sábado, 5 de setembro de 2009

Pré-macacos e bobalhões alegres

Coluna Retratos do Brasil: Sentinela - Luiz Eladio Humbert*

O festival de besteira e o festival de sujeira que assolam o país são promovidos por duas espécies muito peculiares do gênero humano, cuja natureza específica é vir ao mundo para sujá-lo e corrompê-lo: os pré-macacos e os bobalhões alegres, ambos subprodutos do capitalismo.

Bobalhões alegres são pessoas cheias de si mesmas, que se imaginam os instruídos donos da verdade e inatingíveis beneficiários da impunidade. Essa categoria social tem forte atração pela política e pelo meio empresarial.

Bobalhões alegres, comedores das migalhas do banquete dos ricos, e muitos deles também se achando ricos, porque, eventualmente, também superfaturam bens e serviços para o governo, costumam estufar o peito e propalar a supremacia brasileira no que se refere ao clima, recursos naturais, extensão territorial, para concluir que se em vez desse bando de mestiço preguiçoso, fosse o país livre do MST e povoado por japoneses, chineses, alemães e americanos, o Brasil seria a maior potência econômica e militar do planeta.

Um belo dia de festa, um desses bobalhões alegres aproximou-se de Ariano Suassuna, pavoneou-se ajustando a gravata, e disparou essa diatribe ao povo brasileiro. O mestre então perguntou ao ilustre interlocutor qual o povo no mundo que consegue, com tamanha coragem e dignidade, enfrentar e sobreviver às secas, às enchentes, à total falta de recursos, desassistidos pelo Estado, iludido, humilhado e explorado por políticos, e apesar de tudo isso, ser capaz de criar a arte pujante que o povo brasileiro produz.

Prosseguindo nas suas considerações sobre a realidade brasileira, o mestre Suassuna indagou: que arte a elite brasileira cria? Que produtos, que patentes, que tecnologia, que pesquisa ou trabalho acadêmico relevante a classe dominante, a conservadora elite econômica e social do Brasil foi capaz de oferecer ao mundo, desde 1500?

Na ausência de resposta, o mestre Suassuna concluiu: a nossa miséria se deve às elites, meu filho, aos bobalhões alegres, e não ao povo brasileiro.

Como sabemos, os donos do mundo, num encontro dos superbilionários bobos e alegres mundiais, ocorrido na Califórnia, no final do século passado, compreenderam que apenas 20% da população do planeta é bastante para produzir tudo que esses 20% necessitam para viver com luxo e conforto.

Consequentemente, os 80% restantes estão implícita ou explicitamente excluídos da sociedade capitalista. Porém todos esses excluídos consentem em ser excluído e espoliado e muitos deles votam nos representantes das classes dominantes, que são vendidos aos tolos como produtos de consumo, em caríssimas campanhas publicitárias, com logomarcas, jingles, e tudo mais, para compor o teatro da democracia do neoliberalismo.

Pré-macacos, os explicitamente excluídos, frutos de toda sociedade injusta e desigual, são isso que podemos chamar de xereré de gafieira, de resto de fim de feira, de pau queimado de fogueira. Estão alojados no subsolo da exclusão social, vivendo de biscate, ou de pequenos furtos, habitando o lixo com os ratos e as baratas, apanhando indiscriminadamente da polícia, acumulando revolta e votando em político safado, em troca de um par de chinelo.

Chamá-los de macacos seria ofender os primatas, que não mijam, nem cagam no caminho por onde andam, como fazem os pré-macacos, e também é bom lembrar que macacos não votam.

Todos, os instruídos, os quase instruídos e mesmo aqueles sem instrução sabem que duas máfias poderosas comandam as prefeituras das grandes cidades, concorrendo com as demais variantes do crime organizado, que manda e desmanda no país: as máfias do transporte coletivo de passageiros e a da coleta de lixo urbano.

Elas elegem representantes no parlamento, remuneram formadores de opinião, e matam prefeitos não alinhados. Todos sabemos, menos os bobalhões alegres que elegemos, que essas máfias superfaturam tarifas e serviços e, ainda por cima, cantam miséria, exigindo mais subsídio do governo.

Por essa razão, até hoje, os meios urbanos de transporte coletivo são mais miseráveis do que os caminhões de transporte de gado e ainda não possuem memória fiscal nas catracas. Assim, fica fácil desviar receita para o caixa dois, em contas bancárias de laranjas, e violar o artigo primeiro do Estatuto do Idoso, que define idoso como pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.

Sou um idoso legal, ando de ônibus e, na minha idade, não me conformo em ainda ter que pagar muito caro para usar esses paus-de-arara.

Enquanto os bobalhões alegres fingem que governam, os pré-macacos sujam a cidade.

* Luiz Eladio Humbert (lalado) é colunista do Sentinelas da Liberdade.
Os artigos assinados não represemtam necessáriamente a opinião do Sentinelas da Liberdade. São da inteira responsabilidade dos signatários. Sentinelas da Liberdade é uma tribuna livre, acessível a todos os interessados.

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