quinta-feira, 21 de junho de 2012

Por que Assange escolheu o Equador?



Saiu no G1 

Da BBC

Duas partes vinham ensaiando aproximação havia algum tempo.



A decisão do fundador do WkiLeaks, Julian Assange, de buscar asilo no Equador pode ter surpreendido muitos já que, este ano, o país vem sendo acusado internacionalmente de reprimir a imprensa privada.

Mas o governo equatoriano já vinha ensaiando uma aproximação com o jornalista australiano havia algum tempo.

Em novembro de 2010, o ex-vice-ministro das Relações Exteriores equatoriano Kintto Lucas ofereceu a Assange residência no país, para que pudesse 'divulgar livremente as informações que possui'.

A oferta foi rapidamente retificada pelo governo do presidente Rafael Correa como sendo uma oferta feita por iniciativa própria de Lucas. À época, o líder do país chegou a criticar o WikiLeaks por divulgar documentos confidenciais.

Mas em abril de 2011, o Equador expulsou a embaixadora americana após revelações - feitas pelo WikiLeaks - nas quais ela sugeria que Correa estaria ciente de acusações de corrupção feitas contra um chefe de política promovido a comandante de uma força nacional.

Desde então, Assange tem mantido contato próximo com a embaixada do Equador em Londres.

Entrevista
 
Muitos apontam como um divisor de águas nesta relação a entrevista conduzida em abril por Assange com Correa para o canal em inglês, financiado pelo governo russo, Russia Today.

Durante os 75 minutos de entrevista, Correa elogiou o trabalho da WikiLeaks, defendeu a liberdade de expressão, criticou o papel negativo de alguns órgãos de imprensa e encerrou o encontro com uma saudação amigável para Assange:

'Bem-vindo ao clube dos perseguidos!', disse o mandatário sul-americano.
Na entrevista, Correa também disse que os documentos publicados pela WikiLeaks fortaleceram seu governo 'porque as grandes acusações da embaixada americana eram que o governo do Equador promove um nacionalismo excessivo e defende sua soberania'.
'Sem dúvida somos nacionalistas e defendemos a soberania do país', disse Correa, que foi o único presidente latinoamericano entrevistado pelo programa, que já recebeu personalidades como o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah e o presidente da Tunísia, Moncef Marzouki.

Estratégia
 
Atualmente, o Equador decide se dá asilo político a Assange, que está refugiado na embaixada do país em Londres. O australiano luta contra a extradição para a Suécia onde enfrenta acusações de crimes sexuais.

Ele diz que as acusações são motivadas politicamente.

Analistas consideram que a concessão de asilo para Assange pode ser uma medida inteligente do governo Correa, que deve tentar a reeleição no ano que vem. Ela pode ser uma oportunidade de mudar a percepção de que persegue a imprensa.

Correa se diz vítima da imprensa privada equatoriana, que historicamente serviu os interesses das elites econômicas do país.

No começo do ano, ele ganhou dois processos milionários contra jornalistas. O jornal 'El Universo' foi multado em US$ 40 milhões e seus donos condenados a três anos de prisão.
Dois jornalistas investigativos foram multados em US$ 10 milhões por terem difamado a reputação do presidente em um livro que trouxe detalhes de contratos governamentais.
Após duras críticas internacionais, Correa perdoou os jornalistas.

O editor do jornal privado 'Hoy', Marlon Puertas, disse à BBC que 'se há algum mérito que devemos reconhecer neste governo é que nunca toma uma decisão improvisada'.

Os salários nas universidades

Salário de Professor Adjunto 1 por R$ 12.197,45 na particular



Tenho falado bastante sobre a desvalorização salarial dos professores nas universidades federais. inclusive apresentei um estudo mostrando que hoje um professor com doutorado recebe inicialmente menos do que no ano de 1998, durante o Governo FHC.

De lá para cá, as carreiras foram progressivamente se recolocando no Governo Federal, à exceção dos professores universitários.

Para termos uma ideia, um pesquisador do IPEA com doutorado entrava ganhando R$ 300 a menos que um Professor Federal, e hoje entra ganhando R$ 5 mil a mais.
Será que essa desvalorização do conhecimento é geral na carreira de professor?
Em outras palavras, será que na inicitiva privada se pagaria menos que isso?
Para começar, é difícil falar em iniciativa privada nestes casos porque praticamente não há pós-graduações e pesquisa em instituições privadas. Apenas alguns poucos casos.
Podemos citar 4 deles: a PUC-Rio, a FGV, o Insper (antigo Ibmec-SP) e a Mackenzie-SP.
Falar da PUC-Rio é até covardia, porque tem hoje a melhor nota média das pós-graduações no Brasil. A FGV ainda consegue pagar melhor. O Insper também poderia ser um caso à parte, já que tem uma lógica muito própria de mercado. Mas nos três casos o menor salário pago a um Doutor em 40 horas semanais é de R$ 15 mil, incluindo aí alguns ganhos com pós-graduações pagas.

Vamos falar especificamente da Mackenzie, que é uma instituição que possui graduação e pós-graduação, tem como meta melhorar sua imagem com publicações, em situação bastante semelhante a uma Universidade Federal de razoável reputação. A Mackenzie não tem fama de ser pagadora de salários altos. Tem uma pós-graduação com nota 5 na Capes (igual a UFPE) na área de Administração.

Está aberta uma seleção para Professor na minha área (Finanças), exigindo-se o Doutorado, para ser Professor Adjunto.
Salário inicial? R$ 12.197,45
Só para efeitos de comparação, nas Ifes é de R$ 7.333,00.
Você pode pensar…nas federais se trabalha muito menos, já que o professor apenas faz pesquisa e pega duas ou três turmas turmas, além de participar de algumas outras atividades.

Vejamos o que diz o Item 1 da Seleção da Mackenzie, sobre as condições de trabalho.
O candidato aprovado será contratado  en regime de 40 horas semanais, na categoria de  Professor Adjunto I, para dedicar-se a tarefas de docência na Graduação (4 horas) e na Pós-Graduação Strito Sensu (4 horas), às atividades de orientação, pesquisa vinculada ao núcleo de pesquisa da respectiva linha, extensão, trabalhos administrativos eventuais e à participação de reuniões colegiadas.

Isso mesmo, já especificam que ele vai dar uma turma de graduação, uma de pós, e fazer pesquisa. Algo muito parecido com os contratos das Ifes.

E sem Dedicação Exclusiva. nada impede que o professor faça uma pesquisa externa ou mesmo uma consultoria.

Pode-se pensar que nas federais outros benefícios seriam oferecidos, como a aposentadoria integral, mas isso já acabou. Os que entrarem agora entrarão em um serviço de previdência complementar.
Mas aí o Item 3 fala disso:
Os professores selecionados serão contratados com base na CLT, como Professor Adjunto I, com o salário de R$ 12.197,45. Além do salário e benefícios usuais o funcionário pode optar  por uma previdência privada. Para suporte à pesquisa a Instituição conta com o apoio financeiro do Fundo Mackenzie de Pesquisa.
A Instituição está também pagando uma previdência complementar e o principal: ajuda com apoio financeiro a pesquisa. Isso proporciona ao pesquisador se incluir em grupos internacionais, ao dispor de recursos para passagens e outras despesas. Estes recursos são ridicularmente distribuídos nas Ifes. No caso da UFPE, a última vez que pedi dinheiro para apresentar um trabalho no exterior me deram R$ 300,00 que me neguei a receber.
Na PUC-Rio, onde estudei, paga-se ao Professor até R$ 10 mil por um trabalho publicado em uma revista no Brasil. O valor é maior se for no exterior. Nos últimos anos publiquei aproximadamente 30 artigos, muitos apresentados no exterior, e o máximo que a UFPE me ofereceu foram os R$ 300,00. Como estudante de Doutorado da PUC-Rio apresentei trabalho na Rússia, Suécia, EUA e Chile, financiados pela Universidade carioca, que tinha em mente que isso era importante para sua imagem.

Por que não tento ir para lá ou para a Mackenzie?

Já me perguntei isso várias vezes e a única resposta que encontrei é porque gosto da UFPE e do Recife, onde estão minha família e amigos.

E se você pensa que esta seleção da Mackenzie será concorridíssima, está enganado. Não tem muita gente disponível nessa área. No Brasil não passa de 100 pessoas com Doutorado que publicam em finanças. Muitos foram para os bancos (os meus amigos de Doutorado).
Isso tudo foi apenas para mostrar como a defasagem salarial do professor universitário é real.

E olha que lá na Mackenzie (foto acima) não vou precisar cuidar de burocracia para progressão, e muito menos ouvir meus alunos reclamarem que nem papel higiênico há no banheiro.

São João em Campina Grande é destaque da Paraíba

PALCO DO ARRAIL “HILTON MOTTA”

21/06
Quinta

FORRÓ BACANA
SACANEAR VERSAILLES
CORONÉ GRILO

22/06
Sexta

GRUPO DE TRADIÇÕES POPULARES ACAUÃ DA
SERRA
FORRÓ SAFADO
LUIZINHO CALIXTO
ASSUM PRETO
FORRÓ CAÇUÁ

23/06
Sábado

CIA. FOLCLÓRICA ORIGINIS
ELBA RAMALHO
GERALDINHO LINS
GENIVAL LACERDA & JOÃO LACERDA
TONY DUMOND

24/06
Domingo

GRUPO DE DANÇA CAETÉS
OSWALDINHO
LÉO MAGALHÃES
ADRIANO JOSÉ

25/06
Segunda

FORRÓ MALICIAR
AFRODITE
DIDA PACHEQUINHO

26/06
Terça

OS NONATOS
MR. JÔ
FORROZÃO VIP
FORRÓ DO LITORAL

27/06
Quarta

ZÉ RAMALHO
FERRO NA BONECA
ZÉ CALIXTO
LUAN & FORRÓ ESTILIZADO

28/06
Quinta

GRUPO DE PROJEÇÕES FOLCLÓRICAS RAÍZES
ALCYMAR MONTEIRO
MAGNÍFICOS
ASSISÃO

29/06
Sexta

GRUPO ACAUÃ DA SERRA
WALDONYS
RANNIERY GOMES
FELLIPE E RANGEL
CICINHO LIMA

30/06
Sábado

GRUPO FOLCLÓRICO CIA. LIVRE
LOURO SANTOS
INAUDETE AMORIM
LIS ALBUQUERQUE
FORRÓ DAS MINA

*SUJEITO À ALTERAÇÕES
.

Fonte: Prefeitura de Campina Grande

Recife celebra Gonzagão com mais de 350 apresentações


Foto: Beto Figueiroa


Com o slogan “São João tradicional, a gente faz na Capital”, a festa junina do Recife promove festejos por toda a cidade com shows de artistas de várias gerações, mostrando a tradição e a renovação do forró e da música regional baseada nos legítimos valores da cultura nordestina. São mais de 350 apresentações nos seis polos de animação (Sítio Trindade, Parque Dona Lindu, Pátio de São Pedro, Praça Arsenal da Marinha, Rua da Tomazina e Nascedouro de Peixinhos), além dos 18 polinhos comunitários e 14 arraiais nas regiões político-administrativas (RPAs). A festa junina também ocupa a Pracinha de Boa Viagem com o projeto “Arte na Praça de São João” e os mercados públicos com apresentações de trios de forró pé-de-serra, repentistas e poetas.

A abertura da festa aconteceu em 08 de junho no Sítio Trindade, em Casa Amarela, com grande show em homenagem a Gonzagão, sob a direção musical do sanfoneiro Gennaro. No espetáculo de abertura do São João do Recife, o público irá apreciar as obras de diversas fases da carreira do rei do baião. A apresentação traz um grande elenco, incluindo de artistas que conviveram com Luiz Gonzaga, ou foram influenciados pela sua obra: Luizinho Calixto, Jurandy da Feira, Quinteto Violado, Maciel Melo, Silvério Pessoa, Josildo Sá, Cristina Amaral, Irah Caldeira, Maciel Salu, Terezinha do Acordeon, Geraldo Maia, Isaar, Maestro Duda, Marcelo Caldi, Vinícius Sarmento, Camarão, grupo Rabecado e banda Fim de Feira.


A homenagem a Gonzagão vai além da música, conta ainda com o projeto especial Ocupação Moda Cultural e a série de encontros Jornadas Gonzagueanas. Depois do sucesso durante o Carnaval, o Ocupação Moda Cultural ganha versão junina. Quem for ao Sítio Trindade vai encontrar um espaço expositivo com roupas inspiradas em músicas de Luiz Gonzaga e fotografias da Missa do Vaqueiro (Serrita – PE) produzidas por Aluísio Costa Júnior. E no dia 21 de junho, haverá uma “quadrilha desfilada”. Modelos criados pelos estilistas Lúcia Spessato, Carol Azevedo, Melk Z-Da e Jailson Marques serão apresentados num desfile coreografado como uma quadrilha junina.

Cenografia - No Sítio Trindade, para homenagear o centenário de Luiz Gonzaga, a decoração remeterá ao Sertão Nordestino. Chapéus de palha, jarros de barro com cactos, bonecas de pano e luminárias em forma de gaiolas irão compor o cenário. Na área central do Sítio, haverá ainda uma peça-monumento em formato de sanfona de fibra de coco, revestida por fibra de vidro e resina, assinada pelo artista plástico Sávio Araújo, medindo 7x 2,5m. Os demais pólos recebem os mesmos elementos em homenagem a cultura sertaneja, além das tradicionais bandeirinhas e balões da popular decoração junina.

Caminhada do Forró - No dia 7 de junho, a partir das 18h, é realizada a Caminhada do Forró com roteiro que segue da Rua da moeda até a Praça do Arsenal. O arrastão de forrozeiros é animado pela Forrovioca.

Jornadas gonzagueanas - Todos os anos, o Memorial Luiz Gonzaga realiza debates sobre a cultura junina. Em 2012, devido à programação em homenagem ao centenário do grande ícone da cultura nordestina, o ciclo de debates foi reforçado com convidados representativos na história de Gonzagão e estudiosos de sua obra. De 08 a 10 de junho, as Jornadas Gonzagueanas realizarão três debates na Livraria Cultura (Paço Alfândega). Nesta sexta (08), João Silva (PE), Marcelo Melo (PE), Onildo Almeida (PE) e Jurandy da Feira (PE) compõem a mesa de debate “Memorial dos parceiros”, relembrando momentos vividos junto com Luiz Gonzaga. No sábado (09), com o tema “Baião na cidade grande”, Ricardo Cravo Albim (RJ) e Renato Phaelante (PE) debatem com mediação de Saulo Gomes (PE). Encerrando o ciclo de debates, no domingo (10), o pesquisador Climério de Oliveira (PE) e os jornalistas Fernando Gasparini (RJ) e Dominique Dreyfus (França) conversam sobre o tema “Vida do Viajante”, título da biografia assinada pela francesa sobre Luiz Gonzaga.

Arte na Praça – Todas as quintas-feiras de junho, a Pracinha de Boa Viagem irá se transformar em um verdadeiro arraial junino. O “Arte na Praça de São João” vai levar apresentações de grupos teatrais encenando danças típicas do período junino como forró, xote, xaxado, baião e coco, das 20h às 22h. O “Arte na Praça” é uma ação da Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Turismo. A programação também traz recital de poesias de Literatura de Cordel, banda de forró com cinco casais de bailarinos dançando os ritmos juninos com a participação dos turistas.

Fórro e cantoria nos Mercados - Trios de pé-de-serra, emboladores, repentistas e violeiros animam os mercados públicos da Encruzilhada, Boa Vista, Madalena e Cordeiro em programação, a partir das 13h, aos sábados (dias 16 e 23 de junho).


Caravana do Forró - A Forrovioca irá percorrer bairros do Recife levando shows de forró para vários polinhos comunitários.

Quadrilhas Juninas - Uma das manifestações mais importantes do período junino e que tem ganhado ainda mais força a cada ano, a quadrilha tem espaço garantido nos folguedos com a realização dos Festivais Pernambucanos de Quadrilhas Juninas Adultas e Infantis.O 28º Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas Adultas, com cerca de 50 grupos, atrai um numeroso público a diversos pontos da cidade para prestigiar a criatividade e a animação dos grupos. As eliminatórias acontecem nos dias 16 e 17 de junho nas RPAs 2 (Nascedouro de Peixinhos), 3 (Sítio da Trindade), 5 (Praça Noel Rodrigues – San Martin) e 6 (Escola João Emereciano - Ibura). A etapa final acontece entre os dias de 20 a 23 de junho. E o Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas Infantis chega à sua 14ª edição, com sete quadrilhas. Os grupos se apresentam no dia 24 no Geraldão.

Procissão dos Santos – Local de tradição religiosa e de intensa participação popular nos ritos litúrgicos, o Morro da Conceição sedia, pelo quarto ano consecutivo, a Procissão dos Santos do Ciclo Junino, no dia 16 de junho. O cortejo é uma homenagem aos santos São João, São José, Santo Antônio, São Pedro, Santa Isabel e Sant’Ana, representantes dos festejos juninos. A concentração acontece diante da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Morro da Conceição, e segue em direção ao Sítio Trindade com bacamarteiros à frente fazendo a guarda dos santos.


Desfile das Bandeiras - Reforçando o sincretismo religioso no Recife, o Desfile das Bandeiras de Santos Juninos, agrega praticantes de várias religiões ou mesmo admiradores. No dia 22 de junho, as ruas do Centro recebem o desfile que reforça a homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro. A procissão sai da Praça Maciel Pinheiro, passa pela Rua Nova, até chegar ao Pátio de São Pedro.


Procissão de São Pedro e Concurso de Barcos Decorados - No dia 29 de junho, às 13h, os pescadores da Colônia Z1, do Pina, desfilam com suas embarcações para honrar o santo que marca o fim do ciclo junino. Na ocasião acontece também o concurso do barco mais bonito
.

Fote: Prefeitura do Recife.

A aposta da agência Pública em um novo modelo de jornalismo



No Brasil ainda são poucos os jornalistas que se arriscam a explorar novos caminhos para a profissão. Nos Estados Unidos eles são até bem numerosos, mas aqui o projeto Pública é um dos raros a tentar um novo modelo de exercício do jornalismo. Natalia Viana, uma repórter com dez  anos de experiência, com mestrado na Inglaterra e colaborações com publicações estrangeiras, é junto com Marina Amaral e outros dez colaboradores uma das responsáveis pelo projeto Pública, que conta com financiamento da Fundação Ford e da Open Society, duas instituições estrangeiras que apoiam novas iniciativas na imprensa. Natalia explica como opera a agência Pública.

Como você compararia o projeto Pública com o ProPublica, dos Estados Unidos? Existem outros projetos similares em curso noutros países, como o Notify, o Wikinews, Spot Us, NewsMill e Locast, só para citar alguns. Quais os grandes diferenciais do Pública em relação a esses projetos?

Natália Viana – A Pública tem uma ligação direta com o modelo da ProPublica; ela é inspirada nos centros de jornalismo investigativo sem fins lucrativos que surgiram nos Estados Unidos e hoje em dia começam a aparecer em diversos países. O ProPublica não é o primeiro deste tipo de organização nos EUA, longe disso. Desde o fim da década de 1970, organizações sem fins lucrativos para jornalismo investigativo, pautado pelo interesse público, existem nos EUA. Um dos mais antigos é o Center for Investigative Reporting, com o qual temos parcerias em alguns projetos. O ProPublica era até recentemente o mais “rico” destes centros, com um orçamento de cerca de 10 milhões de dólares por ano.  Muitos desses centros são parceiros da Pública, como o Center for Public Integrity, o Bureau of Investigative Journalism, o CIPER-Chile, 100 reporters e Florida Center for Investigative Reporting. A Pública participa, em nível internacional, do Global Investigative Network, uma rede de organizações similares do mundo todo.

A Pública vem dessa tradição, mas voltada para o contexto brasileiro. Ela é obviamente uma organização muito menor que a ProPublica — estamos ainda no nosos primeiro ano de existência — mas tem uma missão semelhante: a de produzir reportagens de fôlego, pautadas pelo interesse público, visando ao fortalecimento do direito à informação, à qualificação do debate democrático e à promoção dos direitos humanos. Seus principais pilares são o interesse público e o jornalismo independente.

Os outros projetos que você citou são muito diferentes. O Spot.us é um site de crowdfunding; o Wikinews é um site de jornalismo colaborativo; o News Mill é um site de opinião; e o Locast é um site que permite formatos de mídia interativos para as pessoas montarem  suas histórias. O que eles têm a ver com a Pública? O fato de serem iniciativas jornalísticas novas, baseadas na internet, que exploram os limites de modelo, formato, organização da produção e financiamento do jornalismo. Eu encaixaria o WikiLeaks no mesmo rol de iniciativas. Nesse sentido, a Pública busca tanto uma experimentação de modelo (sem fins lucrativos ou comerciais), de formato (com vídeo, uso de mídias sociais e reportagens longas e aprofundadas, por exemplo, raras de serem encontradas na web) e de organização do trabalho através de modelos de parcerias com repórteres, organizações e veículos.  

Qual a audiência procurada para o projeto Pública?

N.V. – A Pública não é um site e, portanto, não tem um público-alvo. Somos uma ONG cuja missão é produzir e fomentar o jornalismo de qualidade. Sempre dizemos que o nosso site (www.apublica.org) é um veículo-meio e não um veículo-fim. Colocamos toda nossa produção ali para que seja “roubada” por outros veículos (temos até uma seção que se chama “Roube nossas historias”). Tudo é feito em creative commons para que seja utilizado livremente por outros veículos, desde que citada a fonte e com link para o nosso site. Nosso objetivo é que o maior número possível de jornalistas e veículos utilize nosso material. A ideia é espalhar nossas histórias. Acreditamos que a informação de qualidade deve ser livremente disseminada, já que é essencial para qualificar o debate democrático sobre os grandes temas nacionais.

Qual a relevância que vocês atribuem à curadoria informativa no projeto do Pública?

N.V. – Total. Nossas pautas são definidas de acordo com temas que consideramos de alta relevância pública para o momento e para o futuro próximo no Brasil. Por isso definimos três eixos investigativos que orientam nosso trabalho nesses primeiros anos: "Tortura e Ditadura", sobre a violência do Estado sobre o cidadão (publicamos reportagens sobre a ditadura, como "Mr. Dops", e tortura); "Amazônia", tema diretamente ligado ao modelo de desenvolvimento que o país elegeu,  com uma série de reportagens sobre uma líder ameaçada de morte por madeireiros no sul da Amazônia e outras, de reportagens a jornalismo de dados; e, por fim, os "Megaeventos", oportunidade e risco para o país e para a população com a proximidade da Copa e Olimpíadas. Nesse terceiro eixo desenvolvemos desde o início do ano uma experiência de jornalismo cidadão - o Blog Copa Pública - e produzimos reportagens investigativas sobre o mundo do futebol.

Qual a importância que o modelo de sustentabilidade financeira do projeto Publica atribui ao chamado
micro-funding? E qual a estratégia que desenvolvem para viabilizá-lo?
N.V. – Não tenho certeza do que você quer dizer com micro-funding. Se quer dizer pequenos projetos apoiados de maneira individual (digamos, com valor até R$ 10 mil), nós achamos muito importante, mas tivemos poucas experiências do tipo. Recentemente fechamos uma parceria nesse sentido com a Rede Brasil Atual, que está co-financiando quatro microbolsas de reportagem selecionadas por meio do Concurso de Microbolsas que lançamos no nosso site. Fizemos uma chamada de projetos de reportagem, recebemos 70 projetos e premiamos quatro. Como havia outros muito bons que não foram contemplados, a Rede Brasl Atual entrou com uma parceria para financiar outros projetos.   

O modelo de sustentabilidade financeira é hoje o grande dilema de quase todas as novas iniciativas voltadas para o desenvolvimento do jornalismo na web. Existe algum modelo que vocês tomam como benchmark?
N.V. – A sustentabilidade financeira é o grande dilema do mundo hoje – não só no jornalismo e nem só na web! O jornalismo entra dentro de um caldeirão de novas iniciativas integradas à chamada cultura digital, e que questiona inclusive a organização econômica com novos modelos. Não é à toa que a Pública está sediada na Casa da Cultura Digital, em São Paulo. Não há, na web, um modelo que consideramos mais bem-sucedido neste sentido. Veja: o Facebook acabou de abrir o seu IPO; o Twitter busca uma maneira de arrecadar dinheiro com propaganda; o Youtube recentemente se encharcou de anúncios. Há três anos, nada disso teria sido previsível. Essa é a maior riqueza deste momento: não há modelos. Temos que inventá-los.     

Uma das propostas do Pública é desenvolver o jornalismo investigativo, mas existem duas vertentes possíveis: a de consumo imediato para atendimento de questões da agenda noticiosa diária; e investigações de maior profundidade e complexidade que demandam mais tempo e dinheiro. Qual das duas é prioritária para o Publica?

N.V. – O termo jornalismo investigativo é polêmico. Para nós, o jornalismo investigativo é aquele que se aprofunda num tema de maior complexidade e o estuda a fundo. Aqui no Brasil, é a boa e velha reportagem – e por isso somos uma “agencia de reportagem e jornalismo investigativo”. Não é à toa que as duas coordenadoras da Pública aprenderam jornalismo com Sérgio de Souza  – fundador e editor de dezenas de publicações baseadas em reportagem desde sua participação no dream team  da Realidade – e a sua turma. Somos de uma linhagem de jornalistas que acreditam na reportagem, e acreditam no repórter. 

Não fazemos notícia. Há uma frase do jornalista americano T. D. Allman que gosto muito, e resume o que  sentimos com relação ao jornalismo investigativo: “Jornalismo genuinamente objetivo é aquele que não apenas apura os fatos, mas compreende o significado dos acontecimentos. É impactante não apenas hoje, mas resiste à passagem do tempo. É validado não apenas por 'fontes confiáveis', mas pelo desenrolar da história. E dez, vinte, quinze anos depois ainda serve como espelho verdadeiro e inteligente do que aconteceu”.

Fazer jornalismo sério na web, levando em conta o público, coloca vocês numa rota de colisão com a chamada grande imprensa. Este conflito pode alterar a estratégia editorial e a sustentabilidade financeira do projeto?

N.V. – Não acredito que haja uma rota de colisão. A Pública não é um veículo, e portanto não vem buscar o espaço que um veículo ocupa. Ela pretende ser uma agência, um produtor e distribuidor de conteúdo em creative commons. Queremos que a mídia tradicional utilize também o nosso material. [Creative Commons é um projeto global, presente em mais de 40 países, que cria um novo modelo de gestão dos direitos autorais. Ele permite que autores e criadores de conteúdo, como músicos, cineastas, escritores, fotógrafos, blogueiros, jornalistas e outros, possam permitir alguns usos dos seus trabalhos por parte da sociedade.] 

Há uma forte tendência entre os projetos de jornalismo na web de explorar a vertente local, hiperlocal e comunitária. Como vocês veem esta alternativa?

N.V. – Pessoalmente acho excelente. No contexto brasileiro, de uma grande concentração da mídia, acho realmente fantástico. E pode ser bem feito sem grandes recursos. Há um enorme campo para o que chamamos de jornalismo cidadão. Além das reportagens aprofundadas que produzimos a partir deste ano (que é o primeiro ano de funcionamento da organização com estrutura, financiamento da Ford Foundation e da Open Society Foundation), temos esse blog que é uma experiência de jornalismo cidadão: o Copa Publica, cujo objetivo é acompanhar como as organizações populares estão se preparando para debater tudo o que envolve a Copa do Mundo de 2014. Um evento que vai mexer com o Brasil de uma maneira poderosa, não só estruturalmente como simbolicamente. E já está.

Palavra de jogador



Paulo André, do Corinthians: "Hoje temos cargos políticos e não técnicos para conduzir o futebol" 



Será que a discussão sobre os impactos da realização da Copa do Mundo no Brasil não esqueceu de incluir ninguém? Especialistas, dirigentes, políticos, a própria Fifa… Muitas são as vozes ouvidas neste debate. Mas e os jogadores? O que os grandes protagonistas do evento têm a dizer sobre ele?

O Copa Pública convidou o zagueiro Paulo André, atualmente no Corinthians, para refletir sobre a organização da Copa do Mundo de 2014 e apresenta aqui um jogador que foge ao discurso insosso adotado por alguns de seus companheiros de profissão, ensaiados nos “media-training” das assessorias de imprensa, e não teme polêmicas, criadas a qualquer declaração das estrelas da festa, os jogadores.

“Muito provavelmente a gente não vai ter legado, não vai ter boas coisas após a Copa do Mundo a não ser dívidas milionárias que serão pagas por nossos impostos” diz sem medo de melindrar ninguém. Paulo André se preocupa com as condições de trabalho dos atletas, a decadência técnica e a gestão do futebol brasileiro. Articulado, o zagueiro é autor do livro “O Jogo da Minha Vida” (Editora Leya), lançado em 2012, e parece determinado a incluir de vez a voz dos protagonistas do futebol na sociedade.

O que você acha do Brasil sediar a Copa do Mundo? 

Bom, inicialmente (sou a favor) sim. Como trata-se do maior evento esportivo do planeta e sendo o país do futebol, eu acho que é interessante para um país que está se desenvolvendo receber a Copa do Mundo. Então, na essência eu sou a favor. Mas aí quando você entra nos pormenores, nas entrelinhas, acho que o foco deveria ser o legado que deixa para as futuras gerações como centros esportivos e formação de jovens atletas. Muito provavelmente a gente não vai ter esse legado, não vai ter boas coisas após a Copa do Mundo a não ser dívidas milionárias pagas com os nossos impostos.

O atleta, enquanto protagonista da Copa do Mundo, poderia participar mais da organização da competição?

De alguma maneira os jogadores estão alienados com relação ao evento. A gente fica só esperando, a gente enquanto classe, assim como a população em geral, fica esperando 2014, a realização dos jogos para comemorar, para festejar e acaba ficando um pouco alheio a toda a política e tudo o que envolve essa montagem do palco, ou dos palcos para a Copa do Mundo. Não sei se caberia aos atletas se envolver na organização, porque essa discussão é entre governos federal, estadual e municipal, além é claro da Confederação e das Federações de futebol. Acho que ex-atletas deveriam ter cargos dentro dessas federações e confederações e aí sim representar de alguma maneira e através da sua experiência os atuais jogadores. 

Na íntegra: Pública .

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