segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Teleanálise
Sentinela - Malu Fontes*

Esperta que só ela, Ana Maria Braga resolveu inaugurar seus dentões novos num período em que os olhos da mídia inteira estavam voltados ora para a fumaça ainda em torno do vestido da aluna da Uniban, ora para a politização, a arrogância e as trapalhadas das autoridades em torno do blecaute que deixou metade do país no escuro. Inspirada, não se sabe, se nos mordedores estreados um dia desses pelo ator Stênio Garcia, ou, quem sabe, acompanhando o que pode ser uma tendência dentária eqüina, pela proporção da verticalidade dos dentes, o fato é que o rosto da apresentadora ficou estranhíssimo.

sábado, 21 de novembro de 2009

Pinceladas de emoções


Por Alexandre Gondim*

O artista plástico Octaviano Moniz, 45 anos, também conhecido como Tatau, é um expoente da arte contemporânea na Bahia. Há cerca de vinte anos teve sua fase mais fervorosa de produção artística. Define sua arte como abstrata expressionista e atualmente flerta com os meios de produção digitais. Leia na íntegra: www.sentinelasdaliberdade.com.br

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Os convidados para a festa dos 200 anos da Imprensa na Bahia

Sentinela - Luis Guilherme Pontes Tavares*

Criei a expectativa em quatro pesquisadores europeus de que eles serão convidados para falar em Salvador durante as comemorações do bicentenário da imprensa na Bahia. A data maior – 14 de maio – cairá num sábado, quiçá ensolarado e fresco. Nesse dia, em 1811, o empresário de origem portuguesa Manuel Antonio da Silva Serva estreou o seu Idade d'Ouro do Brazil, o primeiro jornal impresso na então província da Bahia. É, sem dúvida, o fato maior daqueles dias em que ele inaugurou a indústria gráfica privada no Brasil.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Nós que amávamos tanto a Revolução

Teleanálise

Sentinela - Malu Fontes*

No ano e no período em que o mundo e suas emissoras de TV comemoram ininterruptamente com programas especiais os 40 anos do Festival de Woodstock e os 20 anos da queda do Muro de Berlim, a televisão brasileira foi forçada a abrir amplo espaço em sua grade, no telejornalismo e fora dele, para falar de uma reação medieval. Sim, em meio às duas festas ancoradas na idéia de liberdade e expressão dos direitos individuais, à troca de balas entre navios norte e sul-coreanos, às imagens da marcha de Jesus no Rio com Madona e ao apagão causado em 18 estados, nas capitais mais ricas do país e no Paraguai pela primeira pane plena na Usina de Itaipu, o fato é que o vestido curto pink da estudante de turismo Geisy Arruda foi o tema mais abordado na TV e na imprensa brasileira nos últimos dias. L
eia na íntegra: www.sentinelasdaliberdade.com.br

domingo, 15 de novembro de 2009

Ricardo Primata está entre os 30 melhores guitarristas do Brasil


Sentinela - Vanessa Correia*


Publicado no site HMB (Heavy Metal Brasil) uma lista com os 30 melhores guitarristas do Brasil, entre eles: Andreas Kisser, Armandinho, Eduardo Ardanuy, Frank Solari, Gustavo Guerra, Juninho Afram, Kiko Loureiro, Mozart Melo, Ricardo Primata, Wander Taffo...

Ricardo Primata foi um dos nossos entrevistados no mês passado (16/10) no lançamento do CD autoral Espelho da Alma. Confira a entrevista do guitarrista abaixo:



*Vanessa Correia é da equipe do Sentinelas.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ciência, Tecnologia e Sociedade

Uma histórica vocação reprimida (ou esquecida?) no povo brasileiro

Sentinela Frederik Santos*


Será que poderíamos selecionar os assuntos de maior interesse de uma sociedade através do espaço que seus meios de comunicação dão a determinados temas? Tal classificação refletiria o interesse social se tivéssemos veículos midiáticos realmente democráticos. Talvez a internet seja o espaço que mais se aproxime deste ideal, pois apesar de ser um espaço de controle, ainda não se tornou um espaço totalitário, e dificilmente um dia o será...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Caetano Veloso “endireita” língua-pátria

Por Dr. Marcos Luna*

Ainda nos meados do século XX, um filósofo declarara que o homem se definia de acordo às suas circunstâncias (Ortega-Gasset). Muito embora fosse ainda naquele período,redarguido que o mesmo homem teria direito às suas contradições pessoais (Sartre). Mormente nos dias de hoje, com a simultaneidade dos fatos socioculturais e a plêiade de reformas políticas nos países em construção, as manifestações de cidadãos comuns e de eventuais celebridades, não provocam assombro merecedor de censura ministerial pública ou de um vaticínio papal sacralizador dos bons costumes.

Nada obstante, cabem aqui alguns breves reparos ao poeta-cantor Caetano Veloso, quando vocifera sua verve preconceituosa contra o presidente Lula. Não cuido – e nem me cabe – de defender o político-estadista em sua performance no poder; outrossim, contextualizar o viés sociopolítico de uma artista em sua costumeira diatribe com “personas” e protagonistas da cena cotidiana brasileira, ou não.

“Minha pátria é minha língua...”, caberia ipis literis na retórica lulista, uma frase que aquele mesmo cantor reconstruíra numa de suas canções. Disse reconstruíra, posto que o cantor baiano – como de outras vezes – retomara em Fernando Pessoa aquela passagem literária. Não há qualquer pecado na falta de originalidade, afinal, quem há de negar o princípio “lavoisier” construtivo nas vidas humanas e na natureza? O político Lula, por sua vez, carece de ineditismo na sua prosopopéia e eloquência popularesca, inspirada no dialeto das ruas e nas discordâncias verbais do “populacho”, compatibilizado com as suas origens.

O acadêmico em semiologia sabe que um líder-nato de uma nação, um jogador de futebol, um cantor estrela, detêm o seu carisma, o talento congênito para a linguagem gestual, na sua verbalidade, na coerência de suas atitudes e na vivência em sua comunidade. Não me deixo convencer pelo argumento que justificaria a verborragia deselegante do poeta, doutro modo, bem ao talante da elite branca paulistana separatista, mas que se coadunaria com a busca de uma notoriedade perante uma improvável reação do presidente Lula um homem-ignorante, segundo o Caetano. “Fala como sábio a um ignorante, e este te dirá que tens pouco bom senso” (Eurípides).

Atribuo ao Caetano Veloso uma postura política conservadora e crítico de costume sociais, onde a clareza do seu lado político se perde no eclipse de suas belas melodias... que o consumismo capitalista (re) coloca sempre numa perspectiva de efemeridade. O homem-político por sua vez é portador de uma complexidade existencial, ademais quando ele advém de extratos sociais baseados em carências – de todos os moldes – históricos num país ainda marcado pela absurda concentração de riqueza e desigualdade de oportunidade para a maioria “dos filhos teus” – “... que fala errado, é grosseiro como o Lula...”- como declamou Caetano ao jornal o Estado de São Paulo.

Há lugar para todos e para tudo neste país, que nestes tempos pós-crise financeira, começa a superar o complexo de inferioridade perante os hegemônicos ocidentais. Então me permita resgatar o escritor Nelson Rodrigues: “... o brasileiro, sua elite em particular, tem o complexo de vira-lata: o que é bom e melhor vem de fora do país. “Falemos como os anglo-saxônicos e franceses e admiremos as suas pátrias!” Em tempo, o que tem acontecido com os bolsistas especialistas e doutorandos brasileiros quando tem que falar a língua dos “homens brancos de olhos azuis no exterior”? Aprendem que a sua pátria esta presente na sua capacidade de se comunicar com inteireza e autenticidade. Esta postura digna somente se alcança quando você conserva as raízes da sua cultura.

Não poderia concluir este breve comentário sem recomendar ao aludido poeta, a releitura de Patativa do Assaré. Este também um nordestino, pobre, ignorante e autodidata. Formalmente um brasileiro semi-analfabeto e inculto, pois não cursou o nível superior de Educação. Um poeta popular cearense com a fala e a escrita claudicante no português-língua-pátria. Um típico sertanejo, homem do povo brasileiro, um poeta de reconhecimento mundial.

*Marcos Luna é médico pós-graduado na Harvard University e pela UFBA. Luna é colaborador do Sentinelas da Liberdade doutor.luna@gmail.com

Zina, O Herói

Teleanálise

Sentinela - Malu Fontes*

O programa Pânico, que sempre tripudiou da privacidade de quem quer que um dia tenha tido 15 minutos de fama, resolveu dar lição de moral à população, ao resto da mídia e às autoridades públicas. Bastou um dos seus integrantes ser preso com cocaína para o programa de humor escrachado ficar seríssimo e bater pé contra o resto do mundo que divulgou ou consumiu a informação. Ora, não foi o Pânico que infernizou a vida da atriz Carolina Dieckmann e sua família, escalando até mesmo um edifício para filmá-la da varanda? Somente o impedimento judicial interrompeu o assédio.

O mesmo programa perseguiu o falecido Clodovil quase lhe causando um acidente de carro, com o propósito de fazê-lo calçar as tais sandálias da humildade. Uma unidade móvel da RedeTV fazia ponto em frente ao apartamento de Clodovil e em uma das investidas, exibida na TV, o programa usou um comboio de carros, um trio elétrico e um helicóptero para perseguir o costureiro no trânsito de São Paulo, com direito a fechadas em seu carro, tudo a pretexto de ridicularizá-lo e humilhá-lo.

Murro – É também o Pânico que chega com suas câmeras e repórteres engraçadinhos nas praias badaladas do Brasil e até de outros países para ridicularizar o corpo das mulheres que não se encaixam no padrão Playboy. Não foi à toa que um dos integrantes da equipe levou um murro na cara, desferido por Victor Fasano e que o programa foi alvo de uma carta de repúdio de Wagner Moura, outra vítima da trupe, atingido na cabeça por um gel melequento, atirado pela equipe do programa, ao sair de uma cerimônia de premiação.

Mas como o corporativismo de qualquer integrante da raça que atende pelo nome de televisiva é sempre disforme, o mesmo Pânico que se acha no direito de tripudiar da privacidade de todo mundo subiu nas tamancas de raiva quando a imprensa noticiou que sua mais nova aquisição, um esquisitão que atende pelo nome de Zina, fora preso com cocaína.

Holifyield – É mérito não saber quem é o sujeito. Trata-se de um desses indivíduos inadjetiváveis que ficam famosos justamente pelo que não têm: cérebro. O tal foi contratado para ser freak porque gritou “Ronaldo’, de uma maneira tão abobalhada diante de uma câmera de TV que deixou claro que havia CID (Classificação Internacional de Doenças) para seu caso. Diante de qualquer grunhido, sílaba, palavra ou coisa pronunciada por Zina, os comentários de Reginaldo Holyfield na TV baiana tornam-se passíveis de decupagem e publicação em um livro que o consagrará à Academia Brasileira de Letras, onde obras piores com insetos no título já levaram péssimos autores a ganhar fardão de imortal.

Na primeira edição após a prisão de Zina, o Pânico deixou de lado o humor e passou infindáveis minutos atacando moralmente a imprensa, a TV, o diabo e o planeta por terem noticiado o fato. Sobrou lição de moral para todos os lados e quem duvidar do absurdo da coisa que vá resgatar a pérola no Youtube. A informação mais leve foi a de que ninguém poderia dizer um A do sujeito, pois 25% da população brasileira é igual a ele. Descerebrada e incapaz de dizer coisa com coisa? Não. Dependente química. Sim, o pânico acaba de revelar um assombro nacional: um quarto dos brasileiros é dependente químico.

A Polícia e o Ministério da Saúde tiveram sua incompetência ressaltada em entrevistas de populares e picaretas de plantão. Zina? Ora, foi descrito como uma criança, um ser puro com quem todos na equipe aprendem nobreza. Apresentadores foram às lágrimas diante da história trágica da condenação moral de um herói da TV.

Beatificação - Alguém vê reação semelhante quando esses meninos ferrados das periferias são assassinados acusados de tráfico? Quem já viu a RedeTV comprando uma briga dessa natureza diante dos mortos nos tiroteios com os quais a TV faz a trilha sonora de fundo do jantar dos brasileiros? Entretanto, um desorientado pago para ser bobo da corte, o mais freak entre os freaks numa atração de TV, é preso por droga, vira notícia e um país inteiro é acusado de omisso, irresponsável e algoz desse sujeito. Por que não aproveitam o embalo da piada e pedem logo ao Papa a beatificação de Luciana Gimenez, a outra estrela santa e intelectual da casa?

*Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Faltou Michael na Pop Life

Sentinela - Luis Guilherme Pontes Tavares*

Havia, no início de outubro, anúncios nos jornais londrinos convidando para a exposição Pop Life na Tate Gallery. Fomos conferir. O ingresso custa 12 libras e meia. Mostra trabalhos do artista norte-americano Andy Warhol e daqueles que, como ele, adotam o princípio de que “uma boa arte é um bom negócio”. Abriu no dia 1º de outubro e permanecerá até janeiro do próximo ano. Ocupa metade do 4º andar da Tate. Foi ali que vimos, ela na frente, ele a seguindo, o casal Bruna Lombardi e Carlos Alberto Ricelli. O casal e a Pop Life combinavam bem!

Há três salas em que menores de 18 anos não podem entrar. São até bem comportadas apesar dos closes das partes íntimas da artista pornô italiana Cicciolina. Os quadros de Warhol pintados com pó de diamante e expostos sob luz especial tocaram-me muito mais pelo inusitado que são.

Senti falta de uma sala especial dedicada a Michael Jackson porque ele, apesar de cantor, fez de sua pele e do resto do corpo um objeto de intervenção artística de repercussão surpreendente. Afinal, o que mudou para Michael quando he changes himself de negro para branco?

O British Museum abriu em outubro mais uma mostra temporária, em que exibe, além dos objetos e documentos, a sua extraordinária habilidade museológica, promovendo o equilibrado balanço da estética com o didático. A visita ao monumental museu é livre, porém as mostras temporárias, não. Para ver Moctezuma: astec roler, o museu cobra 12 libras (adulto).

Moctezuma é patrocinada pela ArcelorMittal, empresa petrolífera inglesa que negocia com os mexicanos. Sendo assim, o México enviou para Londres o que possui de mais precioso no seu acervo histórico sobre o imperador asteca, bem como sobre o colonizador espanhol Hernán Cortez, com quem Montezuma (aqui com n, como grafamos em português) tentou negociar, porém saiu derrotado e morto.

A extraordinária exposição ocupa o espaço que outrora era o grande salão de leitura da British Library, instituição que ganhou sede nova há alguns anos. Moctezuma, além de mostrar grandes esculturas pré-colombianas que adornavam a cidade de Tenochititlan, exibe também a iconografia espanhola sobre o período (séculos XV e XVI).

O British Museum trata o tema com elegância e bom gosto, porém é quase certo que a Espanha, por causa da esperteza rude e da violência de Cortez, volte a figurar na história como um dos colonizadores mais cruéis. Quiçá, na falta de outra justificativa, tudo seja culpa do ar salitroso do Mediterrâneo.

Londres, meus amigos, é cultura, entretenimento, muito verde e boa comida.
Venham para cá vocês também!

* Luís Guilherme Pontes Tavares é Jornalista, produtor editorial e professor universitário. Este texto foi escrito em 11 de outubro, no trajeto Londres-Paris feito no Eurostar que partiu da capital inglesa às 9h45. Teria sido publicado aqui desde 23 de outubro, quando o autor o remeteu da cidade do Porto, porém não foi possível abrir o arquivo. Enfim, eis, redigitado, o segundo texto que Luis Guilherme escreveu durante a recente viagem à Europa.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Lenine e a psicanálise freudiana


Letra da música Olho de Peixe é objeto de análise

Estréia: À Flor da Pele por Denise Lima*

Não assumo posição de que a psicanálise possa interpretar tudo, em especial a arte, em qualquer de suas manifestações ou linguagens.


Cabe, portanto, uma advertência: não se trata de recorrer à psicanálise para interpretar objetos que são estudados em outros campos do conhecimento. Trata-se, sim, de trazer à luz, a partir da teoria psicanalítica, novas questões que se propõem em forma de diálogo, que pode resultar em grande proveito para tais campos de conhecimento, numa perspectiva inter ou multidisciplinar - característica do pensamento complexo.


Não se trata, também, de justapor interpretações para melhor compreender um determinado objeto, mas de estabelecer uma relação entre elas, mantendo suas próprias identidades, construídas ao longo da história do campo a que pertencem, respeitando-se as características de irredutibilidade de cada uma, ainda que – diante do objeto complexo[1] – possa haver uma fusão (indefinição) em suas fronteiras. Esta relação - que inclui, também, a contestação, que caracteriza o diálogo – pode levar a novas interpretações e construções do objeto, como também, eventualmente, a transformá-lo.

Dito isto, vamos tentar um diálogo entre a visão psicanalítica freudiana e a letra de Lenine, em sua música Olho de Peixe. (Apenas para não deixar passar esta ocasião para lembrar uma questão, exaustivamente debatida: letra de música pode ser poesia? Dizia Wally Salomão que sim, o que provocou muita polêmica. Deixando à parte, poesia ou não, podemos pensar que qualquer produção humana deve ser levada em consideração).

No que a psicanálise pode contribuir para elucidar sentidos nesta letra de música, a partir das contribuições desta para dar-nos pistas para a compreensão do psiquismo humano?

Redoma de vidro é o que, primeiramente, chama atenção. Redoma dá uma idéia do campo defensivo do sujeito, que nada sabe sobre si mesmo e se protege por meio de uma ficção (ou racionalização), que pouco corresponde à sua própria verdade. Pode representar as defesas – inclusive a repressão (ou recalque) - do Eu, parte consciente, grande parte inconsciente.

Apesar de o Eu ser um lugar da ilusão e da mentira, ainda assim, não podemos perder de vista que é com o esse eu que pensamos, raciocinamos, refletimos, tomamos decisões, construímos e fazemos escolhas éticas. Sem falar no poder que temos, consciente e determinado, de superar nossas próprias dificuldades.

Redoma de vidro é uma expressão bonita e significativa: a defesa, a proteção, podem ser quebradas. É o que acontece com o retorno do reprimido (ou recalcado), em forma de sintomas, sonhos, atos falhos, chistes – que são manifestações do inconsciente.
Pulo para “a mente é como um baú e o homem decide o que nele guardar”.

Não decide. Não há escolha sobre o que guardar ou não, assim como não há escolha da orientação sexual. Lembremos Monod, em Acaso e necessidade, quando diz que o homem tenta, desesperadamente, negar a contingência!

Se o homem decide o que guardar em seu baú, talvez isso se refira às lembranças conscientes que ficam preservadas, as quais fazem parte da ficção que faz sobre si mesmo. Sem esquecer que as lembranças são sempre encobridoras, dizia-nos Freud. Fala Lenine: “ele se permite esquecer de lembrar”. É isso mesmo: por que se permite – inconscientemente – esquecer de lembrar, repete. Repete situações, padrões, amores, para não se lembrar. A possibilidade de ruptura dessa cadeia – tratada em Recordar, repetir e elaborar, texto de Freud de 1914 – inaugura a capacidade de invenção, de novas construções.

Dou um pulo: “na cabeça do homem tem um porão, onde moram o instinto e a repressão”. Porão é a parte de baixo. É o que vem primeiro, e, de certa forma, o que sustenta a construção do edifício. Interessante metáfora usada por Lenine! Pois o que vem primeiro, de certa forma, são as pulsões (instintos) de vida (pulsões do Eu – autoconservação - e sexuais – preservação da espécie) e de morte – destrutividade humana. Lá, no porão, não mora a repressão, mas esta é a condição de possibilidade do porão, onde moram os instintos. Repressão dos instintos (pulsões) para que a civilização seja possível (Freud, Norbert Elias etc.).

A pergunta insistente de Lenine: o que tem no sótão? O sótão é a parte superior do edifício – para usar a metáfora espacial - onde se guardam coisas, muitas vezes esquecidas e sem uso. Se guardadas é porque possuem uma potencialidade (no sentido dado por Nietzsche), ainda que encobridoras. Mas já é uma pista que Sherlock Holmes não desprezaria.

Arrisco dizer que o sótão pode ser uma metáfora para representar o instinto (pulsão) não reprimido, mas sublimado, um dos destinos possíveis das pulsões. Ou seja, a capacidade humana de não se render às pulsões (tanto as sexuais, de vida, quanto às de morte), que torna possível, ainda que tenha que se valer delas, a produção de uma música como esta de Lenine.
Grande idéia esta de provocar convergências entre a psicanálise e a letra desta música! Espero ter demonstrado, neste curto artigo, a possibilidade de diálogo que propus fazer, de modo incipiente.

Perdoem-me as frases que não comentei, talvez mais importantes do que as que selecionei. Outras abordagens farão isso, espero. “O capuz negro que cega o falcão selvagem”, por exemplo. Forte essa frase. Dá-nos o que pensar! O capuz negro, tarja preta. Podemos relacioná-lo tanto à censura quanto ao luto. Também ao anonimato. A censura, o luto e anonimato têm algo em comum: algo que se perde.

Talvez possamos remetê-lo (capuz negro) a um dos conceitos fundamentais da psicanálise: a defesa que usamos, totalmente inconsciente, com o fim de não enxergarmos o falcão selvagem que existe em todos nós. Se o falcão selvagem deve ser “domado” para que exista Cultura, parte deste selvagem, no que se refere à pulsão de morte, pode significar uma boa defesa! Se dirigida à pulsão de vida, esse falcão selvagem deve ser a força criadora, inventiva, persistente, louca, aquela que promove a Arte, a Ciência e a Filosofia.

Mais uma coisa a se pensar: a pulsão de vida e a de morte funcionam acopladas...

[1] Objeto complexo diz respeito à Teoria da complexidade (Morin, Prigogine) que está sendo adotada como novo paradigma epistemológico para a delimitação do campo da ciência.

*Denise Maria de Oliveira Lima é Psicanalista, Graduação em Ciências Jurídicas e Sociais e em Psicologia; Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas e Doutora em Ciências Sociais (UFBA). Professora da Faculdade Social da Bahia, onde leciona Psicanálise I e II. E é colunista do Sentinelas da Liberdade.

Notícias do Inferno

Teleanálise
Sentinela - Malu Fontes*
No rastro deixado pela onda de violência extrema que varre a zona norte do Rio de Janeiro, nunca a televisão abordou tanto um tema que hoje é dos mais assustadores da realidade brasileira: o tráfico de drogas. Incluiu-se no agendamento os tentáculos e os fenômenos satélites do tráfico, como o comércio internacional de armas, a contribuição militar nas fronteiras, a corrupção policial em torno do fenômeno e, como não poderia deixar de ser, o ponto nevrálgico do assunto: o consumidor.

Como a imprensa brasileira não é muito dada a abordar sem pudor o consumo social e esporádico de drogas pesadas, como a cocaína, até porque esse universo, muitas vezes, está literalmente embaixo do seu próprio nariz, nada mais apropriado e chocante que trazer à tona o que todo mundo já sabia mas nunca se tinha dito com tamanha clareza: a virulência com que o crack já se alastrou pelas mais diversas classes sociais no país, escapulindo das fronteiras da dependência e tornando-se um dos mais inabordáveis desafios para as famílias, as políticas de assistência à saúde e a segurança pública.

CELA - Para ilustrar à perfeição o tumor intratável em que o consumo do crack se tornou nos últimos 10 anos, um rapaz de 26 anos, sob o efeito da droga, assassinou no final de semana a namorada na zona sul do Rio, pelo simples fato de esta tentar demovê-lo do vício. E haja notícias produzidas diretamente do inferno das cracolândias domésticas país afora. Viu-se nos telejornais uma mãe em Aracaju que entregou os filhos de 10 e 14 anos ao Ministério Público por não mais saber o que fazer com ambos, dependentes. Em Pelotas (RS), uma família construiu dentro de casa uma cela para o filho descontrolado, com o afeto e o humor desmodulados a ponto de representar risco para toda a família e quem mais dele se aproxime.

Já que ninguém além dos traficantes genéricos é diretamente responsabilizado pelo tráfico e o único usuário abordável sem tabus é o dependente químico já no grau máximo (jamais se condena os bacanas que usam de ‘um tudo’), a batata quente teria que ser atirada na mão de algum órgão burocrático ou seu representante. A escolha se deu: em todos os telejornais, em dois tempos, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o coordenador do Ministério da Área de Saúde Mental, Pedro Gabriel Delgado, passaram a semana virando-se nos trinta para explicar porque a pasta não tem estratégias e protocolos específicos para atender à demanda das famílias que têm em casa dependentes de crack que lhes ameaçam e à sociedade.

TÊNIS - Os críticos das políticas públicas de saúde mental passaram a semana acusando na TV o Ministério da Saúde de amaldiçoar a psiquiatria, a medicalização, a internação e de atirar à família a responsabilidade total por todo e qualquer transtorno de comportamento do usuário sistêmico de drogas. O Jornal Nacional abordou com destaque a proibição da internação involuntária dos dependentes químicos. Ou seja, se a internação se der sem o desejo do próprio dependente de crack, por exemplo, tem-se não uma internação, mas um indivíduo submetido a cárcere privado, o que é crime, passível de punição à família.

Santa hipocrisia nacional. A proibição da internação involuntária só atende mesmo à omissão da rede pública, incapaz que é de enfrentar o fato de que a população brasileira está atolada em índices dantescos de dependência de drogas. Somente as famílias privilegiadas e que infringem clandestinamente o voluntarismo do tratamento podem recorrer a sistemas privados de tratamento, sempre muito caros, pela complexidade e multidisciplinaridade do processo. Enquanto isso, os ricos entorpecidos de crack matam seus entes queridos em seus ambientes domésticos e os pobres saem insanos pelas ruas matando por um tênis e um casaco que logo adiante serão roubados por policiais corruptos que não querem nem saber quem pariu Mateus, muito menos quem o matou.

*Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA.
maluzes@gmail.com

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

População Negra pede Socorro


Por Jaqueline Barreto *

Na sociedade contemporânea percebe-se de forma inquestionável uma retomada de valores e premissas eugenistas que ratificam a situação de assepsia social e limpeza étnica. Os jovens negros devido ao seu fenótipo e condição social, representam para o Estado e o aparato policial, elementos indesejáveis que devem ser eliminados do convívio social. Jovem, negro, morador da periferia de Salvador, com idade entre 15 e 29 anos é considerado de antemão como um perigoso em potencial. Através da atuação de grupos de extermínio aliada a um sistema policial intrinsecamente racista está ocorrendo um verdadeiro genocídio da juventude negra na capital baiana.

Salvador, com essas execuções sumárias, está imersa em um processo de constitucionalização da pena de morte.

A concepção de Estado Democrático e de Direito está completamente esquecida e em vez disso, a sociedade assiste de braços cruzados uma situação clara de racismo institucional. Desse modo, cláusulas e conceitos defendidos pela Constituição de 1988 não passam de letras mortas. O direito a defesa e a responder processo judicial estão sendo negados e negligenciados. A condenação, promovida pela polícia da caatinga de “pai faz, polícia mata” posta em prática sob o auspício da Secretaria de Segurança Pública do Estado, não permite a esses prováveis “bandidos” ou “marginais” como queiram intitular, o direito nem a ser presos.

De acordo com o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em 2004, das 706 vítimas de homicídios em Salvador, com idade entre 15 e 29 anos, 699 eram negros e sete brancos. Ou seja, um jovem negro tem 30 vezes mais chances de ser o próximo nome na lista das vítimas que um jovem branco. Infelizmente, esse cenário não se restringe à realidade soteropolitana. Segundo dados da Organização dos Estados ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) no Brasil, a taxa de homicídios de negros é 74% superior a de brancos.

Esse quadro desenhado pela violência policial lembra estudos de cientistas do Séc. XIX que partiram do postulado de que o homem negro devido a algumas características físicas como braços largos, mãos avantajadas e estatura elevada, era um criminoso em potencial. Assim, nesse contexto de “laboratório Racial”, o racismo encontrou força no carimbo da ciência. Os homens negros foram apontados como elementos de alta probabilidade ao crime.

Portanto, espera-se que a Secretaria de Segurança Pública de forma conjunta com o Estado brasileiro revise suas práticas nazi-fascistas e conceba a violência não apenas por um olhar estigmatizado e preconceituoso e sim, como resultante de um processo histórico de exclusão e abandono social. Afinal de contas, esse quadro de extermínio subtrai um dos principais pilares de sustentação da dita cidadania.

*Jaqueline Barreto é colaboradora do Sentinelas da Liberdade e assessora do Núcleo Omidudu. Site www.nucleoomidudu.org.br .

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Salvador envelhecida, o presente do futuro


IBGE projeta que em 2035 já tenhamos uma criança de 0 a 14 anos para um idoso com 65 anos ou mais idade.


Maísa Amaral Carvalho Amaral e Antonio Nelson Lopes Pereira*

Fecundação. Questão altamente discutível, principalmente quando o assunto é inversão da pirâmide etária brasileira. Na Bahia, a transformação social, principalmente com a urbanização, foi um forte elemento para que mulheres e homens começassem a pensar duas, três ou até mais vezes quando o assunto é ter filhos. O coordenador técnico do Censo Demográfico Unidade Estadual do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na Bahia, Joilson Rodrigues de Souza, que já atua há 29 anos no órgão, em entrevista para o Sentinelas da Liberdade, ressaltou questões relevantes sobre a temática como políticas públicas, taxa de fecundação, preocupação dos jovens com o idoso, entre outros.

Confira a entrevista! Português, Inglês, Espanhol, Francês, Alemão...

Sentinelas da Liberdade – Qual a atual realidade da cidade do Salvador em relação ao processo de envelhecimento?

Joilson Souza – Um tanto atenuado. Salvador é uma cidade metropolitana que recebe um fluxo grande de imigrantes e esses vêem para capital por um objetivo muito específico: estudar, trabalhar, enfim, buscar uma oportunidade de atendimento para demandas não atendidas nos seus locais de origem. Isso faz com que a composição média da população de Salvador tenha mais jovens do que a média do estado como um todo e também no Brasil. Essa juventude que acaba interferindo nas médias faz com que Salvador resista um pouco mais ao modelo de envelhecimento, que no caso particular da Bahia, já é mais intenso do que o que acontece no Brasil, ou seja, hoje nós temos uma taxa de fecundidade próxima de 1.86 filhos por mulher, abaixo da taxa de reposição. Quando a fecundidade chega a esse nível, pode-se considerar que o suprimento de reprodução humana é insuficiente para repor as mortes que ocorrerão indubitavelmente por aqueles que vão alcançando a maturidade. Esse processo combinado com menos expectativa de vida faz com que tenhamos uma população proporcionalmente cada vez mais envelhecida, a ponto de já projetarmos agora, que por volta de 2035 já tenhamos uma criança de 0 a 14 anos para um idoso com 65 anos ou mais idade, ou seja, teremos alcançado o que conceitualmente se chama de grau de envelhecimento da população. O que não pode ser entendido a priori como algo ruim ou bom. A discussão talvez seja o equilíbrio entre essas duas condições. Por tanto, envelhecer, ter uma cota social envelhecida, é positivo porque mostra o como as pessoas têm mantido sua vida com qualidade, por outro lado, quando ela resulta da diminuição dramática da reposição humana, devemos nos preocupar, porque essa pirâmide etária sofre um relativo desequilíbrio, fazendo com o que tenhamos no futuro menos pessoas produtivas e um conjunto maior de pessoas dependentes daquelas produtivas, seriam as crianças e os idosos, embora a tendência agora é que tenhamos mais idosos do que crianças.

SL- Quanto às políticas públicas, nos últimos dez anos houve uma evolução para atender essas demandas?

J.S – O que tenho visto até aqui é um aumento na busca de conhecimento dessas tendências. Alguns fóruns já vêm sendo criados para discutirem o envelhecimento da população e certamente esses fóruns terão em alguma medida ambientes de cobrança, de percepção, políticas públicas específicas para o atendimento ao idoso. Não apenas no ponto de vista previdenciário, os valores da previdência para esse contingente, mas na ação preventiva, da acessibilidade e do atendimento de um contingente que teria um crescimento e uma taxa muito superior do que a taxa de crescimento médio da população. Na verdade é que esses com idade acima de 80 anos vêm crescendo até mais rapidamente do que aqueles com 65 anos ou mais. O que fala claramente do aumento da expectativa de vida. A idéia é de que comecemos já a refletir e tomar decisões de natureza sociológica, ambiental, de infra-estrutura para atender essa população importante e não obstante, de uma atenção maior, seja no campo da Saúde, seja na atenção, na afetividade e proteção familiar e de um reconhecimento social também para a importância que o idoso tem para qualquer meio.

SL- Houve uma diminuição na taxa de fecundidade nos últimos dez anos?

J.S – Dramática. De 70 prá cá, a fecundidade na Bahia caiu de 7.2 filhos por mulher para próximo de dois, 1.8 filhos por mulher. Uma queda dessa natureza, certamente não por motivos baseados estreitamente no controle da natalidade, através de usos de contraceptivos orais, por exemplo, mas pela esterilização ou laqueadura. Significa dizer que temos mais de 27% das mulheres em idade fértil já estéreis, ou seja, sem condição de retomar a fecundidade caso desejassem. Quando encontramos um quadro como esse é o mesmo que dizer que as tendências da reposição da fecundidade são de fato baixas, primeiro porque não há o encorajamento como reconhecimento social, da importância de ter mais filhos, no sentido de compor a base social, e da pirâmide etária, mas também porque em alguma medida as mulheres já estão internamente convencidas da importância de ter filhos, ainda que isso se confronte muito com seus projetos pessoais, na área profissional, acadêmica, o que faz com que o Brasil esteja reproduzindo nesses últimos 30 anos algo que a Europa precisou 300 anos para poder viver, ou seja, uma transição demográfica, baseada em uma redução dramática da fecundidade e no crescimento do envelhecimento também em taxas muito superiores.

SL – Quais as maiores dificuldades enfrentadas no país e as possíveis soluções?

J.S – No caso particular do envelhecimento, consideremos que país que têm uma rede de proteção social mais estruturada, que anteviram o envelhecimento da população, tem conseguido enfrentar de uma forma razoável o envelhecimento e todas as demandas que a população idosa tem. Em um país como o nosso que até muito pouco tempo era tido como país jovem, não viu, não percebeu, que isso também se configurava como uma tendência para o Brasil. Existe um grande desafio. Primeiro, para refletirmos o que isso representa para a economia, para sociedade, e segundo, tratar de criar as condições necessárias para que esse grupo seja estendido, respeitar as nossas demandas, recepcionadas nessa condição, até porque não estamos falando de idosos que virão, estou falando de mim, que logo estarei nessa condição. É preciso imaginar que a sociedade da qual faço parte hoje precisa criar as condições necessárias para que me abrigue quando a minha condição etária demandar uma atenção especial.


SL- Embora não seja sua especialidade, você percebe uma preocupação dos jovens com o idoso?

J.S – Posso estar sendo injusto, mas a minha resposta, baseada na minha percepção é não. O jovem não tem esse conhecimento, não tem essa visão ou mesmo essa sensibilidade voltada para relação com o idoso, como algo importantíssimo para o aprendizado e para o crescimento pessoal. Isso decorre também como resultado de um modelo econômico. O capitalismo tem um pouco essa visão de que aquele que é pouco produtivo acaba tendo uma menor importância para a sociedade. Então o idoso, como indivíduo que representa um conjunto importante de demandas e carências e pelo mesmo lado não é também tão produtivo como são os jovens, acaba tendo menor importância. Não é obstante saber e considerar que o idoso guarda consigo muita experiência, sabedoria extremamente necessária para a sociedade que também é oral. Embora a nossa sociedade tenha várias formas de conhecimentos, há também um conhecimento que está guardado através da experiência do idoso e precisa ser resgatado e qualificado, seja no âmbito da sociedade geral, mas também familiar.

SL - Existe orientação do governo para que mulheres e homens tomem conhecimento de outros métodos contraceptivos, evitando a esterilização?

J.S – Acredito sim. Na verdade, o Brasil vive também o que podemos chamar de uma crise neomalthusiana, ou seja, a tese que lá no século XVII e XVIII divulgava que o mundo sofria uma difusão demográfica, portanto a capacidade de produção de alimentos seria inferior ao crescimento da população. Essa tese que naquela época serviu para orientar inclusive sugerir que as mulheres não tivessem filhos, ou que quando casadas evitassem a relação sexual, como uma forma de evitar o nascimento de filhos, em alguma medida foi reeditada, muito recentemente, porque a tese da urbanização também criou certa insegurança, interpretada a princípio como se também fosse uma explosão demográfica, o que na verdade é uma tolice. O mundo todo não caminha para uma explosão demográfica, muito pelo contrário, caminha para o envelhecimento, pois com a redução de seu contingente, espera-se que até 2050, aproximadamente, a população mundial comece a diminuir. No caso particular do Brasil, a partir de 2040 já comece a diminuir. Chegaremos à população máxima por volta de 219 milhões no ano de 2040, mas já em 2050 teremos 214 milhões de habitantes, o que mostra que a teoria de Malthus não se confirmará. Não obstante, quando falamos sobre a fecundidade das mulheres, estamos discutindo, na verdade, muito fielmente, essa tese, refletindo pouco sobre o impacto sociológico que isso tem. Não estou discutindo particularmente o fato de uma mulher ter menos filhos, ou até de não tê-los. Mas quando isso se torna um pensamento social, coletivo, dizemos que a sociedade com um todo vai viver os efeitos de uma cultura não reprodutiva, de não reprodução humana. Isso tem um impacto muito grande sobre a sociedade. Imaginamos que lamentavelmente quando falamos da queda de fecundidade na Bahia e no Brasil, isso não decorre necessariamente de um conhecimento, de uma formação das mulheres para planejar melhor sua prole, mas de uma interferência e uma oferta do próprio estado para métodos contraceptivos castrantes. A exemplo da laqueadura, ligadura de trompas, enfim, isso ocorreu sobretudo entre as mulheres mais pobres, no meio rural, e não necessariamente aquelas que são mais escolarizadas. Porque essas, desde o início do século passado já tinham tido menos filhos. Por terem informação puderam escolher outros métodos contraceptivos. Então, o que estamos discutindo é que parte importante da população, sobretudo a mais carente e menos informada, tem contribuído para a fecundidade, de uma forma menos qualificada, por que responde a uma demanda um pouco exógena, fora do seu próprio sentimento. É uma demanda mais coletiva, mais social, e em alguma medida influenciou.

S.L – Alguns acreditam que a redução da natalidade trouxe uma melhora na qualidade de vida. Você concorda?

J.S – Indiscutivelmente. O que acontece é que quando éramos uma economia rural, ter muitos filhos fazia parte de uma estratégia econômica, já que eles participavam de uma forma mais intensiva da produção. No momento em que a população passou a se tornar urbana, 2/3 da população da Bahia vivia no meio rural. Então, a urbanização traz consigo algumas demandas e talvez também interfira na formação da família. É verdade que as discussões sobre a qualidade de vida não respondem isoladamente por essa escolha. Admitamos, por exemplo, de que as funções gerais de estrutura, meios, acesso a médicos e logística de modo geral, como transporte, escola e muito mais é muito superior agora. Assim podemos dizer que as condições de ambiente ficaram um pouco pior, mas sabemos também que a fecundidade responde muito mais sobre uma estratégia da família do que necessariamente da sociedade. Há um temor maior em ter filhos, porque também há um temor em cuidar, pois pai e mãe não conseguem está tão presente quanto no passado. As famílias diminuíram de tamanho.

S.L – E o que representa a ampliação do Censo Demográfico para a Bahia?

J.S –
É a principal pesquisa brasileira sócio-demográfica. Importante dizer que o Censo desde que ele foi criado tem um núcleo que está voltado para as variáveis (população, sexo, raça, entre outras). Mas pela relação que temos com tantos outros ambientes técnicos que têm demandas muito claras, foram criados sistemas mais recentes. A admissão no próprio questionário de declarações de casais homossexuais, por exemplo. Também vamos está investigando profundamente os povos indígenas não apenas sobre o seu povo, mas qual é a língua falada, escrita, como uma forma de identificarmos a identidade étnica e independência e até a preservação dos valores e culturas indígenas. Também investigaremos a emigração do país. O censo como um todo é uma pesquisa que permite um retrato mais amplo e social do país.

S.L – Os meios de comunicação de massa informam os dados e estudos estatísticos do IGBE de forma contextualizada?

J.S – Tem melhorado. Na verdade consideramos que uma boa produção jornalística ela se realiza quanto mais profundamente esse profissional busca informações. É preciso que os assuntos sejam entendidos na sua profundidade, e que as matérias sejam mais informativas. O IBGE disponibiliza antecipadamente o conteúdo técnico que dará base ao jornalista para a pesquisa.

S.L – Considerações finais?

J.S - Apenas quero dizer que para a iniciativa do blog estarei sempre à disposição. Reconheço que essa é uma iniciativa importante, que fala de uma imprensa nova. Busca uma relação mais íntima com a fonte e que a qualifica à medida que escolhe para livremente expressar seu pensamento, sua visão.





*Maísa Carvalho Amaral:




“A arte de desenvolver um jornalismo ético”. Essa é a minha busca constante. É editora-chefe do Sentinelas da Liberdade. Natural de Salvador-BA. Jornalista formada pelo Centro Universitário Jorge Amado, atuou na redação do Diário Oficial do Estado da Bahia e na Assessoria de Comunicação da Agerba. Ainda em Assessoria, foi responsável pela comunicação interna e externa da Faculdade Unirb.




Na área de concurso público e Educação, desenvolveu o papel de repórter na Sucursal Nordeste do jornal Folha Dirigida, e posteriormente foi coordenadora de Jornalismo. É assessora da SECOPA – Secretaria para Assuntos Extraordinários da Copa do Mundo FIFA 2014 – Bahia.

Antonio Nelson Lopes Pereira:




“Jornalismo, Esporte, Política e Economia, Multicultura e Ciberespaço, Fotojornalismo e Cinegrafista”. É editor-chefe, autor e idealizador do site Sentinelas da Liberdade.




Natural do Recife-PE. Na década de 90, assistiu e viveu o surgimento e ascensão da mistura do maracatu com o rock, hip hop e música eletrônica através do movimento Manguebeat, liderado por Chico Science e Nação Zumbi; Fred 04, vocalista do Mundo Livre S/A.




Desde 05 de março de 2001, reside na cidade do Salvador/BA. Cursa Jornalismo na Faculdade Social da Bahia (FSBA) com intuito de desenvolver um jornalismo ético e de interesse público... Jornalismo 24 h.




Maísa Carvalho Amaral e Antonio Nelson Lopes Pereira - Fotos.







O Sentinelas da Liberdade atendeu a solicitação dos visitantes e reproduziu entrevista realizada em 28 de outubro de 2009. Reflita. Antonio Nelson









Datas
7, 8, 14 e 15 de Novembro de 2009
Dois finais de semana (sábado e domingo)

Local
Espaço CRISANTEMPO
Rua Fidalga, 521 Vila Madalena - São Paulo - 11 3819 2287

Carga horária
16 horas

Vagas
100

Valor da inscrição
200 reais

Data limite para inscrição: 05/11/2009
Contato
Telefone: 11 2594 0376

Para fazer sua inscrição
clique aqui





segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Guerra Olímpica

Teleanálise
Sentinela - Malu Fontes*
Há pouco mais de 20 dias, no dia 02 de outubro e nos dias próximos, imagens aéreas e deslumbrantes da cidade do Rio de Janeiro correram as emissoras de TV de todo o mundo, quando o Comitê Olímpico Internacional escolheu a capital fluminense para sediar os Jogos Olímpicos de 2016. As imagens, encomendadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro ao cineasta Fernando Meirelles, encantaram o mundo, deram um empurrão e tanto para a decisão do COI e fizeram a comitiva brasileira ir às lágrimas quando da sua exibição na Dinamarca. Meirelles, louvado aqui e alhures pela belezura das cenas que mostravam o Rio como a cidade maravilhosa e irretocável que é, cantada e decantada no cancioneiro popular, reagia com modéstia aos elogios. Dizia que não fez nada demais, que não fez ficção, não criou efeito especial algum, apenas mostrou uma cidade linda, como de fato o Rio é e continuará sendo.

O país, quase inteiro, mimetizou a reação de explosão de euforia encabeçada pelo choro do presidente Lula, pelos pulos, lágrimas e berros do governador Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes, de Pelé, que de tão tonto e embevecido confundiu Michael Jordan com Michael Jackson, Hortência, Paulo Coelho e trocentos papagaios de pirata. Quem não euforizou junto foi imediatamente guindado à condição de urubu, corvo ou qualquer coisa agourenta. Onde já se viu contrargumentar falta de dinheiro para tanto, problemas estruturais urgentes do país, risco em potencial de empreiteiros devorarem metade dos recursos das obras? Tudo coisa de gente pessimista, sabe-se.

TOCHA – Desde então ficou impossível ligar a televisão e não ouvir qualquer referência a quantos milhões o Brasil e, principalmente, os governantes do Rio de Janeiro, haviam economizado em propaganda gratuita, diante do volume imensurável de mídia espontânea, em todo o mundo, exibindo as imagens irretocáveis da cidade captadas pela equipe de Meirelles. O turismo iria faturar bilhões já, imediatamente, graças à tal mídia espontânea em escala literalmente Global. A Rede Globo, até hoje com um palito atravessado na garganta por ter perdido para a Record o direito de transmissão das Olimpíadas em 2012, em Londres, passou as últimas semanas comemorando a conquista, pois já tem assegurada a transmissão de 2016.

Duas semanas depois, no entanto, novas imagens aéreas do Rio de Janeiro voltaram a correr o mundo, de novo ocupando telejornais do mundo inteiro e sendo manchete dos principais jornais impressos e digitais de todo o mundo. As imagens eram igualmente espetaculares, de uma tocha aérea, um objeto incandescente em movimento sobre uma cidade não mais tão maravilhosa assim. Brasileiro é um povo criativo, mas não, não era uma tocha olímpica chegando adiantada, mas um avião da polícia militar carioca pegando fogo no ar após ser abatido por uma saraivada de tiros disparados por traficantes de armamentos bélicos anti-aéreos no melhor estilo Bagdá.

VIOLENTO É O MUNDO - E haja mídia espontânea de novo, embora invertida, do tipo que afasta turistas e gera milhões de prejuízos na imagem positiva comemorada nos dias anteriores. TVs do mundo anunciavam 22 mortos no último fim de semana. O avião em chamas conseguiu pousar antes de ser totalmente devorado pelo fogo, por perícia miraculosa do piloto, mas três dos policiais que estavam nele morreram por queimaduras. Como tem se tornado praxe no Brasil diante de ações criminosas dessa natureza, as autoridades fizeram o que sabem fazer de melhor: confundir a opinião pública com jogos de palavras visando transformar merda em ouro, fracasso em mérito. Apressaram-se em dizer duas coisas. A morte de mais de 20 pessoas e um avião policial abatido no ar não era sinal de ousadia de bandido nenhum, mas uma prova da eficiência da Polícia do Rio. Graças a essa tal competência, os traficantes estariam perdendo território, estariam desesperados por saber que estão derrotados, etc. E bandido derrotado, sabe como é. Mas se o desespero é dos traficantes, que nome dar à condição emocional da população dos bairros atingidos, que na noite de terça-feira abandonavam, às centenas, suas casas para passar a noite distante, na rua, com medo de novos confrontos?

O outro argumento, mais importante: isso não atinge de modo algum a imagem de cidade olímpica do Rio. Nessas horas, a melhor coisa do mundo é esquecer o próprio rabo e apontar para o dos outros. Foram longo argumentando que, se o caso é violência, pior é Londres, que sediará jogos de 2012. Em julho de 2005, um dia após o COI anunciar a cidade como sede dos jogos olímpicos, terroristas tocaram o terror na cidade: 52 mortos e 700 feridos. Ou seja, para as autoridades brasileiras, violento não é o Brasil nem o Rio, mas o mundo.

PÓ - Os cariocas moradores do lado glamouroso da cidade, como o escritor Ruy Castro, por exemplo, no dia seguinte vociferavam o quanto é a imprensa que cria um clima exagerado de violência associado ao Rio. Numa rádio, ele afirmava que, enquanto a imprensa falava de guerra no Rio, ele próprio não viu nada desse terror generalizado. Passeou pelas ruas vazias de Ipanema, Leblon, Copacabana e "não havia nenhum clima de pânico, a cidade estava tranquila". Faz sentido, pois quem disse que o Morro dos Macacos faz parte da cidade? E quem disse que haverá modalidade olímpica no morro ou em Vila Izabel? Lá, o que há são outras paradas, como arremesso de cadáver em carrinho de supermercado, como se viu na TV. Na cidade tranqüila, o único vestígio do morro são as fileiras do pó que financia as armas anti-aéreas que transformam avião em tochas.

*Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA. Texto publicado em 25 de Outubro de 2009. maluzes@gmail.com

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Dignidade sexual e exposição midiática em questão

Sentinela – Antonio Nelson*

O respeito à dignidade sexual, a pedofilia na internet, exposição midiática, caso Escola Base, Família Nardoni e o assassinato da jovem Heloá, entre outros assuntos foram abordados pelo professor universitário da área de Ciências Criminais e advogado, na área criminal, Yuri Carneiro Coelho, durante a palestra Crimes contra a dignidade sexual e a nova lei nº 12.15/09. O evento ocorreu na VII Semana Acadêmica da Faculdade Social, em Salvador/BA. Após palestra, Yuri Coelho nos concedeu entrevista sobre as temáticas. Confira!

Sentinelas da Liberdade - Mudanças culturais, comportamentais e jurídicas, nos últimos 30 anos, contribuíram para estimular atos de crimes contra a dignidade sexual?

Yuri Carneiro – Sem dúvida nenhuma contribuí. Os crimes de natureza violenta, contra pessoas, têm a depender do status social que você identifique, maior ou menor criminalidade. Uma relação profunda com a Economia e com o desenvolvimento econômico. Também tem uma relação com a Cultura muito forte. Alguns crimes sexuais são decorridos de patologias, que tem uma causa clínica, não social, mas outras espécies de crimes são decorrentes de fatores sociais e também de uma ordem comportamental de cultura que está muito mudada atualmente. A liberalidade é muito maior, o que faz com que as pessoas se exponham mais, e muitas vezes essa exposição faz com que pessoas invadam essa liberdade praticando crimes sexuais.

SL - Quais os crimes mais comuns praticados por programas popularescos e de entretenimento?

Y.C –
Diria para vocês que são crimes contra honra, ofensas, estimulações, injúrias contra pessoas, exposição da imagem de forma indevida, principalmente aqueles que tratam de delitos. Sabemos muito bem que tipo de programa são esses, que às vezes só retratam os problemas da nossa sociedade, filmando pessoas, intimidando, mostrando pessoas supostamente acusadas de delitos, colocando elas como párias da sociedade, como se muitas vezes não tivessem direito de defesa. Em muitos casos são pessoas que são acusadas injustamente ou não cometeram atos que se embute a elas. Temos que ter muito cuidado com esses tipos de programas que sem uma investigação séria jornalística acabam determinando a responsabilidade para aqueles que não têm, apenas por uma questão de audiência. É muito bom você mostrar sangue e ter audiência, mas não para quem é vítima.

SL – Qual fato mais lhe impactou?

Y.C – O que a mídia fez com dois casos, o da filha dos Nardonis e o da Heloá. Foi algo fora do comum, algo que tem que ser retratado, chegou a ser exagerado. No passado, tivemos um caso muito sério que foi o da Escola Base, em São Paulo, no qual as autoridades públicas do estado julgaram como responsável o casal e depois se descobriu que eles não tinham nenhuma relação com atos de pedofilia, do qual tinham sido acusados. Tem que se tomar muito cuidado quando se acusar alguém, principalmente quando expor esse pessoal na imprensa.

SL - Quais são os direitos do cidadão para que os veículos popularescos e de entretenimento respeitem a dignidade humana?

Y.C – O direito a inviolabilidade da privacidade, da intimidade. É preciso que se respeite isso, e que não saia invadindo, mostrando tudo o que se acontece como se não tivesse limites. Acredito, por exemplo, que a derrubada da Lei de Imprensa foi importante, pois ela criava muita limitação, mas é necessário regular a atuação da impressa para que ela tenha um equilíbrio, e se mantenha a liberdade de imprensa, a qual é fundamental para o país, mas que não se tenha uma liberdade condicional. É preciso equilíbrio na divulgação da informação.

SL - A quem o cidadão deve recorrer quando for tratado injustamente?

Y.C - Ao Poder Judiciário. Em determinadas situações, só em casos concretos é que deve procurar uma delegacia de polícia, mas o poder judiciário é o meio mais adequado.

SL - Quais os constrangimentos mais frequentes entre casais?

Y.C - Do ponto de vista prático, hoje em dia é muito menos tocante os crimes sexuais e sim a violência física, que a Lei Maria da Penha vem abarcando e vem dando certa guarita a mulher, que é a maior vítima da violência familiar.

SL - E o papel do Estado?

Y.C - O Estado tem que ser educativo em prevenção, principalmente na área de Educação. Como o Estado não fornece uma Educação adequada às pessoas são criadas em um ambiente educacional e cultural impróprio, por falta de informação e Educação faz com que as pessoas não sejam orientadas de como devem ser suas vidas, conduzidas da melhor maneira possível, respeitando o direito dos outros.

SL – Está havendo políticas públicas, principalmente no estado da Bahia, para amenizar esses problemas, no campo da sexualidade?

Y.C – Quanto aos problemas de criminalidade, não vejo como políticas públicas. Inclusive passamos por uma grande crise na Segurança Pública. Óbvio que esperamos que o Governo adote medidas para prevenir a diminuição da criminalidade do país. Depende de uma grande estrutura econômica que gere menos desigualdade social. Do ponto de vista de intervenção direta, a curto prazo, não temos visto muitas políticas públicas para amenizar esse problema.

SL - Músicas com letras eróticas e pornográficas podem estimular a atitudes delituosas?

Y.C – Quanto à violência acredito que não estimule. O que estimula é a liberdade social. Quanto a crimes, não temos visto isso no Brasil não.

SL - Quanto à pedofilia na Internet?

Y.C - Tem ocorrido muito. Inclusive temos um programa que é o CQC (Custe o que Custar - da Rede Bandeirantes de Comunicação), o qual tem um quadro que tenta retrair pedófilo, o que mostra que a internet tem sido um veículo de expansão da pedofilia. Não que a rede deva ser limitada, mas deve sim aparelhar melhor o Estado para se discutir o que há, através da rede, desses pedófilos, e retirar.

É preciso ter um pouco mais de atenção, principalmente nas escolas, quanto à educação sexual, de cuidado e trato nas escolas com os nossos menores, para ajudá-los a se defenderem. É importante ter um bom aparelhamento dos nossos juizados, acompanhamento da família nos juizados, para que ele possa exercer com maior eficiência o poder normativo que tem, porque essa talvez seja a melhor forma, de pelo menos paliativamente, diminuir a pedofilia no país, além de você criar uma rede de investigação mais eficiente.

*Antonio Nelson é repórter do Sentinelas da Liberdade, autor e idealizador do site e não apóia o PIG:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_da_Imprensa_Golpista

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O lugar da Ciência

Sentinela - Frederik Santos*
sentinelas@sentinelasdaliberdade.com.br

Por que o tema Ciência e Religião é tão intrincado e desgastado em nossos dias? Por que é tão difícil encontrar honestidade e seriedade quando se trata do debate entre estes dois campos? As razões são várias. Para começar a enumerá‐las irei partir da constatação de um fato que não pode ser ignorado aqui, esses dois campos estão entre aqueles que mais movem certos grupos sociais e a maioria dos que detém o poder nas mãos.

Se conhecimento é poder, não menos, o discurso religioso também o é. Ciência envolve conhecimento e hoje conhecimento significa um diferencial que pode levar alguém a superar uma concorrência em um ambiente competitivo ou ainda pode significar maior interferência sobre o mundo, transformando‐o e gerando mais controle sobre ele. Muitas vezes, a religião também tem sido um excelente instrumento de controle de certos grupos sociais e de manutenção do status quo, e a história não nos permite esquecer disso, na verdade, o dia a dia não nos permite esquecer.

E o curioso é que ainda hoje se usa (em escala um pouco menor do que há séculos atrás) distorções de interpretações de livros sagrados ao bel prazer de uma pequena elite para legitimar uma idéia ou alguma ação divina que amedronte uma grande massa. Longe de propagar o medo, hoje muitos rezam aquilo que os cientistas dizem para legitimar suas idéias. Vide doutrinas defendidas pela Teologia do Processo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Te%C3%ADsmo_Aberto ou documentários campeões de audiência como Quem Somos Nós 1 e 2 http://pt.wikipedia.org/wiki/What_the_Bleep_Do_We_Know!%3F.

Portanto, uma das principais razões para termos tantas dissimulações sobre o tema, Ciência e Religião, é o vínculo que esses dois têm com o poder de influenciar e muitas vezes de tentar controlar as mentes.

E não tem nada melhor do que produzir distorções, dissimulações e mentiras do que o poder concentrado nas mãos de uma elite, manifesto em todas as suas formas de controle na modernidade, através das mídias, da política e dos púlpitos em que pouco se abre a Bíblia e/ou o coração. A distorção e a dissimulação eram uns dos principais frutos da união entre Igreja e Estado e tais frutos levaram à luta pela descontinuidade desta união, na maioria das sociedades modernas.

Não quero entrar nesse debate, mas o evoquei somente para destacar que discussões sobre Ciência e Religião envolvem questões que vão além dos embates entre intelectuais e fundamentalistas ou brigas doutrinárias internas. E a histórica separação, dando autonomia de atuação a cada uma destas instituições, não resolveu e não resolverá boa parte dos conflitos entre elas, principalmente quando estas se sobrepõem na busca do controle e do poder.

Quais das duas instituições devem dar as cartas do jogo que investiga os valores mais fundamentais da humanidade? Para aqueles que querem começar a conhecer a senhora Ciência com suas rugas terá que visitar bibliotecas que disponibilizem autores como Imre Lakatos, Paul Feyerabend ou A. F. Chalmers para começar (longe de eles terem a última palavra sobre o assunto).

Estes filósofos, que fizeram grande uso da história, mostram o quanto a Ciência não tem nada de unânime e fechada. Além disso, achar que qualquer ciência possa tratar da realidade última das coisas ou da essência da matéria e dos fenômenos é uma das crenças mais atacadas há mais de cem anos dentro da epistemologia. Percebemos o quanto a Ciência tem se calado sobre a maioria das perguntas mais essenciais da humanidade e quanto ela é incapaz de responder a muitos mistérios gerados por ela mesma. Mas, esta limitação não é necessariamente negativa.

A Ciência faz bem aquilo que ela se propõe a fazer. Ela é uma instituição essencialmente humana, sempre sujeita a controvérsias, com sua própria linguagem que quase nada tem a dizer sobre o mundo metafísico, do divino e espiritual.

Vamos falar agora de algumas características e valores gerais compartilhados e historicamente agregados pelas Ciências Naturais. Caracterizar uma idéia geral de ciência através de um método científico universal é uma tentativa artificial que esconde ricos traços particulares de cada disciplina. No entanto, podemos tentar falar de métodos de justificação, racionalização, formalização da linguagem e reprodutibilidade para cada campo do conhecimento natural.

Existem vários métodos que buscam construir a coerência e racionalidade interna do trabalho científico. O uso de cada método dependerá do objeto e do fenômeno estudado. Para muitos não é trivial esta dimensão intersubjetiva, construtiva e limitada da ciência. Até porque, não é isso que se mostra nos livros técnicos da academia e muito menos na maioria dos livros do Ensino Médio.

A despeito de toda essa relativização e limitação, a instituição chamada “Ciência” alcançou grandes feitos nunca imaginados até então. Estes a fizeram alcançar o status que possui hoje, porém não podemos exigir que esta instituição humana forneça respostas que não fazem parte daquilo que ela se propõe a fazer.

Quando muito, as disciplinas científicas buscam dar sentido ao mundo natural construindo teorias úteis para interagirmos com este e tentar construir as melhores explicações possíveis sobre o funcionamento deste. Exigir mais do que isso é desvirtuar o caráter da Ciência e as bases de onde esta foi construída, é corromper seu discurso mais puro e honesto, é ludibriar sobre seus limites.

É isso que muitos tem feito hoje em dia, alguns o fazem por ignorarem o debate em torno dos fundamentos de sua disciplina, e ainda usam seus títulos acadêmicos em alguma área científica para lhes dar autoridade ‐ como se a maioria das nossas universidades seculares ou confessionais formassem profissionais, na área técnica ou científica, com apurado senso crítico e conscientes das controvérsias e limitações que envolvem suas disciplinas.

Outros o fazem levianamente para dar maior legitimidade ao seu discurso e, assim, defenderem seus interesses particulares ou de uma corporação política, financeira ou religiosa. E ainda se justificam através de um sedutor discurso holístico em que se consideram arautos da pós‐modernidade, e muitos destes prosperam à custa de uma “boa” retórica cheia de falácias.

Deixo aqui o meu segundo recado em relação a este debate. Porém, apesar de ter escrito mais sobre algumas características gerais das Ciências Naturais, reafirmo aqui a minha aposta que um bom conhecimento dos fundamentos das religiões mais dominantes no mundo ocidental nos levará para uma diferenciação dos objetivos e das limitações no campo de atuação destas em relação aos das ciências.

*Frederik Santos é professor de Física na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestrando em Filosofia Contemporânea (PPGF-UFBA). Sua pesquisa concentra-se na área de História e Filosofia dos problemas nos Fundamentos da MecânicaQuântica. Escreve exclusivamente para o Sentinelas da Liberdade. Tem forte atuação na área de educação especial para surdos, como professor bilíngue (Português/Língua Brasileira de Sinais) e agente político.

Mudança de data - Etapa Bahia da 1ª Conferência Nacional de Comunicação

A Comissão Organizadora Estadual informou que a Etapa Bahia da 1ª Conferência Nacional de Comunicação foi transferida para os dias 14 e 15 de novembro (sábado e domingo). A mesma estava programada para os dias 24 e 25 de outubro, na Fundação Luis Eduardo Magalhães (Flem), em Salvador. A alteração foi definida seguindo as orientações de adiamento da Conferência Nacional.

A decisão foi tomada durante a reunião da Comissão estadual, na última quarta-feira (21), e visa também ampliar a mobilização dos participantes dos diversos segmentos no sentido de qualificar o debate durante o evento.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O presidente do Partido da Imprensa Golpista


O Partido da Imprensa Golpista (PIG) é um termo que surgiu entre os internautas brasileiros em 2007 para caracterizar a grande mídia. O termo foi popularizado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em seu blog Conversa Afiada. Amorim, quando utiliza o termo, escreve com um i minúsculo para se referir ao portal iG, do qual foi abruptamente demitido em 18 de março de 2008 no que descreve como sendo um processo de "limpeza ideológica". O termo ganhou tanta notoriedade que fez parte de um discurso do deputado federal pernambucano Fernando Ferro, do Partido dos Trabalhadores, no qual sugeriu que Arnaldo Jabor assumisse o cargo de presidente do PIG.

O termo também é constantemente utilizado pelos jornalistas Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna em seus blogs, que também ajudaram em sua popularização.

O termo PIG foi criado por André Alírio (Salvador, BA) em 2006, na comunidade do Orkut Apoiamos o Presidente Lula PT.

Definição

O termo é utilizado de forma genérica e pejorativa para se referir ao jornalismo praticado pelos grandes veículos de comunicação do Brasil, que seria demasiadamente conservador e que estaria tentando derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e membros de seu governo de forma constante. Considerando que pig é "porco" em inglês, a conotação pejorativa do termo pode ser maior do que já é.

De acordo com Amorim, o termo PIG pode ser definido da seguinte forma: "Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista".

Quem compõe o núcleo do PiG

Segundo a Blogosfera, os principais meios de comunicação que estariam à base do PiG, seriam quatro grandes grupos midiáticos importantes. Por ordem: a TV Globo e o jornal O Globo da família Marinho, o jornal Folha de S. Paulo, o outro jornal O Estado de São Paulo e a Revista Veja, do grupo Editora Abril.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_da_Imprensa_Golpista

http://www.paulohenriqueamorim.com.br/?p=20710

Bancos espoliam países pobres

Sentinela – Germano Machado*

Na revista Mundo e Missão de agosto de 2009, publicação do PIME – Pontifício Instituto das Missões, no
www.mundomisssao.com.br, no comentário de atualidades traz o título: Grandes Bancos ajudam a espoliar os países pobres. Na mesma revista se diz que: “segundo uma análise da organização independente Global Witness, uma organização sem fins lucrativos que se dedica a pesquisa sobre causas e efeitos da exploração da riqueza natural do mundo, alguns dos mais expressivos bancos mundiais facilitam a corrupção nos países mais pobres”. O autor é Edison Barbieri – edsonbarbieri@yahoo.com.br.

Esse estudo da Global Witness mostra como certos bancos atuam com negócios em regimes corruptos. Informa ainda que tais bancos facilitaram e facilitam corrupção e saque estatal explorando países. O que equivale a mostrar dolorosamente que esse mecanismo bancário desvia os países pobres de terem oportunidade de sair da miséria e não serem dependentes de outros. Por exemplo, a Global Witness diz abertamente: “se recursos como o petróleo, gás e minerais realmente existem para ajudar a eliminar a pobreza da África e de outras regiões, então os governos devem assumir a responsabilidade de impedir que os bancos façam negócios com ditadores corruptos e com suas famílias”. Considero tal informação uma denúncia. O mesmo informe aponta clientes de determinados bancos na Guiné Equatorial, na República Democrática do Congo, no Gabão, na Libéria, em Angola e no Turcomenistão. Mostra que nesses países a riqueza natural foi e está sendo explorada por poucos, enriquecendo grupos, fortalecendo poder de ditadores, financiando guerras devastadoras.

A Revista, citando o Global Witness afirma e afiança: “Entre os bancos mencionados estão Barclays, City Bank, Deutsche Bank e HSBC”. Evidentemente que essas instituições bancárias têm ampla visão mundial e agem praticamente em todos os países, inclusive nos da América Latina e no Brasil. Anthea Lawson, da Global Witness informa: “Os bancos fornecem o mecanismo para que haja corrupção em torno dos recursos naturais”. Nessas informações das instituições citadas, “o filho do ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang foi apoiado pelo Banco Barclays muito depois de se tornarem públicas as provas de que sua família estava envolvida na usurpação das riquezas pretrolíferas daquela nação. Esclareça-se que o Banco Riggs que entrou em decadência em 2004, assim foi devido à investigação promovida por comitê do Senado Norte Americano. Descobriu-se ainda que essa instituição bancária mantinha contas em nome do referido ditador equatorial, membro de sua família e seu governo. O filho do ditador era Ministro da Agricultura e Floresta, no Governo de seu próprio pai e, vejam com um salário de 4.000 doláres mensais, mas tinha conta no Barclays, polpuda e muitíssimas vezes maior do que se possa imaginar. Entretanto, a Guiné Oriental africana continua sendo um dos países mais pobres do mundo. O jovem ministro tem uma mansão de 35 milhões de dolares, em Malibu (Estados Unidos) e gastou 6 milhões e 300 mil dolares na compra de automóveis nesses últimos 10 anos.

A Global Wittness afirma que o City Bank Group facilitou o financiamento de guerras civis em Serra Leoa, permitindo o ex-Presidente Liberiano Charles Taylor a saquear as riquezas naturais de madeira. Por denúncias, esse ex-Presidente está sendo desde meados de 2009 julgado por crime de guerra no Tribunal Penal Internacional de Haia. O informe citado ressalta que “os bancos ajudam, direta ou indiretamente, os que usam as contas do Estado para enriquecer ou oprimir seus povos”. Essa descrição da Global Witness foi levada às vésperas da reunião do G-20, ocorrida, imaginem, em abril de 2009, em Londres ocasião em que se analisou a atual crise financeira mundial. Em declarações, quando da publicação de sua encíclica Veritas in Caritate, Bento XVI afirmou que a crise financeira mundial era motivada pela ganância de Estados e instituições bancárias.


*Germano Machado – Fundador do CEPA ( Círculo de Estudo Pensamento e Ação) Brasil, Jornalista da primeira turma da UFBA 49/52, Professor Aposentado da UCSAL e da UFBA, alguns livros publicados: Dois Brasis, Introdução a Euclides da Cunha, da Físca da Matéria à Metafísica do Espírito, Sintetismo – Filosofia da Síntese.
germanomachado83@gmail.com
Os artigos assinados não representam necessáriamente a opinião do Sentinelas da Liberdade. São da inteira responsabilidade dos signatários. Sentinelas da Liberdade é uma tribuna livre, acessível a todos os interessados.