Saiu no site da revista Caros Amigos 20/10/2011
Para especialista, feijão transgênico foi liberado no Brasil sem estudos consistentes
Em entrevista, o assessor técnico da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, Gabriel Fernandes, aponta as falhas na liberação de sementes transgênicas no Brasil e os problemas de seu uso indiscriminado. Apesar das polêmicas em torno do tema, segundo o assessor, somente entre 2008 e 2011 foram liberados 29 tipos de sementes transgênicas, entre soja, milho e algodão, e o feijão é o próximo alvo. Para piorar, o uso dos trangênicos avança em parceira com o aumento do uso de agrotóxicos nas lavouras. Confira a entrevista:
Por Paula Salati
Caros  Amigos - Foram apontadas irregularidades e erros no estudo da Embrapa  sobre o feijão transgênico 5.1. Gostaria que comentasse um pouco sobre  as falhas encontradas no estudo.
Gabriel Fernandes -  Foram apontados dois tipos de problemas: estudos não realizados e  estudos de consistência duvidosa. Os testes de campo foram feitos em  apenas três localidades (Londrina-PR, Sete Lagoas-MG e Santo Antônio de  Goias-GO), enquanto a lei exige que sejam gerados dados em todas as  regiões onde a nova semente poderá vir a ser plantada. Ou seja, as  informações disponíveis são insuficientes em termos nacionais. Nenhum  estudo ambiental foi feito no Nordeste, que responde por cerca de 25% da  produção nacional de feijão.
Não foram feitos ensaios  alimentares com animais prenhes nem ao longo de duas gerações, também  requisitados por lei. Sem isso não se pode ter indicativos do risco  potencial de médio e longo prazo decorrente da ingestão continuada desse  produto. Lembremos que o brasileiro consome em média 9 kg de feijão por  ano.
Um dos membros da Comissão Técnica Nacional de  Biossegurança apresentou parecer criticando a fragilidade dos dados da  Embrapa, com destaque para a avaliação de segurança alimentar. De 10  ratos que fizeram parte de um experimento, apenas 3 foram testados,  todos machos e antes de atingirem idade reprodutiva, quando há grandes  mudanças hormonais. Mesmo assim foram observadas diferenças em relação  aos que consumiram feijão comum, como maior tamanho das vilosidades do  intestino delgado. Observou-se ainda diminuição do tamanho dos rins e  aumento no peso do fígado dos animais alimentados com o feijoeiro 5.1.  São dados que sugeririam ao menos a repetição dos ensaios. Cabe  perguntar qual revista científica aceitaria publicar estudo feito com  uma amostra que sequer permite análise estatística. Mesmo assim o  parecer crítico foi derrotado.
Além disso, pesquisadores  independentes da Universidade Federal de Santa Catarina criticaram o  fato de dados indispensáveis à análise de risco do produto terem sido  mantidos sob sigilo.
 Caros  Amigos - Como avalia a votação da liberação do feijão transgênico pela  CTNBio no Brasil? Há pressões econômicas envolvidas? Confira na íntegra:
 
