
Movimento Desocupa Salvador
A  frase do título é da professora de urbanismo Naia Alban, mediadora da  primeira edição da mesa-redonda “A Cidade que queremos”, organizacda  pelo Teatro Vila Velha ontem à noite, e dá a medida da importância do  momento atual, em que a paisagem da cidade está sendo radicalmente  transformada, tendo como modelo de ocupação o que foi feito em São  Paulo, segudo o urbanista Heliodório Sampaio, que representou na mesa a  Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA).A mesa  dos trabalhos foi composta também pelo vereador Gilmar Santiago (PT),  presidente da Comissão de Planejamento Urbano e Meio Ambiente da Câmara  Municipal de Salvador; a promotora do Ministério Pùblico Estadual, Rita  Tourinha, Glória Cecília Figueiredo, da Sociedade Brasileira de  Urbanismo; Luis Edmundo, do CREA e João Pereira, da Federação de  Associação de Bairros (Fabs). As mesas redondas para debater qustões  atuais e o futuro da cidade serão realizadas na Sala Principal do Teatro  Vila Velha nos próximos meses, sempre às segundas-feiras, a partir das  19h.  
“A quem serve o  planejamento urbano?”, a pergunta crucial foi feita pela urbanista  Glória Cecília depois de apontar os últimos “demônios” que saíram “da  caixa de pandora” da prefeitura: as mudanças na legislação ambiental; no  Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) e na Lei de Ordenamento e  Uso do Solo (Lous); e nas áreas de preservação cultural e paisagística  (APCPs). Todas elas foram mudanças que ampliam o poder do privado sobre o  público, levando a uma situação em que “a privatização da cidade  inviabiliza a nossa condição de vida”, na medida em que passamos a viver  um cotidiano angustiante como o atual em Salvador.
Glória Cecília  afirmou ainda que as alterações na lei do sistema ambiental representam  reduções das áreas protegidas. No caso do Parque Pituaçu ¼ foi liberado  para urbanização com imóveis de área mínima de 1.500 m2. Reduções de  áreas verdes foram patrocinadas também na Mata dos Oitis e no rio Passa  Vaca, na Ilha dos Frades.
“Na Ilha foram  criadas zonas de exceção para permitir empreendimentos particulares”,  pontua a urbanista explicando que os mapas a que teve acesso demonstram  que as mudanças na lei foram feitas para beneficair proprietários de  lotes específicos do interesse de amigos do prefeito João Henrique.
 
Quanto às  alterações da Lous, o principal é que elas criam facilidades para as  chamadas “áreas prioritariamente hoteleiras” liberando em nove áreas da  Orla o gabarito de novas construções em mais 50% do que os limites  atuais. Assim como no caso da Ilha dos Frades, as nove áreas tem  endereço certo.
 
“Estão tratando  a todos nós, a população como se fossemos bobos”, zombou a urbanista,  acrescentando que “o planejamento urbano sempre esteve voltado para os  interesses econômicos”. Contudo, como também lembrou o presidente da  Fabs, João Pereira, a Constituição de 1988, que redefine a função social  da propriedade e da cidade criou novas referências para o planejamento  urbano, que desaguaram no Estatuto das Cidades, que consagra o princípio  do planejamento participativo, da afirmação da cidadania como condição  para a vida digna na cidade.
 
“A prefeitura  de Salvador está rasgando o Estatuto das Cidades, está impedindo o  direito à cidade. Vivemos aqui neste momento uma espécie de ditadura, de  um tipo de fascismo, em que o poder políico e econômcio agem sem nnehum  controle socia”, apontou Glória Cecília.
  Um dos  problemas deste modo de gestão e ocupação da cidade, apontado pelo  professor Heliodório Sampaio é que “os parâmetros urbanísticos atuais já  estão acima da capacidade física instalada”, ou seja, a infra-estrutura  atual de água, esgotos, transportes, etc, já está acima do limite, o  crescimento continua, portanto, desordenado; e todos nós teremos que  pagar para ampliar a infra-estrutura para que a cidade continue a  funcionar..
 
Benefícios da Lous  - “Ninguém conseguiu identificar nenhum benefício das dez emendas  feitas na Lous para a população de Salvador”, afirmou o vereador Gilmar  Santiago, que historiou para os presentes a tramitação da matéria na  Câmara, assegurando que as emendas, apesar de assinadas pelos  vereadores, “foram preparadas no Palácio Tomé de Souza pelo secretário  Paulo Damasceno” e a maioria que votou a favor desconhecia o seu  conteúdo.
 
Entre os  prejuízos decorrentes da aprovação das emendas à Lous, o vereador lembra  a extinção do Parque do Vale Encantado, reserva de 1 milhão de metros  quadrados de mata que foi liberada para a construção de prédios de 45  metros de altura. Citou também a liberação do gabarito para a construção  de prédios em diversos bairros, o uso de transcons na Orla; a retomda  pela prefeitura de área do parque tecnológico e ampliação do gabarito  para construções no entorno do parque.
 
As promotoras  Rita Tourinha e Cristina Seixas, que também estava presente, recordaram  as batalhas jurídicas contra a prefeitura por causa do PDDU desde 2002 e  da impotência para fazer com que cumpra-se a Justiça e as leis.  Recordou a imoralidade de prefeitura e vereadores governistas que  burlaram a decisão judicial que suspendeu a tramitação do projeto do  PDDU da Copa, retirando os artigos deste projeto e transformando-os em  emendas à Lous.
 
As duas  representantes do Ministério Público ressaltaram a importância da  mobilização da sociedade para evitar que as mudanças na Lous e outras  leis aprovadas no dia 29 de dezembro entrem efetivamente em vigor.