Multicultura - Entrevista com o guitarrista Ricardo Primata
Maísa Carvalho Amaral e Antonio Nelson Lopes Pereira
Muitos ficam indignados quando o assunto é Rock baiano, pois o Estado tem como raiz o axé e o pagode. Mas músicos como Ricardo Primata mostram que, apesar de ter um pequeno público, o Rock ferve na veia dos baianos. Com novo CD no mercado, Espelhos da Alma, Primata fala para o Sentinelas sobre a produção, lançamento do disco, rock baiano... dificuldade de divulgação na grande mídia.
Ricardo Primata – Às vezes quando acabo de tocar, vem alguém e fala ‘poxa, legal seu som, parabéns’. Você é da onde? Eu falo: da Bahia, de Salvador, e eles dizem: é mentira! As pessoas não acreditam, pois aqui temos a tradição do axé e do pagode, então as pessoas se assustam, pois não deixa de ser uma surpresa.
SL – Você começou a desenvolver seu dom musical com 11 anos. Gostaria que você me falasse como é tocar rock metal/progressivo na "terra do axé"?
R.P – Comecei na verdade com sete anos. Ficava observando meus tios tocando, um tocava guitarra e o outro baixo. Foi ai que tomei gosto pela música. Com 11 anos, comecei a tocar violão. Fiz o curso de violão popular, depois entrei na escola da Ufba e fiz um curso de violão erudito. Sempre estudando. Acabei o segundo grau e cheguei até fazer vestibular para música, mas depois resolvi fazer Administração. Já trabalhava com música, minha renda já era com música. Assim que terminei a faculdade, resolvi cair de cabeça na música. O fato de está aqui em Salvador fazendo show, que tem um público pequeno, talvez seja porque sou muito caseiro, minha família toda está aqui e gosto de Salvador para morar. Mas tem cinco anos que estou indo para São Paulo, fazer workshop, indo também para o interior. Estou saindo mais e sentindo a necessidade de expansão. Estou com planos para ir para Europa.
SL – Espelho da Alma. Porque esse título?
R.P - São músicas que eu compus durante a minha trajetória. Tem algumas que são recentes e outras que são atuais. Em 2005 fiz Visões, com quatro faixas. É o reflexo do que eu sou musicalmente, a minha história musical está no CD. Tem uma fase que estou mais Rock and Roll, outra mais regional. Tem um pouco de tudo. Acho que está super eclético.
SL- Como foi ter a participação de Bule-Bule e Armandinho no CD?
R.P - Foi ótimo. Primeiro que sempre fui fã do trabalho dos dois. Bule-Bule é uma figura ilustre, Armandinho também. Foi perfeito.
SL – Qual a sua avaliação do Rock baiano atual?
R.P – O Rock baiano é um Rock forte, com muita energia, mas infelizmente não tem apoio. Se me perguntarem, existe Rock baiano? Eu vou dizer: Existe, porque têm pessoas que querem e estão alimentando, mas ainda é bem pequeno. Para o Rock baiano conseguir chegar a algum lugar tem que se unir e deixar de ser segmentado.
SL - Foi difícil para você conseguir os parceiros que tem hoje?
R.P - Foi sim. Tudo na vida é um pouco difícil, nada cai do céu. Batalhei muito para chegar até aqui. O pouco que tenho foi com muita luta. Estou super satisfeito. O começo é sempre difícil, mas depois que o negócio andou ficou mais tranquilo. O CD, na verdade, não teve nenhuma parceria.
SL- Porque você fez o lançamento do CD em São Paulo?
R.P – São Paulo é um dos grandes centros urbanos e as pessoas que curtem o show estão lá. Tem um público muito grande. Escolhi pela estrutura.
SL – Quando vamos ter um show de Ricardo Primata em Salvador?
R.P – No final de outubro e começo de novembro devo fazer. Infelizmente as primeiras apresentações não serão com bandas e sim pocket shows. Vamos pegar algumas lojas de CDs que oferecem espaços culturais e fazer apresentações.
SL- Você tem dificuldade de divulgar seu trabalho na grande mídia?
R.P - Na grande mídia sim, tenho dificuldade, porque tem pouco espaço, mas na mídia específica¹ não tenho dificuldade nenhuma, tenho uma divulgação muito boa. Já fiz algumas apresentações em programas locais como Mosaico e Soterópoles.
SL – Quais regiões do Nordeste já conhecem Primata?
R.P – As cidades de Santo Antônio de Jesus, Valente, Jacobina, Miguel Calmon e Camaçari, mas só na Bahia.
SL- A divulgação do trabalho na internet possibilita abrir portas?
R.P - Bastante. Desde o disco Visões, disponibilizo material no site, e pessoas até mesmo do Acre interagem comigo devido a essa divulgação.
SL- Poderia deixar uma mensagem para as pessoas que estão iniciando na área do rock?
R.P – Em qualquer área devemos fazer o que gostamos. Para quem está na área musical, que tenha o contato diário com músicas. Consumir e expressar o sentimento.
¹ veículos que publicam matérias sobre o gênero musical do artista.
Foto: Antonio Nelson