a comprar a Brasil Telecom, através de sua empresa PHA Comunicação S/C Ltda, CNPJ 01681373/0001/-38, nas seguintes condições: a PHA daria R$ 1 a mais do que dessem os empresários Carlos Jereissati e Sergio Andrade, DO PRÓPRIO BOLSO.

O BNDES ignorou a proposta.

Um presidente de fundo disse ao respeitado jornalista Rubens Glasberg que fez acordo com Dantas como, na favela, se faz acordo com o chefe do tráfico para poder viver em paz.
O BNDES é suspeito de praticar malversação de fundos públicos, uma vez que o BNDES é o único que vai entrar com dinheiro nessa história.

Quando o BNDES explica a operação, diz que não vai dar dinheiro para que os sócios da Telemar/Oi comprem a Brasil Telecom. Mas, sim, usar dinheiro que já existia no caixa do BNDES para promover a “recomposição acionária” dentro da Telemar/Oi.

Promover a “recomposição acionária” significa dar dinheiro.

O dinheiro do BNDES vem do Tesouro Nacional e do FAT, dinheiro dos trabalhadores brasileiros.

Como não há “geração espontânea” de dinheiro, é do Tesouro Nacional e do FAT que Carlos Jereissati, Sergio Andrade e Daniel Dantas receberão o dinheiro.

O BNDES justifica a criação da “BrOi” com o argumento de que é preciso criar uma super-tele de capital nacional, para enfrentar os estrangeiros e competir no mercado internacional.
Quem disse que a Brasil Telecom e a Telemar/Oi não podem enfrentar os estrangeiros ?
Qual é o problema “enfrentar os estrangeiros” ?

(Veja anexas as 52 perguntas que Rubens Glasberg fez sobre a “BrOi”.)
Por que as duas empresas não criam uma subsidiária com o fim precípuo de competir no mercado internacional. – e só lá ?

Com o dinheiro do BNDES – quer dizer, do Tesouro Nacional e do FAT – , a Telemar/Oi vai pagar um “cala-a-boca” a Daniel Dantas, embora a Telemar/Oi não seja parte de nenhuma pendência judicial com Dantas.

Por que o BNDES vai ajudar a “recompor” das finanças de Daniel Dantas, via Telemar/Oi ?
Qual a lógica disso ?

Como explicar isso ao Tribunal de Contas da União ?

Malversação de fundos públicos é do que se pode acusar, também, o Banco do Brasil, que é sócio da Telemar/Oi.

Prevaricação é o crime da Comissão de Valores Mobiliários, subordinada ao Ministro da Fazenda, e da Anatel.

A Anatel vai modificar a Plano Geral de Outorgas – PGO – apenas para criar a “BrOi”.
Muda-se a lei “sob encomenda”, para que dois empresários tenham o monopólio da telefonia fixa do país !!! Sem entrar com um tusta !!!

A Comissão de Valores Mobiliários calou-se diante dos seguintes fatos:

1) Da manipulação das ações da Brasil Telecom e da Telemar/Oi na Bolsa com as notícias que os empresários e Daniel Dantas plantavam na mídia.
Primeiro, os empresários e seus empregados negavam a operação da “BrOi”.
Depois, as empresas diziam que os acionistas é que tinham que falar.
Os acionistas negavam a operação.
E a CVM não dizia um “ai”.

2) A CVM se calou também diante da óbvia operação “Zé com Zé” que houve entre a Brasil Telecom, os fundos Previ, Petros e Funcef, o fundo AG Angra e Sergio Andrade.
A operação funcionou assim:

Os fundos de pensão – Previ, Petros e Funcef – mandaram Daniel Dantas embora da Brasil Telecom e colocaram no lugar um dos sócios do fundo Angra, o Sr. Ricardo K.

O Angra, na Brasil Telecom, defende os interesses dos fundos de pensão.

Acontece que o Angra tem um fundo – o “AG Angra” – em sociedade com a “AG” – Andrade Gutierrez.

O dinheiro do “AG Angra” vem dos fundos de pensão, que são os donos da Brasil Telecom.

A Andrade Gutierrez não botou um tusta no AG Angra.

Tenho informação – a confirmar – que a remuneração pela gestão (“management fee”) que os fundos pagam ao AG Angra é de R$ 1 milhão por mês.

R$ 1 milhão por mês ? Por que ? Se o AG Angra, aparentemente, ainda não aplicou em nenhum investimento em infra-estrutura.

Gerir o quê ?

Esquisito.

O Angra está na Brasil Telecom, e no AG Angra.

Os fundos estão na Brasil Telecom, no AG Angra, e vão ser sócios de Sergio Andrade na “BrOi”.

O Angra tem que defender os fundos na Brasil Telecom.

O Angra tem que defender a Andrade Gutierrez no AG Angra.

O Angra tem que vender a Brasil Telecom por um bom preço, para os fundos ficarem felizes.

E tem que vender a Brasil Telecom à Telemar/Oi por um preço baixo, para o Sergio Andrade ficar feliz.

E tem que vender por qualquer preço – e rápido - para os sócios do Sr. K no Angra ficarem felizes.

Porque, depois da “BrOi”, o sr. K voltará ao Angra.

Isso configura “conflito de interesse” ou um gigantesco “encontro bem remunerado de interesses”.

Como se diz na Bolsa, é um “Zé com Zé”.

E todos os “Zé” saem bem dessa: o Angra, o Sr. K, o Sr. Andrade, e os fundos.

Quem sai bem mesmo é Daniel Dantas, que recebe um cala-a-boca de quase US$ 1 bilhão para sair da Telemar e da BrT e não processar mais ninguém.

E quem perde com isso ?

O BNDES, que entra com o dinheiro – e mais ninguém.

Perdem os fundos, porque o dinheiro deles – dos trabalhadores do Banco do Brasil, da Petrobrás e da Caixa Econômica – é administrado por “administradores” que pensam, antes, no bolso deles (“administradores”).

Perdem os fundos, porque o dinheiro deles é administrado por gente que tem “conflitos de interesse”.

Qual conflito de interesse ?

.O conflito entre os interesses dos fundos e os interesses dos “administradores”, como o Sr K.

“Administradores”, como foi, no passado, Daniel Dantas.

. Quem perde também – e acima de tudo – é o consumidor, porque a “BrOi” ficará com 70% do mercado de telefonia fixa do país.

E o que a CVM fez diante desse “Zé com Zé”, em que o Tesouro Nacional, o FAT e o consumidor é que pagam o pato ?

Nada.

5) A CVM não interpelou a Telemar/Oi para saber por que vai pagar um “cala-a-boca” a Daniel Dantas por conta da suspensão de pendências judiciais, se a Telemar/Oi não é parte dessas ações ?

A Telemar/Oi é uma empresa de capital aberto e os acionistas minoritários deveriam saber por que pagar por um acordo que não lhes diz respeito ?

6) A CVM não deu seqüência às representações de “gestão temerária” que a Brasil Telecom fez contra Daniel Dantas, quando gestor da Brasil Telecom.

Por acaso a CVM também fez um acordo de “apagar a pedra” com os processos judiciais que corriam contra Dantas ?

II) Seguem anexos os seguintes documentos:

1) Comunicado conjunto das empresas Brasil Telecom e Telemar/Oi sobre como será a operação;

2) Noticia da Assembléia de acionistas da Brasil Telecom que faz cessar as ações contra Daniel Dantas na Justiça;

3) Comunicados das empresas Brasil Telecom e Telemar/Oi à CVM que tratam da “recomposição acionária” da Telemar/Oi e não explicam de onde vem o dinheiro da “recomposição acionária” e como vão pagar o cala-a-boca de Daniel Dantas;

4) Editorial “O Silêncio Ensurdecedor”, de autoria de Rubens Glasberg, na Teletime News;

5) As 52 perguntas que Glasberg formulou sobre a “BrOi” e que jamais mereceram resposta de qualquer dos envolvidos na operação.

6) Resumo das ações da Brasil Telecom contra Daniel Dantas na CVM;

7) Resumo das ações da Brasil Telecom contra Daniel Dantas na Corte de Nova York;

8) Resumo das ações do Citibank contra Daniel Dantas na Corte de Nova York.

Atenciosamente, o cidadão desta pobre República,

Paulo Henrique Amorim
Acesse:
http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=16500

Exclusivo: entrevista com o guitarrista-baiano Ricardo Primata



Multicultura

Sentinelas da Liberdade conversou com Ricardo Primata sobre o lançamento do seu segundo Cd solo: Espelho da Alma. Primata falou a respeito da pouca divulgação do rock metal/progressivo, especialmente, na Bahia; as reações no sudeste do Brasil ao saber que ele é baiano...

O Cd tem a participação especial do repentista Bule Belu, e a guitarra baiana de Armandinho Macêdo. A íntegra, publicaremos em breve.

Foto: Antonio Nelson




Manifesto em defesa da Democracia e do MST

“...Legitimam-se não pela propriedade, mas pelo trabalho, nesse mundo em que o trabalho está em extinção. Legitimam-se porque fazem História, num mundo que já proclamou o fim da História. Esses homens e mulheres são um contra-senso porque restituem à vida um sentido que se perdeu...” (“Notícias dos sobreviventes”, Eldorado dos Carajás, 1996).

Contra a criminalização do MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA!

São Paulo, 21 de setembro de 2009

Plínio de Arruda Sampaio, presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária - ABRA, ex-Deputado Federal Constituinte pelo PT-SP (1985-1991) e ex-consultor da FAO
Osvaldo Russo, estatístico, ex-presidente do INCRA (1993-1994), diretor da ABRA e coordenador do núcleo agrário nacional do PT
Hamilton Pereira, o Pedro Tierra, 61, é poeta e membro do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo
Antônio Cândido, crítico literário, USP
Leandro Konder, filósofo, PUC-RJ
István Mészáros, Hungria, filósofo.

Abaixo, segue o texto do Manifesto. Assine-o e promova sua divulgação. Para assinar, entre em:
http://www.petitiononline.com/manifmst/petition.html .

Fonte: www.mst.org.br

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Sessão pública de desagravo à imprensa baiana

Sentinela - Antonio Nelson

Em resposta à matéria publicada na editoria de Política, do Jornal A Tarde, realizada em 15/08/2009, com o título: Procuradora sob suspeição, na próxima terça-feira, 29, às 15h, na sede da OAB-BA acontecerá sessão pública para leitura do desagravo à Procuradora Geral Adjunta do estado, Joselita Cardoso Leão. De acordo com fontes oficias, a nota será encaminhada ao ofensor e às autoridades (Regulamento Geral da OAB, art. 18 e parágrafos).

A leitura será feita pelo Presidente do Conselho da OAB-BA. Até mesmo por se tratar de desagravo que se fará não somente a Joselita mas, também, às prerrogativas da advocacia (e em especial às prerrogativas da advocacia pública).

____________________________________________________

Por Joselita Cardoso Leão
DA REPORTAGEM DIVULGADA EM 15.08.09

Conquanto não prime pelo rigor gramatical nem mesmo se apresenta em linguagem jornalística – o que se percebe pelas referências feitas à signatária com o prenome apenas - o texto em geral expressa a realidade, exceto quanto ao momento em que o processo de cobrança da multa chegou na PGE. Conforme registros do sistema, tal ocorreu em 2006 e não em 2007.

Com exclusividade, leia a carta na íntega, neste site, referente à reportagem, na publicação da última quarta-feira: Procuradora do Estado da Bahia desmente imprensa baiana.

Parlamentares processados por estado

Veja a lista completa da excelente apuração jornalística, com exclusividade, no site:
http://www.congressoemfoco.com.br/

BAHIA (9)

Deputados

Fernando de Fabinho (DEM-BA)

Inquérito 2656 - crimes eleitorais (transporte em dia de eleição)
Inquérito2684 - crime de responsabilidade

Geraldo Simões (PT-BA)

Ação Penal 471- captação ilícita de votos ou corrupção eleitoral
Inquérito 2707 - emprego irregular de verbas públicas.
Inquérito 2759 - crime de responsabilidade.
Inquérito 2719 - responde por crimes de responsabilidade.

João Carlos Bacelar (PR-BA)

Inquérito 2793 – crime de desacato

Joseph Bandeira (PT-BA)

Ação penal 486 - peculato

Maurício Trindade (PR-BA)

Ação Penal 510 - tráfico de influência

Paulo Magalhães (DEM-BA)

Inquérito 2311 - lesões corporais (com parecer da PGR pelo arquivamento)

Roberto Britto (PP-BA)

Ação Penal 512 – Captação ilícita de votos ou corrupção eleitoral

Tonha Magalhães (PR-BA)

Inquérito 2677 - crimes da Lei de Licitações
Inquérito 2805 – crimes de responsabilidade – autuada em 23/03/2009

Uldurico Pinto (PMN-BA)

Inquérito 2706 - formação de quadrilha e crimes praticados por funcionários públicos contra a administração em geral. O procedimento corre em segredo de Justiça

Globope manipula amostra para prejudicar Dilma

Paulo Henrique Amorim: www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=18851

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Procuradora do Estado da Bahia desmente imprensa baiana



SOBRE A MATÉRIA PUBLICADA NO CADERNO POLÍTICA, DO JORNAL “A TARDE”, EDIÇÃO DE 15.08.2009

Acusam-me de ter distribuído internamente na PGE o processo de cobrança da multa de 70 milhões que o Banco Econômico deveria pagar ao Estado da Bahia a despeito de ter sido advogada do mesmo Econômico durante 19 anos, 18 dos quais acumulando com a função de Procuradora.

Afirmam, ainda, que assinei o processo movido pelo Banco para derrubar a sentença, que, posteriormente, gerou a multa aplicada ao Banco Econômico por descumprimento da sentença.

Daí, segundo a manchete que encabeça a reportagem, “SOB SUSPEIÇÃO”.

Antes de tudo, convém esclarecer que o “processo de cobrança” da multa de 70 milhões de reais já havia sido encaminhado à Procuradoria Judicial desde 2006, quando também fora distribuído pela digna Chefia do Órgão a um dos seus Procuradores. Na mesma oportunidade, o ilustre Procurador designado já emitira pronunciamento registrando a impossibilidade de ajuizamento, naquele momento, da execução (que haveria de ser precedida de inscrição em dívida ativa – art. 14, V, parag. Único do CPC), por não ter ocorrido trânsito em julgado da decisão, pressuposto ca constituição do crédito à luz do dispositivo citado.

De fato, em 2007 foram recebidos no Gabinete do Procurador Geral e remetidos a mim um ofício do Desembargador Benito Figueiredo e outro do Procurador Geral da Justiça ambos capeando idêntico expediente que lhes fora passado pelo advogado Hugo Amaral Villarpando, interessado este em que fossem aviadas providências visando à cobrança da referida multa sob o argumento de que seria ela destinada ao FAJ Fundo de Aparelhamento do Poder Judiciário.

Como todos os expedientes que ingressam no Gabinete para efeito de distribuição são direcionados eletronicamente a mim, responsável que sou pela chefia do órgão, também me foram encaminhados pelo mesmo sistema, (ver fac-simile da reportagem) aqueles dois ofícios – que foram de logo encaminhados ao Procurador Geral para conhecimento, resposta às autoridades remetentes e orientação à Procuradoria Judicial. Ressalte-se que o Procurador Geral, inteirado da manifestação da PJ, comunicou o fato ao Presidente do Tribunal, afirmando que a PGE aguardava a reunião dos elementos necessários para a constituição regular do crédito, inscrição em dívida ativa e ajuizamento da indicada cobrança.

Pouco tempo depois, o advogado Villarpando, verificando que tais expedientes haviam passado por mim, apresentou requerimento ao Procurador Geral para que fosse eu “afastada do caso” porque tinha sido advogada do Econômico, responsável pelo pagamento da multa. Recebendo este pedido, o PGE determinou minha manifestação a respeito, ao que esclareci o equívoco do requerente, consignando que eu jamais havia estado no caso, que apenas fiz o encaminhamento dos expedientes, e que, de resto, cabia à PJ (que já acompanhava o assunto desde 2006), e não ao Gabinete, as providências apontadas pelo Tribunal e pelo MP.

ADVOCACIA DO BANCO ECONÔMICO

É público e notório que fui durante longos anos advogada contratada do Banco Econômico e que, no curso dessa relação ingressei por concurso no cargo de Procurador do Estado, passando desde então a cumular legalmente minhas atividades profissionais na advocacia privada sob vínculo empregatício e na PGE.

É certo também que continuei atuando como advogada do Banco Econômico após a intervenção e conseqüente liquidação extrajudicial da instituição e que, em função do vínculo empregatício que mantinha ali, ajuizei em nome do empregador, no mês de março de 1998, contra as empresas CONCIC e PRISMA e respectivos sócios, uma ação rescisória para desconstituir a sentença proferida pelo Juíz da 4ª Vara Cível, hoje Des José Bispo, em ação ordinária de cobrança proposta por estes últimos contra o Banco, decisão esta portando uma condenação em vultosíssima quantia que, sem computar as perdas e danos, já se avizinhava da casa de 200 milhões de reais.

Mas que, no ano seguinte (1999), já rescindido desde junho de 1998 o meu contrato de emprego com o Banco, achei por bem renunciar aos poderes que me foram por este conferidos na causa objeto daquela ação rescisória, levando imediatamente o fato a conhecimento do Relator da ação.

Registre-se que desde então não mais tomei conhecimento da tramitação desse processo, que passou a ser patrocinado por outros profissionais.


DA MULTA

Com a notícia que recebeu em 2006 da existência do crédito resultante de mencionada multa, a PGE tomou conhecimento de que nos embates travados para o recebimento dos créditos objeto da condenação na ação ordinária, o advogado Hugo Amaral Villarpando, em 2004, invocando a qualidade de credor de honorários em montante superior a 20 milhões de reais, interpôs agravo de instrumento insurgindo-se contra o descumprimento da sentença pelo Banco e reivindicando a aplicação a este da multa prevista no art. 14, inciso V, parag. Único, do CPC, , lograra obter a condenação do agravado na pena pecuniária, no percentual de 10% sobre “o valor econômico da execução”, deixando, no entanto, a Câmara Julgadora, de estabelecer o prazo a ser contado do trânsito em julgado da última decisão da causa, conforme previsto no mesmo dispositivo como pressuposto da constituição do título hábil à cobrança reclamada.


O ACÓRDÃO DA 1ª CÂMARA CÍVEL QUE CONDENOU O BANCO ECONÔMICO A PAGAR ESSA MULTA POR DESCUMPRIMENTO DE SENTENÇA, DATA DE 2005, QUANDO A AÇÃO RESCISÓRIA JÁ TRAMITAVA NO MESMO TRIBUNAL HÁ SETE ANOS. VALE DIZER, SEIS ANOS APÓS TER EU RENUNCIADO AO MANDATO PARA O PATROCINIO DESTA MESMA AÇÃO.


DA AÇÃO RESCISÓRIA

É interessante perceber que todo o movimento desenvolvido pelo citado advogado em 2007 - quando provocou o Tribunal e o MP a pedir providências à PGE para a cobrança daquela multa - coincidiu com o anuncio do julgamento da ação rescisória, que veio a ser definitivamente julgada procedente no mês de fevereiro do ano em curso, constando todavia que contra essa decisão os réus ingressaram com embargos infringentes aviados em face da minoria composta por um único voto vencido.

Receia-se que as últimas investidas, agora impregnadas de conteúdo marcadamente difamatório, envolvendo levianamente meu nome, coincida também com a proximidade do julgamento daqueles embargos.

Vale acrescentar a tais circunstâncias, o fato de que a mobilização do Presidente do TJ e do MP rumo à tomada de providências pela PGE, fora obtida pelo advogado, mercê da equivocada afirmação de se tratar de multa destinada ao aparelhamento do Poder Judiciário, quando o FAJ – Fundo de Aparelhamento do Judiciário é constituído de 50% de custas , taxas judiciais e multas sobre estas incidentes (cf Lei que criou o IPRAJ). De sorte que os recursos provenientes de multa da espécie, quando devidos, haverão de ser carreados como receita corrente do tesouro estadual ou federal, na forma estabelecida pelo CPC.


DA REPORTAGEM DIVULGADA EM 15.08.09

Conquanto não prime pelo rigor gramatical nem mesmo se apresenta em linguagem jornalística – o que se percebe pelas referências feitas à signatária com o prenome apenas - o texto em geral expressa a realidade, exceto quanto ao momento em que o processo de cobrança da multa chegou na PGE. Conforme registros do sistema, tal ocorreu em 2006 e não em 2007.

Esclarece sobre a conduta da signatária no episódio (distribuição dos expedientes) e, ainda registra, a manifestação da PJ pela impossibilidade técnica da tomada de providências pela PGE com vistas à execução dos referidos 70 milhões.

O que se repele mesmo e causa indignação pelo conteúdo injurioso e difamatório que porta, é a formulação do título da matéria como “PROCURADORA SOB SUSPEIÇÃO”, quando se constata que os fatos narrados na reportagem jamais autorizariam tal acusação.

Afinal, a ninguém de bom senso ocorreria supor que mero ato de distribuição ou encaminhamento de expedientes em rotina burocrática - é o de que me acusam – pudesse colocar alguém SOB SUSPEIÇÃO.

Tenho a mais absoluta convicção de que em nenhum momento de minha trajetória faltei com os deveres do meu cargo público nem com os postulados da ética profissional, valores que sempre procurei honrar e professar tanto na minha atividade privada, quanto nesses 30 anos de atuação como Procuradora do Estado da Bahia.

Salvador, 17 de agosto de 2009

Joselita Cardoso Leão

Segue abaixo email enviado aos seus pares:


Prezados Colegas, Procuradores do Estado:

Tentando ainda recobrar a tranquilidade emocional que me foi subtraída pelo impacto da injuriosa matéria levada a público no último dia 15 (sábado) pelo Jornal “A Tarde” sob o título "Procuradora sob Suspeição", sinto-me no dever de me dirigir a vocês para apresentar-lhes os esclarecimentos que todos merecem e devem receber.

Não o faço para me defender, obviamente, até porque nem mesmo ali a perversidade foi capaz de apontar qualquer ato que pudesse desabonar minha conduta como pessoa ou como advogada, na esfera pública ou particular. Mas, sim, para esclarecer sobre os fatos que tentaram manipular e deturpar com o o firme propósito de me atingir.

Afinal, fui covardemente ofendida em minha honra funcional, como Procuradora do Estado, no exercício do cargo de Procuradora Geral Adjunta, e bem sei o quanto isto pode repercutir na auto-estima dos meus Pares e na própria imagem do Órgão a que servimos.

É público e notório que atuei como advogada contratada do Banco Econômico S.A. e do Banco Econômico em liquidação extrajudicial e que grande parte desse labor foi contemporâneo ao exercicio do cargo de Procuradora do Estado. Nenhuma norma legal ou ética me impedia de acumular essas atividades, sendo de assinalar-se que jamais optei por dedicação exclusivana PGE.

É certo que no mes de março de 1998 , ainda como advogada da referida instituição, no exercicio regular da advocacia, ajuizei em nome desta uma ação rescisória contra as empresas CONCIC e PRISMA e seus respectivos sócios, objetivando a desconstituição de uma sentença da 4ª Vara Cível, subscrita pelo Juiz José Bispo, que em ação ordinária ajuizada por aqueles, havia condenado a instituição, já liquidanda, em 524 milhões, além de perdas e danos.

Sucede que, em 1999, tendo me desligado do Banco, renunciei aos poderes que me foram conferidos para a causa, levando ao processo petição registrada neste sentido.

Dos embates que se travaram desde então entre as partes litigantes, já em 2004, enquanto tramitava a AR , um dos advogados das empresas, rés nesta ação, legitimado por crédito de honorários sucumbenciais resultantes da ação ordinária subjacente, interpos um agravo de instrumento em que postulara a aplicação, ao Banco, da multa prevista no art. 14 inciso V, parag. único do CPC, por descumprimento da sentença.

Em 2005, provido o agravo, foi fixada a multa reclamada no percentual de 10% a incidir sobre "o valor econômico da execução", sendo que, de acordo com as disposições citadas, essa multa se vence a partir do trânsito em julgado da última decisão da causa. E se destina à Fazenda Estadal ou Federal conforme o caso.

Conforme registros no sistema da PGE, a demanda relativa à cobrança dessa multa chegou à Procuradoria no ano de 2006, sendo o expediente encaminhado à Procuradoria Judicial . Ali, o primeiro Procurador designado pela Chefia para adotar as providências pertinentes à execução do apontado crédito, emitiu pronunciamento contrário a qualquer medida naquele momento por não ter se efetivado ainda o trânsito em julgado da última decisão da causa.

Em 2007, já estando esta Procuradora em exercício no Gabinete, recebeu e deu o devido encaminhamento, como lhe competia, um ofício do Presidente Benito Figueiredo e outro da Procuradoria Geral da Justiça, ambos capeando um mesmo dossiê entregue aos remetentes pelo referido advogado, com pedido de providências no sentido de ser cobrada aquela multa sob o argumento de se constituir em crédito do Fundo de Aparelhamento do Poder Judiciário.

Ainda naquele ano, a signatária recebeu e encaminhou ao Procurador Geral o requerimento do mesmo causídico que, valendo-se dos registros do meu nome na tramitação daqueles ofícios, e suscitando suposto interesse de minha parte, por ter sido advogado do Banco, pedia fosse ela "afastada do caso" .

Nesse mesmo expediente, atendendo a despacho do Procurador Geral, que me retornou o expediente para manifestação, tive a oportunidade de esclarecer que jamais "estivera no caso"´, até porque não integram minhas funções a de oficiar nos feitos administrativos, nem tão pouco a de ajuizar demandas.

Como se pode ver, além de não mais se encontrar sob meu patrocinio a ação rescisória em questão - desautorizando, assim, qualquer ilação capaz de me vincular às consequencias dela - em nenhum momento emiti qualquer ato e, muito menos pronunciamento acerca dos destinos a serem dados pela PGE ao citado "processo de cobrança de multa de 70 milhões de reais".

De resto, cumpre-me ressaltar, por ser auto-explicativo, o fato de que a momentosa ação rescisória foi recentemente julgada procedente pelo Tribunal de Justiça, com apenas um voto divergente, desconstituindo, assim, a sentença cujo resultado econômico já ultrapassaria a casa de 1 bilhão de reais.

No anexo*, descrevo com maiores detalhes minha atuação na referida causa e seus desdobramentos.


Espero assim ter contribuído para escoimar qualquer resquício de dúvida que acaso ainda possa subsistir quanto à lisura de minha conduta funcional e profissional em todos os passos desse malfadado estória.

Cordialmente

Joselita Cardoso Leão

*O anexo é a primeira publicação.

domingo, 20 de setembro de 2009

O que faz você feliz?

TELEANÁLISE

Sentinelas - Malu Fontes*


A indústria do bem está com tudo e não está prosa, cada vez mais poderosa. Quanto maior o caos do mundo, melhor para aqueles que lucram com a venda e a promoção do bem coletivo, principalmente o bem dos vulneráveis, pobres e oprimidos. Por conta da indústria do bem, o telespectador e, mais ainda, o leitor de revistas, é submetido ininterruptamente a uma profusão de anúncios deslumbrantes anunciando determinadas marcas como sendo as mais novas velhas amiguinhas da natureza.

Um exemplo são os xampus, óleos e cremes elaborados com castanhas do Pará colhidas e tratadinhas a pão de ló por mulheres que, conforme se anuncia, antes eram pobrezinhas e agora estão empoderadas em alguma comunidade tão longínqua quanto carente na Amazônia. A propósito, Ana Maria Braga daria uma excelente senhora-propaganda desse tipo de produto. É facílimo imaginá-la elogiando os produtos puríssimos, feitos, como ela bem diria, exclusivamente com elementos da ‘fauna’ brasileira.

HIPOCRISIA - Vá lá que as marcas que hoje ancoram suas imagens em estratégias política e ecologicamente corretas mudem mesmo a vida dessas mulheres e a de seus rebentos, que contribuam mesmo para preservar a floresta, de algum modo. No entanto, a mudança maior se dá, de fato e para valer, é em suas caixas registradoras. O que mais importa para as marcas, longe de ser a floresta e seus povos, as mulheres pobrinhas do Vale do Jequitinhonha (MG) e seus bordados e artesanatos deslumbrantes, é o fato de que xampus, sabonetes, cremes, perfumes, roupas e sapatos de grifes tais possam vender juntamente com o seu valor de uso a imagem ‘agregada’ de marca correta, promotora do bem, redimensionadora da vida de gente pobre, protetora da natureza e comprometida com a sustentabilidade e o futuro do planeta.

Se a vida da catadora de castanha do Pará muda, muda muito mais o preço final do xampu elaborado com os elementos da natureza. O uso da flora de modo sustentável e a mão de obra dos nativos são justamente o diferencial que autoriza as marcas a cobrarem o dobro ou o triplo do preço por seus produtos. Já a consumidora, paga a conta, mesmo mais alta, feliz da vida, achando o valor justíssimo, seduzida que está pela idéia de estar comprando mais do que uma espuma para o cabelo, mas uma causa, um movimento e uma atitude por um mundo melhor. O discurso é lindo, mas imagens incontestáveis e a hipocrisia exacerbada.

SOCIALITES - Nas páginas das revistas de luxo aparecem designers, estilistas e celebridades exibindo vestidos caríssimos elaborados com elementos artesanais feitos por donas marias do Piauí, de Alagoas, do Ceará, mas assinados por criadores com lojas nos Jardins, em São Paulo, o pedaço de rua fashion mais sofisticado do Brasil e outras vitrines laureadas do resto do país e até do mundo. E quem disse que leitor de revista de moda de primeira linha vai lá perder tempo estabelecendo relações, mesmo imaginárias, entre o custo de um daqueles vestidos deslumbrantes de renda renascença/renascense como os usados por Daniela Mercury, por exemplo, e o quanto as bordadeiras que passaram meses tecendo aquelas tramas receberam por seu trabalho?

Do mesmo modo que a indústria do bem tornou-se um tema caro à indústria literal, o mesmo também ocorre com celebridades, socialites e dramaturgos da TV. Novelista que se preze, sobretudo os do novelão global das oito, tem que ter uma causa do bem. Que o diga Manoel Carlos, cuja trama, estreada esta semana, traz ao fim de cada capítulo um depoimento de superação com final feliz. Mas, dá para levar a sério a tematização de questões sociais complexas em telenovelas?

BANHEIRO - Cada vez que um autor diz que vai discutir tal assunto em suas narrativas, pouco se vê de seriedade. Um dado para reflexão foi a inserção versus repercussão e intervenção nos modos de abordagem da esquizofrenia, através do personagem Tarso (Bruno Gagliasso) em Caminho das Índias, encerrada na semana passada. A impressão que ficou foi a de que a tematização da doença rendeu muito pouco em termos e mudança de perspectiva da sociedade em relação aos portadores. O banho de água fria na causa foi dado, talvez, pela roubada de cena por parte da personagem Norminha (Dira Paes), a traidora contumaz. Ao invés de se falar em esquizofrenia e de como enfrentá-la, a verdade é que se falou muito mais da performance do ator, do quanto Norminha tornou-se a queridinha nacional e das especulações acerca de quem deveria ficar com Maya no final.

E por falar da indústria do bem e da publicidade em torno dela, que vive a responder à pergunta ‘o que faz você feliz?’, é um mimo ouvir, nos intervalos comerciais televisivos, um dos maiores artistas do Brasil, Gilberto Gil, falando de maneira tão terna, quase num tom de ninar, que o que ‘faz você feliz’ é nada menos do que comprar em uma rede tal de supermercados. A delicadeza da fala do ex-ministro da Cultural é de marejar os olhos dos desavisados. Na vida de verdade, no entanto, se o telespectador de Salvador embarcar no mantra da felicidade de supermercado e der uma passadinha na loja do grupo na Avenida Paralela, é bom passar longe dos banheiros do estabelecimento. Se o fizer, vai despertar da felicidade sugerida pela fala mansa do ministro e descobrir-se num pesadelo odorífico inenarrável.



*Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado em 20 de Setembro de 2009. maluzes@gmail.com

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O brasileiro zangado

Por Luis Henrique Dias Tavares*

– Vocês pensam que brasileiro é bichinho manso? É não... Quer dizer, é de paz, mas quando desconhece, ah, meu senhor, afasta ligeiro, caso contrário leva faca e chumbo, pedra e pau, que esse meu povo briga com o que a mão recolhe e não olha os circunstantes. Quer escutar, vou contar um caso passado em Petrolina, cidade de Pernambuco que fica bem de cara para Juazeiro da Bahia. Dia de sábado, tem feira. E é feira de um tudo, desde capado gordo até cesto trançado, farinha, fumo e cachaça. Pois foi nessa feira que deram para implicar com um brasileiro de Icó, um Zé de tal e Silva, bichinho manso e comedido, cristão temente e respeitador. Era todo paciência. Pois é. Viram assim, abusaram. Primeiro, quiseram proibir que vendesse porquinho de mês. O Zé atendeu. Depois arranjaram decreto contra um jabá dourado de gordo, no que o Zé foi de acordo e cumpriu a exigência de barraca asseada e direita. Mas foi então que ficaram na conclusão da fraqueza do brasileiro e pinicaram astúcias e abusos, de modo que o Zé trabalhava para a maior família de comilões das feiras do Norte e Nordeste, sem tirar Campina Grande e Caruaru.
Foi uma vez, o Zé recusou uma taxa extra, parece que destinada a capitalizar um aniversário. Os donos quase deixam bicheira no lombo do Zé. Ele só disse uma coisa: “Não me zanguem, gente!” O pessoal riu. E nessa ronda de alegria, folgaram bem largo. Até que bateram o facão na barraca de Zé.
– Que é isso, gente? – Zé indagou.
– Acabou, homem de Icó – diziam os herodes. E estavam em grande farra, tudo de dente como andor de procissão. – Vai embora, homem de Icó.
– Vou não – disse o Zé.
Já falava um outro Zé, brasileiro magrinho, corzinha de enxofre, mão de trabalho e respeito, uns olhos que não diziam dois enganos.
– Eh, macho de pingo, vai logo obedecendo.
Iam ameaçando com as armas erguidas.
– Não me zanguem, gente – pedia o Zé de tal e Silva. E se via que rezava – Por Deus e a Virgem, não me zanguem.
– Sai para o lixo, cabra.
Nessas vozes, feriram Zé na altura do ombro, lá nele, bem aqui. E eram cinco. Daí, o Zé virou.
– Tou zangado, gente – foi um grito só.
Quando viram a besteira, Zé estava de faca e fuzil, já esfaqueara doi, matara outros três de bala, e agora parecia bicho, manchado de sangue, dando berros e gritando nomes, e ia avançando no povo, não via pai, não via mãe, nem mulher, nem criança. Os de paz, solicitavam paz, mas o Zé virava a mão de morte. Foi um esperdício: matou dez. Tão vendo? É, meu senhor, é como eu digo: brasileiro zangado é diferente.

* Historiador e ficcionista. É professor emérito da Ufba e membro da Academia de Letras da Bahia. O texto acima figura no seu livro Homem deitado na rede (Rio de Janeiro: Organização Simões, Ltda, 1969). Publicado, portanto, durante a ditadura militar, logo após o AI-5. O texto foi postado por seu filho Luis Guilherme Pontes Tavares (
lulapt@svn.com.br), que é colaborador regular deste site há algum tempo. Ele distingue “O brasileiro zangado” como uma advertência muito séria.

domingo, 13 de setembro de 2009

Yes, We Can

TELEANÁLISE

Sentinela - Malu Fontes*

Sim, nós podemos. Podemos, aqui, promover e assistir barbáries iguaizinhas às das grandes metrópoles. Como se espera do caos quando o ordenamento social não contempla as demandas que explodem aqui e acolá, as cenas que há duas semanas impuseram-se nas ruas de Heliópolis, a maior favela de São Paulo, ganharam versão local desde o fim de semana, em bairros da periferia e do centro de Salvador. Ônibus queimados, módulos policiais bombardeados e policiais atacados foram o contraponto dissonante para a Bahia festeira que já começava a sacolejar-se sob o som dos tambores do Olodum e da animação de Galvão Bueno diante da presença da seleção brasileira de futebol na cidade.

O roteiro das cenas daqui parece ter pontos ainda mais negativos. Afinal, os incêndios e quebra-quebras paulistanos alegavam como motivo o assassinato real, pela Polícia, de uma estudante inocente, que deixou órfã uma filha. Aqui, o motivo, real ou não (dificilmente se saberá), teria sido a transferência de um traficante de uma prisão de Salvador para um presídio federal de segurança máxima, no Mato Grosso do Sul. A Secretaria de Segurança Pública anunciou imediatamente que a ação criminosa era uma manifestação dos bandidos reagindo à eficiência e ao combate da Polícia ao tráfico. As imagens de um cobrador de ônibus com os braços completamente queimados são, no entanto, difíceis de serem digeridas como tradução de qualquer forma de eficiência.

MALAS - Mas, enquanto as imagens e manchetes dos jornais impressos de Salvador exibiam cenários do inferno, acessíveis na Internet desde as primeiras horas da manhã de terça-feira, o telejornal de maior audiência da cidade, quem sabe numa tentativa de adotar a filosofia de não falar logo da morte do gato, mas da subida ao telhado, abriu sua edição com um tipo de informação sem a qual o telespectador que gosta de informação não poderia viver. A notícia de abertura do Jornal da Manhã (TV Bahia/Globo) foi nada menos que as centenas de pessoas de caras amassadas, despenteadas e sonolentas que desembarcavam na Rodoviária após o feriado.

Ante a comparação entre a relevância das manchetes disponíveis na Internet e a da interminavelmente longa matéria na TV sobre o retorno do feriado, o telespectador não poderia se furtar a uma pergunta impossível de ser respondida com os substantivos e adjetivos que merece: o que vai pela cabeça de um profissional de comunicação, responsável pela pauta do primeiro telejornal do dia da emissora de maior audiência da terceira capital do país, quando, numa cidade em clima de convulsão social, exporta uma repórter para a Rodoviária para ouvir trocentas pessoas que não têm nada a dizer sobre coisa alguma? Em determinado ponto das entrevistas, todas feitas à queima-roupa, quando o povo descia dos ônibus, configurou-se ainda mais nítido o pesadelo telejornalístico matinal oco. A repórter queria porque queria saber por que as pessoas desembarcavam com ‘tantas malas de uma viagem de apenas três dias’.

GALOS - Como o dia não estava mesmo para acerto profissional, o azar predominou nas entrevistas. Nove entre 10 dos entrevistados encurralados com câmera, luz, microfone, e até a mão da repórter, não estavam retornando de feriado algum. Havia quem vinha a Salvador para o jogo do Brasil e o mais comum e que só a TV não sabe: inúmeras pessoas que, sem estrutura de assistência médica em seus municípios, vêm para a capital de ônibus em busca de tratamento médico eletivo. O ministro Gilmar Mendes, se tiver pensado, além do cozinheiro, do açougueiro e outros eiros, em exemplos jornalísticos desse quilate, talvez tenha sido sensato quando julgou por bem atirar o diploma de jornalista na lata do lixo. Pior que isso, só mesmo ganhar a vida profissional como jornalista estimulando brigas estúpidas de vizinhos pobres em quadros de telejornais populares. Ou alguém é cara de pau o suficiente para justificar como o argumento do interesse público a transmissão televisiva quase cotidiana de briga de vizinhos de periferia? Por que não vão aos edifícios de luxo da Vitória, do Horto, do Itaigara e bairros afins fazer matérias sobre os barracos causados por madames e senhores que não pagam o condomínio há anos ou ignoram vazamentos sobre o apartamento de baixo? Considerando-se a viralatice desse tipo de jornalismo, não passariam sequer perto dos portões de entrada. Mostrar marias das couves desdentadas e descabeladas brigando no quintal é coisa bem pior que colocar cachorros ou galos de briga para se estropiarem. E não custa lembrar que, por promover briga de galo, o premiado, poderoso e milionário Duda Mendonça acabou preso. E para quem promove briga de desdentadas, nada?

Yes, we can. Podemos, em Salvador, afundar mais na lama, tanto vendo surtos de convulsão social, supostamente promovidos pelo banditismo por causa de um traficante grandão exportado para a cadeia de outro estado, como nos assombrar vendo, em um dia absurdamente incomum para a rotina social da cidade, que os pauteiros da principal emissora de TV consideram que o telespectador tenha interesse em saber que diabos uma senhorinha que cruza o estado em busca de uma consulta médica tanto carrega em sua malinha.

*Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado em 13 de Setembro de 2009. maluzes@gmail.com

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Imprensa negra na Bahia

Sentinela - Luis Guilherme Pontes Tavares*

Um dos méritos do livro As associações dos homens de cor e a imprensa negra paulista. Movimentos negros, cultura e política no Brasil republicano (1915 a 1945), do professor doutor Antônio Liberac Cardoso Simões Pires, é a fidelidade aos fatos. Trata-se de uma publicação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros do Tocantins – Neab – da Fundação Universidade Federal do Tocantis lançada em 2006. O professor Liberac, como ele é mais conhecido, informa, por exemplo, que os movimentos negros no Brasil continuam sem a relevância pretendida porque falta união entre os militantes.

O autor, agora professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB – em Cachoeira, encerra o livro com estas recomendações: “Necessitamos entender melhor as relações nacionais e internacionais entre grupos de negros; desenvolver pesquisas comparativas entre os países da diáspora negra nas Américas; procurar de descobrir as relações entre os movimentos negros brasileiros e os norte-americanos na primeira metade do século XX para entender as possíveis influências das experiências das associações de homens de cor nas lutas pelos direitos civis dos negros norte-americanos na segunda metade do século XX”.

O professor Liberac conclui, após as considerações acima, com a seguinte reflexão: “Talvez possamos responder também o porquê de não conseguirmos unificar os movimentos negros na diáspora, em defesa dos negros cubanos que vivem os efeitos sociais das lutas políticas. Enfim, acredito que o entendimento de como se deram os processos históricos envolvendo indivíduos pertencentes a um conjunto de comunidades negras da diáspora africana vai nos ajudar a organizar uma agenda comum contra a descriminação racial nas Américas”.

O livro do professor Liberac foi sugerido pela historiadora Wlamyra Alburquerque, autora de O jogo da dissimulação (São Paulo: Cia. Das Letras, 2009) devido o interesse que demonstramos a respeito da imprensa negra, em especial da imprensa negra na Bahia. Esse interesse tem relação com o nosso compromisso com o estudo da história da imprensa baiana, que vejo aumentar desde 1988. O livro do professor Liberac examina alguns títulos de periódicos da imprensa negra paulista da primeira metade do século XX.

Sobre a imprensa negra baiana, por sua vez, desconhece-se qualquer trabalho a respeito. Sequer há um trabalho famoso sobre a imprensa abolicionista baiana. De modo que enxergo a profunda pobreza bibliográfica sobre o tema, e, porque a diminui, louve-se o esforço do Núcleo de Estudos da História dos Impressos da Bahia – Nehib –, sobretudo pela Coleção Cipriano Barata, iniciada em 2005, de natureza interinstitucional e dedicada a estudos sobre a imprensa baiana, cuja logomarca já figura em seis volumes.1

A propósito da imprensa negra na Bahia há, em gestação, a montagem de evento que será realizado em 2010, como parte da programação dos 80 anos da Associação Bahiana de Imprensa – ABI –. Além do professor Liberac, serão convidados o professor Sílvio Roberto Oliveira, da Uneb, cujos estudos sobre o poeta e jornalista Luiz Gama (1830-1882) tornam mais claras as contribuições desse baiano às letras nacionais; o empresário André Nascimento e os jornalistas Ana Alakija e Luis Augusto Santos (L.A.), que estiveram juntos na condução e realização do jornal Afro-Brasil, que circulou na década de 1980 em Salvador; a professora Ana Célia Silva, da Uneb, que estudou e continua estudando o preconceito entranhado nos livros didáticos brasileiros; o professor Jayme Sodré, colaborador de A Tarde e dedicado às pesquisas sobre a cultura afro-brasileira, dentre outros. Será sentida a ausência de Jonathas Nascimento, morto recentemente, cujo depoimento sobre o Boletim do MNU (Movimento Negro Unificado) seria valioso e, portanto, indispensável.

No primeiro semestre deste ano, no Centro Universitário da Bahia-FIB/Estácio, a imprensa negra da Bahia foi o tema da disciplina Tópicos Especiais em Jornalismo e a oportunidade se constituiu em ensaio do que poderá ser o evento do próximo ano na ABI. A iniciativa teve o duplo propósito de introduzir na turma a discussão sobre a imprensa negra e animá-la – e aos demais alunos concluintes – a eleger o tema como objeto do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.

O desafio está lançado.

* Jornalista, produtor editorial e professor universitário. lulapt@svn.com.br

1 Apontamentos para a história da imprensa na Bahia (Salvador: Academia de Letras da Bahia; Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, 2005); A primeira gazeta da Bahia: Idade d'Ouro do Brazil, de Maria Beatriz Nizza da Silva (2. ed. Salvador: Academia de Letras da Bahia; Assembléia Legislativa do Estado da Bahia; Editora da Universidade Federal da Bahia, 2005); ARTHUR AREZIO DA FONSECA, de LUIS GUILHERME PONTES (Salvador: Egba, 2005); Anais da imprensa da Bahia, de João Nepomuceno Torres e Alfredo de Carvalho (Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 2006); Apontamentos para a história da imprensa da Bahia (2. ed. Salvador: Egba, 2007) e Memória da imprensa contemporânea da Bahia, organizado por Sérgio Mattos (Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 2008).

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O fio e o poder da TV

TELEANÁLISE


*Sentinela - Malu Fontes

Nas duas últimas semanas, não apenas os telespectadores dos programas populares, mas também leitores de jornais, sites e blogs de Salvador, tiveram sua atenção voltada para um episódio insólito e tradutor da falta de sentido de polêmicas tão fabricadas quanto vulgares. O centro das atenções foi a professora do ensino infantil cujas imagens, encenando uma coreografia que, na melhor das hipóteses, pode ser descrita como masturbação anal, mediante o puxa e repuxa de uma calcinha fio dental, foram capturadas por câmaras de celulares em um show de pagode. Nas cenas, que como quaisquer imagens nos dias atuais foram parar no YouTube, a professora está sobre um palco, diante de centenas de pessoas, co-estrelando a coreografia nada inocente, ao lado do vocalista de um grupo de pagode cujos hits mais apreciados por seu público contêm refrões do quilate de ‘a piriguete anda com o fio só todo enfiado’ e ‘eu quero tudo até o talo’.

A moça, alguns dias após a participação no show que culminou com a postagem das imagens na Internet, acabou tendo que abrir mão do emprego em uma escola privada de pequeno porte. Segundo o dono do estabelecimento, a demissão se deu mediante um acordo amigável, fato ocorrido há mais de um mês, sem qualquer repercussão imediata. Entretanto, de repente, quando as tais imagens já circulavam na Internet há tempos, o assunto, sabe-se lá pela mão de quem, chegou às primeiras páginas dos jornais e tornou-se pauta bate-estaca no programas populares de TV. O show grotesco foi completo e continua em cartaz, com direito à moça, agora guindada à categoria de celebridade instantânea, desembarcando na porta de estúdios de TV enrolada na bandeira brasileira.

(AB)USO - A polêmica em torno do assunto não poderia ser mais tosca. De um lado, apresentadores de TV bancando os amiguinhos da moça, manifestam solidariedade e argumentam, hipocritamente, que ninguém tem nada a ver com o que uma professora faz ou deixa de fazer em suas horas de lazer e diversão, em sua vida privada. Dizem que a moça é vítima da exploração de sua imagem, que estava apenas divertindo-se e que demiti-la é uma manifestação pseudo-moralista.

Enquanto a defendem, claro, tais apresentadores e seus repórteres repetem e repetem as cenas extraídas da Internet, promovendo, assim, por vias nem um pouco subliminares, mais e mais o desgaste e a vulgarização da imagem e da identidade daquela que contraditoriamente consideram vítima. Ela, por sua vez, diante do limão, já ensaia a limonada: anuncia processo judicial indenizatório contra o YouTube, alegando (ab)uso indevido e veiculação não autorizada de sua imagem. Embora ainda meio desconcertada, já insinua considerar convites para ‘dançar’ ou posar sem roupa. Especula-se, inclusive, a sua participação em atrações televisiva locais e nacionais de temáticas que têm com o repertório imagético e musical que a trouxe para a boca da cena televisiva uma afinidade do tipo a mão e

PROFUNDIDADE - A primeira aparição pública da professora em grande foi a ida a um estádio de futebol no último final de semana, para experimentar, sem filtros, a fama instantânea. Diz-se que a experiência não foi das mais agradáveis. Quem estava lá e não é surdo pôde ouvir palavrões e níveis abissais de manifestações misóginas dirigidos à estrela da hora. O repertório usado pelos fãs recém-conquistados tem tudo a ver com a natureza da performance que a promoveu ao mundo das celebridades de terceira linha.

Um outro segmento do ‘seu público’, o que insiste na tese que a demissão da escola é um ato de falso moralismo, é bom também não perder de vista que algumas profissões e carreiras exigem, sim, a manutenção pública de comportamentos um tantinho mais cuidadosos. Do mesmo modo que em sociedade alguma será considerado natural que juízes, independentemente de serem homens ou mulheres, sejam vistos enchendo a cara em bares e casas noturnas em seus horários de lazer, não há papai nem mamãe que ache engraçadinho o fato de a professora de seus pimpolhos aprendendo a ler suba a um palco após uns goros, deixe um vocalista enfiar a mão sob sua roupa, tocando eroticamente a bunda e puxando e esticando de lá, tal qual faria com uma borracha de estilingue, o fio dental de calcinha durante uma coreografia, Dezenas de donos de celulares com câmeras ficaram a postos e disponibilizaram as imagens na rede mundial de computadores.

Parte do público subestima o poder, não exatamente para o bem, da televisão. Ao lançar mão de uma imagem real e usá-la para falar da falsa moralidade de quem condena a professora por divertir-se encenando em seu corpo o ato ‘todo enfiado’, o que a TV quer e faz é potencializar o escândalo e exacerbar a condenação moral da moça ao repetir sua imagem. Quando quer, o veículo faz as vezes de juiz e polícia. Que o diga Belchior. Embora seja um direito de qualquer pessoa sumir no mundo, se assim o quiser, deixando tudo para trás, o Fantástico se imbuiu do poder de caçá-lo como um criminoso, um foragido da polícia (o que não era), até achá-lo e exibi-lo ridicularizado e sem privacidade. A profundidade com que a TV entra na vida de quem ela transforma em personagem e o arranha é compatível com a mesma com o que o fio da roupa íntima arranhou a professora.

*Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado em 06 de Setembro de 2009. maluzes@gmail.com

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Novas tendências do Jornalismo: bate-papo com Bella Palomo


Maísa Carvalho Amaral e Antonio Nelson*



Com a crise econômica mundial, apostar no novo e até mesmo no desconhecido tem sido uma das ferramentas fundamentais para driblar as consequências que a mesma vem causando no setor de Comunicação, principalmente quando se trata de jornal impresso. A professora, doutora da Universidade de Málaga-Espanha, Bella Palomo, em passagem por Salvador-Ba, trouxe exemplos de alguns modelos de inovações, utilizados na Europa, que estão sendo aplicados pela impressa, com intuito de superar a crise. A internet está sendo a chave mestra através de sites, blogs, twiter, entre outros.



No Brasil, não diferente dos demais países, o papel está sendo um dos rivais dos jornais impressos, pois teve um grande aumento, o que acarretou em demissões maciças e fechamentos de jornais que não tiveram condições de arcar com os gastos. De acordo com a professora, na Espanha não foi diferente. “Muitos jornalistas foram demitidos e o jornal impresso foi bastante abalado”.



O acesso a internet na Europa é realizado de forma democrática, o que possibilita a todos a conectividade com o meio digital. “O acesso é facilitado pela aquisição de computador. Um estudante, por exemplo, pode comprar um bom computador e pagar em cinco anos com prestações mensais de R$ 50. Esse valor possibilita que o mesmo possa adquiri também impressora, wi-fi, pode também comprar outros utensílios. Beneficia também outras pessoas e as empresas”, destaca Palomo.



Quando o assunto é a possibilidade de um dia os jornais impressos serem distribuídos gratuitamente, como já ocorre em alguns países, Palomo enfatiza que “na Espanha já temos alguns jornais distribuídos gratuitamente. A falta de publicidade é um elemento que contribui para isso. Nesse momento, os jornais impressos estão em estado de fracasso.”



A substituição dos jornais impressos pelo digital vem ganhando espaço, de acordo com a professora, pois o limite de páginas deixa de existir. “Já temos experiências desse tipo em alguns lugares, como nos Estados Unidos. Um sistema que vem sendo adotado por algumas empresas para conseguir superar a crise financeira. Acredito que a Espanha siga o mesmo caminho. Com certeza será uma tendência mundial explorar o meio digital.”



Ao ser questionada se a internet seria a salvação para o Jornalismo, ela salientou que “não seria a salvação. O que é necessário é modificar, inovar. A internet é uma das formas de fazer o Jornalismo, mas não a solução para todos os problemas da área.”


*Maísa Carvalho Amaral e Antonio Nelson Lopes Pereira são da equipe do Sentinelas da Liberdade.
Megapixels: Antonio Nelson

sábado, 5 de setembro de 2009

Pré-macacos e bobalhões alegres

Coluna Retratos do Brasil: Sentinela - Luiz Eladio Humbert*

O festival de besteira e o festival de sujeira que assolam o país são promovidos por duas espécies muito peculiares do gênero humano, cuja natureza específica é vir ao mundo para sujá-lo e corrompê-lo: os pré-macacos e os bobalhões alegres, ambos subprodutos do capitalismo.

Bobalhões alegres são pessoas cheias de si mesmas, que se imaginam os instruídos donos da verdade e inatingíveis beneficiários da impunidade. Essa categoria social tem forte atração pela política e pelo meio empresarial.

Bobalhões alegres, comedores das migalhas do banquete dos ricos, e muitos deles também se achando ricos, porque, eventualmente, também superfaturam bens e serviços para o governo, costumam estufar o peito e propalar a supremacia brasileira no que se refere ao clima, recursos naturais, extensão territorial, para concluir que se em vez desse bando de mestiço preguiçoso, fosse o país livre do MST e povoado por japoneses, chineses, alemães e americanos, o Brasil seria a maior potência econômica e militar do planeta.

Um belo dia de festa, um desses bobalhões alegres aproximou-se de Ariano Suassuna, pavoneou-se ajustando a gravata, e disparou essa diatribe ao povo brasileiro. O mestre então perguntou ao ilustre interlocutor qual o povo no mundo que consegue, com tamanha coragem e dignidade, enfrentar e sobreviver às secas, às enchentes, à total falta de recursos, desassistidos pelo Estado, iludido, humilhado e explorado por políticos, e apesar de tudo isso, ser capaz de criar a arte pujante que o povo brasileiro produz.

Prosseguindo nas suas considerações sobre a realidade brasileira, o mestre Suassuna indagou: que arte a elite brasileira cria? Que produtos, que patentes, que tecnologia, que pesquisa ou trabalho acadêmico relevante a classe dominante, a conservadora elite econômica e social do Brasil foi capaz de oferecer ao mundo, desde 1500?

Na ausência de resposta, o mestre Suassuna concluiu: a nossa miséria se deve às elites, meu filho, aos bobalhões alegres, e não ao povo brasileiro.

Como sabemos, os donos do mundo, num encontro dos superbilionários bobos e alegres mundiais, ocorrido na Califórnia, no final do século passado, compreenderam que apenas 20% da população do planeta é bastante para produzir tudo que esses 20% necessitam para viver com luxo e conforto.

Consequentemente, os 80% restantes estão implícita ou explicitamente excluídos da sociedade capitalista. Porém todos esses excluídos consentem em ser excluído e espoliado e muitos deles votam nos representantes das classes dominantes, que são vendidos aos tolos como produtos de consumo, em caríssimas campanhas publicitárias, com logomarcas, jingles, e tudo mais, para compor o teatro da democracia do neoliberalismo.

Pré-macacos, os explicitamente excluídos, frutos de toda sociedade injusta e desigual, são isso que podemos chamar de xereré de gafieira, de resto de fim de feira, de pau queimado de fogueira. Estão alojados no subsolo da exclusão social, vivendo de biscate, ou de pequenos furtos, habitando o lixo com os ratos e as baratas, apanhando indiscriminadamente da polícia, acumulando revolta e votando em político safado, em troca de um par de chinelo.

Chamá-los de macacos seria ofender os primatas, que não mijam, nem cagam no caminho por onde andam, como fazem os pré-macacos, e também é bom lembrar que macacos não votam.

Todos, os instruídos, os quase instruídos e mesmo aqueles sem instrução sabem que duas máfias poderosas comandam as prefeituras das grandes cidades, concorrendo com as demais variantes do crime organizado, que manda e desmanda no país: as máfias do transporte coletivo de passageiros e a da coleta de lixo urbano.

Elas elegem representantes no parlamento, remuneram formadores de opinião, e matam prefeitos não alinhados. Todos sabemos, menos os bobalhões alegres que elegemos, que essas máfias superfaturam tarifas e serviços e, ainda por cima, cantam miséria, exigindo mais subsídio do governo.

Por essa razão, até hoje, os meios urbanos de transporte coletivo são mais miseráveis do que os caminhões de transporte de gado e ainda não possuem memória fiscal nas catracas. Assim, fica fácil desviar receita para o caixa dois, em contas bancárias de laranjas, e violar o artigo primeiro do Estatuto do Idoso, que define idoso como pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.

Sou um idoso legal, ando de ônibus e, na minha idade, não me conformo em ainda ter que pagar muito caro para usar esses paus-de-arara.

Enquanto os bobalhões alegres fingem que governam, os pré-macacos sujam a cidade.

* Luiz Eladio Humbert (lalado) é colunista do Sentinelas da Liberdade.
Os artigos assinados não represemtam necessáriamente a opinião do Sentinelas da Liberdade. São da inteira responsabilidade dos signatários. Sentinelas da Liberdade é uma tribuna livre, acessível a todos os interessados.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Entrevista: Francisco Karam Fala sobre Ética Jornalística


Antonio Nelson, Luiz Eladio e Maísa Amaral*



O jornalista e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Dr. Francisco José Castilhos Karam, falou com exclusividade sobre a Ética Jornalística Brasileira e os veículos de comunicação digital, para o Sentinelas da Liberdade. Confira a entrevista:

Maísa Amaral - Sob o olhar da ética até que ponto o jornalismo contribui para a memória social?

Francisco Karam – Se ele cumprir os determinados princípios dos quais ele se avora, como o da transparência ao ambiente público, aos poderes e aos diversos campos do saber, ele contribui de forma continuada para o registro do presente, logo tem algum grau de contribuição para a memória social. Tanto que a própria história, seguidamente, pesquisa nos arquivos jornalísticos para suas críticas em relação a eventuais eventos, mas também acaba validando o jornalismo como uma referência para a memória do presente. Por isso que o jornalismo tem tanto compromisso com a diversidade, com os diferentes atores. Ele pode contribuir para memória, mas depende se ele é bem feito e se cumpri o ideal da igualdade.

Antonio Nelson - Como o senhor avalia o jornalismo baiano?

Francisco karam – Eu não tenho acompanhado o jornalismo baiano, mas acredito que deve seguir o padrão geral do jornalismo brasileiro, que tenta ser profissional, mas que ao mesmo tempo tem certo tipo de constrangimento, de ordens interacional, biológica, política, isso voltado para a imprensa de mais referência, mais pública.A

Maísa Amaral- Quais as posturas mais antiéticas cometidas pelas grandes empresas de comunicação brasileira com relação ao profissional e a veiculação da informação?

Francisco Karam - Acredito que os grandes deslizes são aqueles que são guardados como grandes segredos, são os interesses particulares pautados como pauta de interesse público, mas que na verdade esconde interesses particulares ou não são tratados jornalisticamente ou são tratados desde um enfoque que proteja mais a particularidade do interesse e não proteja tanto os valores do interesse público. Então nesse caso é que eu acho que não são profissionais.

Antonio Nelson - No último seminário da Petrobrás, o qual contou com sua participação, cujo tema foi “A Ética nas Organizações Empresariais”, o senhor mencionou que as empresas agem pior do que Stálin e Hitler. Poderia explicar melhor essa afirmativa?

Francisco Karam - Eu acredito que tenha me expressado mal, por dizer que agem pior do que Stálin e Hitler, mas elas são muito autoritárias e eventualmente racistas no seguinte aspecto: recortes da realidade. O que é de interesse público acaba sendo feito sob um olhar. O modelo de realidade tem que se adequar a um projeto editorial, não assumindo uma particularidade, na qual todos devem ver o mundo sob esse olhar. Esse autoritarismo é um problema. Reconheço que tem muita coisa boa no ramo jornalístico, mas é claro que quando chega o interesse apesar da grande mídia tratar de todos os aspectos da vida pública, a coisa cai, ou vira segredo ou então é pouco tratada. Esse é um problema que eu vejo bastante no jornalismo de mídia geral.

Antonio Nelson – Como o senhor avalia a atuação dos programas popularescos no rádio, impresso e TV?

Francisco karam – Teria que analisar caso a caso. Tem programas que tem certa finalidade de envolver o público, em função de algum tema. A grande parte dos programas popularescos que eu vejo tem uma visão de rentabilidade econômica e não de responsabilidade social. Banalizam o processo de informação e conhecimento, transformam a informação mais em espetáculo do que em conhecimento. Esse é o problema em uma sociedade que está pautada basicamente pela informação, principalmente pela televisão, pouco pela internet e pela mídia impressa. Aqui no Brasil há uma preponderância da imagem muito forte, diferente de alguns países, que tem a mídia impressa como a maior propagadora de informação. O critério de audiência vem comprometendo a informação jornalística.

Antonio Nelson - Com o surgimento de novos veículos de informação: internet, twiter, sites e blogs, o senhor acredita no fim do jornal impresso?


Francisco Karam - Eu acho que não, porque o impresso está voltado para um processo de codificação da verdade, tem certos nichos diferentes de público. As novas gerações buscam a internet, deixando de lado o impresso. Então o jornal impresso tem que ser mais atual, buscar novas estratégias. É por isso que têm ocorrido muitas discussões.

Maísa Amaral - Qual o conselho que o senhor dá para quem busca informação fidedigna?


Francisco Karam – O público primeiro tem que ter acesso à informação, para que se possa estabelecer comparações. Pegar jornais diários, visitar sites, entre outros veículos de informação. Uma possibilidade de comparar as coberturas é analisando o texto veiculado, os interesses e a vontade política do veículo. Tem que avaliar o processo de construção da formação, da escolha da fonte, todo esse processo de veículo.

Luiz Humbert - Qual a sua avaliação sob blogs jornalísticos?

Francisco Karam – Esse tipo de veículo vem crescendo. Devemos verificar a credibilidade, e quando o mesmo se propõe a ter seriedade, verdade e construção da linguagem. Tem blogs que se dedicam ao jornalismo e outros são impressões do mundo, que não tem o compromisso com a forma de relatar.

Quinta-feira,26 de agosto de 2009 às 14:30h na Faculdade de Comunicação (FACOM), da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
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Foto : Antonio Nelson

*Maísa Amaral é jornalista.
*Luiz Eládio é poeta, escritor, funcionário público e jornalista.



quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Silvério Pessoa canta para o mundo - música pernambucana

Globalização: A metástase do capitalismo


Sentinela – Luiz Humbert*

O mercado é global desde os primórdios das civilizações.

Muito antes de Marco Polo, dos fenícios, dos gregos, dos árabes, dos cartagineses, dos romanos e dos ingleses, o mercado é global. A globalização surgiu com o ser humano.

Mas quando a palavra globalização passou a ser intensamente inoculada no inconsciente coletivo pela mídia patronal, John Kenneth Galbraith, o grande pensador norte americano da atualidade, afirmou que globalização é apenas um novo nome para a velha prática imperialista das nações ricas controlarem a economia, a política, as forças armadas e a corrompida e incompetente classe dominante dos países pobres.

A diferença prática é que agora esse controle é ilimitado, porque todas as nações do planeta perderam a sua soberania e são governadas, de fato, pelas grandes corporações capitalistas transnacionais. Os avassaladores avanços tecnológicos da atualidade tornam quase instantâneas as operações financeiras globais interbancárias e as transmissões de dados e de imagens via satélite, para uma rede mundial de computadores e televisão. Graças à excitada colaboração da mídia patronal global, o controle total do mundo é apenas mais um espetáculo oferecido por eles á humanidade.

Com o fim do Capitalismo de Estado na Europa, em novembro de 1989, os vírus do liberalismo econômico e do individualismo competitivo das revoluções burguesas do pós feudalismo - já libertos de sua histórica barreira marxista - se transformaram no câncer incurável do capitalismo atual, soberano predador da humanidade e do seu meio ambiente.

Aliás, o mês de novembro de 1989 é um marco na história do capitalismo global. Nesse mês ocorreram dois fatos cruciais para a humanidade: a queda do muro de Berlim, simbolizando o fim da resistência armada e organizada ao terrorismo do capital e as deliberações planetárias do Consenso de Washington.

Mas o começo desse processo de transformação do vírus em câncer deu-se em novembro de 1963, quando as indústrias bélicas e petrolíferas norte americanas assumiram, de fato, o governo da maior potencia econômica e militar do planeta, com o golpe de estado que assassinou o presidente Kennedy e acabou com a soberania política do povo ianque.

Graças ao elevado grau de incompetência, de degradação moral e de submissão política e econômica das forças armadas e das classes dominantes no Brasil, no Chile, na Argentina, no Peru, na Bolívia e no Paraguai, essas republiquetas foram as primeiras vítimas da nova política de estado das grandes corporações capitalistas, que derrubou regimes democraticamente eleitos, para decretar pela força militar o fim do compromisso social, econômico e cultural das empresas privadas com as populações desses países.

Com as sangrentas ditaduras latino americanas do meado do século passado, os trabalhadores desses países perderam a estabilidade no emprego, ganhando insegurança e desespero para o resto da vida, vivendo sem perspectivas de trabalho estável e de emprego também para seus filhos, desagregando a família, sem o direito de viver e envelhecer com dignidade.

Além desse direito humano fundamental, os trabalhadores foram despojados de suas históricas conquistas trabalhistas e sofreram o pior arrocho salarial já imposto pela iniciativa privada, com o afrouxamento das leis do trabalho.

A população desses países também foi penalizada com a redução dos gastos públicos diretos para o povo e com o consequente aumento de gastos públicos para obras superfaturadas.

Reformas tributárias impuseram rígida disciplina fiscal, para garantir, entre outras benesses ao capitalismo, o pagamento prioritário das dívidas públicas à agiotagem internacional.

Depois, sempre para privilegiar o pequeno capital privado nacional e o majoritário capital estrangeiro, foram implementadas as seguintes ações espoliativas: abertura comercial só nos países subdesenvolvidos, com eliminação de restrições ao investimento estrangeiro direto, especialmente quanto à remessa de lucros e royalties ao exterior, eliminação de subsídios agrícolas e quebra de barreiras alfandegárias protecionistas; juros e câmbio ditados pelo mercado e privatização das estatais, inclusive as consideradas de segurança nacional.

Comprovado o sucesso capitalista dessas medidas políticas extremas e a restrita e facilmente eliminada reação popular nesses países latino americanos de terceira classe, o Consenso de Washington resolveu estende-las aos países da Europa e dos outros continentes, a partir de novembro de 1989.

Por fim, reunidos no Fairmont Hotel de São Francisco, na Califórnia, nos idos de 1995, os superbilionários do planeta, os verdadeiros donos do mundo, complementaram a divisão da terra entre eles, estabelecendo as suas respectivas áreas de domínio.

Em diversos emocionados depoimentos, lá ficou comprovado que, graças á mecatrônica e a outros avanços tecnológicos, 20% da população dos países desenvolvidos é capaz de produzir tudo que esses 20% melhor aquinhoado necessita.

Portanto, o resto da humanidade veio ao mundo somente para viver de biscate, morrer de fome, de doença ou de uma bala perdida.

È isso, é precisamente isso, é essa tragédia humana que os sonâmbulos globais assistem passivamente pelo mundo afora.

Diante desse triste quadro social global, surge a comunidade musical GRAMPO (grupo musical de apoio á mobilização popular), para acordar, com música e poesia consciente, os 80% de sonâmbulos brasileiros, propondo sua união em comunidades sustentáveis e auto-suficientes, como fez o visionário Antonio Conselheiro em Canudos, mostrando aos ambiciosos, aos apáticos, aos egoístas e aos conformados, que justiça, liberdade, igualdade e fraternidade podem não ser utopia.
* Luiz Humbert é colunista do Sentinelas da Liberdade.
Os artigos assinados não representam necessáriamente a opinião do Sentinelas da Liberdade. São da inteira responsabilidade dos signatários. Sentinelas da Liberdade é uma tribuna livre, acessível a todos os interessados.