segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Exclusivo: Carnaval de Olinda e Recife no pós-manguebeat com Academia da Berlinda




(Yuri é o segundo da direita pra esquerda. Foto: Rodrigo Zanotto)

Sentinela - Antonio Nelson*

Pernambuco vibra em celebração carnavalesca desde a segunda quinzena de janeiro de 2012. E para dançar, refletir e agir com responsabilidade no Carnaval Multicultura - descentralizado -, a banda Academia da Berlinda, cumpre agenda de shows em Olinda e Recife. É no Sítio de Seu Reis, na Rua Dom Pedro Rosser, Carmo, em Olinda, na quarta-feira (22/02), às 18:40h, que os ritmos regionais com a fusão da música latina irá contagiar cidadãos do mundo!

Já no Recife, no mesmo dia, às 21h, Academia da Berlinda corre para embalar a comunidade de Brasília Teimosa, bairro onde o presidente Lula transformou a infra-estrutura dos moradores para melhor, que era de palafitas e odor insuportável, de acordo com dona Ivete Vieira, 65 anos, modadora há mais de 10 anos, que falou com exclusividade para o Sentinelas da Liberdade.


F
oi nas ladeiras de Olinda, em Pernambuco, que o
Frevo, Maracatu, Coco, Ciranda, e múltiplos ritmos do Leão do Norte, contagiaram Yuri Rabid, contrabaixista da banda pernambucana Academia da Berlinda.

Em nosso diálogo, Yuri recorda dos famosos bailes da década de 1970, no Recife, e como se configurou seu encontro com os integrantes da Academia da Berlinda. A banda participou de uma coletânea lançada na Argentina, no segundo semestre de 2011, em tom latino, representando o Brasil, com a música Brega Frances, registrada na trilha do filme "O Palhaço", com direção de Selton Melo. Bandas do Chile, Peru, Colômbia, Estados Unidos também estão na coletânea.

Com mais de 10.000 downloads apenas nas primeiras semanas do lançamento do segundo CD “Olindance”, Academia da Berlinda é mais uma “grupo artístico” da capital pernambucana que rompe as barreiras da indústria fonográfica. Além disso, Yuri fala de literatura, e as expectativas para o Carnaval Multicultural de 2012, do Recife. Confira a entrevista exclusiva!
Antonio Nelson – Como surgiu a Academia da Berlinda? Por que o nome? Vocês se conheceram através da música?

Yuri Rabid – Surgiu de uma festa que fizemos em um quintal de uma casa – Olindance -, aqui de Olinda, em 2004, com o intuito de um baile dançante. Sempre ouvíamos falar de bailes famosos da capital na década de 1970. Foi uma idéia nostálgica de um tempo em que não vivemos e que nossos pais sempre falavam. Clubes tradicionais do Recife e Olinda ainda preservam a dança como carro chefe da casa. É o caso do Bela Vista e o Clube das Pás, que viemos a conhecer pessoalmente depois do início da banda.
Nos conhecemos desde moleque, nas ladeiras de Olinda, fomos criados no meio dos frevos e maracatus. A cidade sempre foi muito musical, e por conseqüência disso, todos vieram a ser músicos. Tocávamos na época, e tocamos em outras bandas até hoje, mas tínhamos vontade de fazer algo juntos.

Foto: Marcelo Lyra.
A.N – São notáveis os ritmos latinos nas composições de vocês. Como foi essa descoberta?


Y.R - O primeiro CD se chama “Academia da Berlinda”, e foi lançado em junho 2007, contou com participações de Fred 04 (Mundo Livre S/A), Jorge Du Peixe (Nação Zumbi, que também assina a arte da capa junto com Valentina Trajano), China, Juliano Holanda, Júnior Areia - produtor musical, DJ Edinho Jacaré, da Cubana do Bela Vista, Maria Laurentino e remix do DJ Bruno Pedrosa. Foi gravado e mixado no Muzak/PE, de fevereiro a abril de 2007. Foi masterizado no Estúdio YB!, em São Paulo, por Gustavo Lenza.
Já o segundo CD se chama “Olindance”, lançado em janeiro de 2011, de forma virtual, em uma ação simultânea da banda com vários blogs, redes sociais e parceiros conseguimos alcançar, logo nas primeiras semanas, mais de 10.000,00 downloads só no blog oficial academiadaberlindablogspot.com. Buguinha Dub assina parceria na produção musical e também é o responsável pela mixagem e masterização dos discos junto com Gustavo Lenza, do YB São Paulo.

Olinda é simplesmente toda nossa fonte de inspiração. Todo artista precisa criar, reciclar suas idéias, oxigenizar sua arte, e é indispensável um ambiente que propicie suas criações. A cidade a todo o momento nos alimenta com ideias e tem um ar diferente para nós. Digo isso com propriedade e sem bairrismo (risos).

A.N – O cotidiano tem presença marcante nas composições de vocês. Quais são as fontes de inspiração?

Y.R -
Como dizia Ary Lobo: O que nos inspira é "o movimento da cidade". O comum no cotidiano, a vida noturna dos boêmios, a mulher, amores correspondidos, amores não correspondidos... Olinda, carnaval, tudo isso tem espaço nas nossas composições de forma sutil sem ser pejorativo, como uma atividade lúdica sem muita responsabilidade de mandar mensagens ou tomar partido de algo. Em vários momentos muitos se identificam porque é como se fosse um grande inconsciente coletivo de ideias jogadas com o único objetivo de provocar momentos de alegria e diversão.

A.N – Quais são as principais influências locais, nacionais e estrangeiras?
Y.R - Estamos procurando sempre estar ouvindo coisa nova e velha em comum com as coisas que gostamos. Sempre alguém vem com uma coisa “nova” para nossos ouvidos. De uma forma geral gostamos muito de cultura popular: Frevo, Coco, Maracatu, Cavalo Marinho e Forró. Ouvimos também muita coisa da África, Angola e da Nigéria das décadas de 1960 pra cá, e de toda América Latina.

A.N – São notáveis os ritmos latinos nas composições de vocês. Como foi essa descoberta?
Y.R - Não houve bem uma descoberta, porque os ritmos latinos sempre foram muito presentes aqui em Recife e Olinda. Tenho lembranças de infância de ouvir falar de uma gafieira daqui chamada “Mané Mansinho”, que tocava música latina. O Clube Bela Vista tem a tradicional noite cubana, dos amigos “Edinho Jacaré e Valdir Português”. Sempre faço questão de levar os amigos de fora para conhecer o pedaço de Cuba em Olinda. Essa empatia pela latinidade já é bem antiga. Certo dia, estávamos conversando numa roda de amigos tentando descobrir o motivo sociológico deste fato e obviamente renderam muitas teorias absurdas. Eu mesmo atribuo isso ao clima!

A.N – Foi difícil chegar onde estão?
Y.R - Onde!? (risos). Estamos completando oito anos de banda, e temos que reconhecer que nunca pensamos em fazer uma festa num quintal que rendesse tanta satisfação. Toda banda independente tem suas dificuldades, acho que há 15 anos essas dificuldades eram incalculavelmente maiores que as de hoje, e ainda sim, se fazia música independente. Somos muito gratos de poder desfrutar de ferramentas e recursos que antes eram coisas de grandes produtoras e gravadoras.

Não podemos deixar de falar dos maiores responsáveis e patrocinadores do nosso trabalho, que é nosso público que vai ao show, que gosta e se sente bem com a nossa música. Nós fazemos a Academia da Berlinda porque é uma banda que nos satisfaz musicalmente e pessoalmente.

A.N – Pernambuco, e especialmente o Recife, fomentam muitas produções de impacto, alguns pensam que o Manguebeat acabou. Após a década de 1990, o que vocês têm para apresentar para o Brasil e o mundo?

Y.R -
Acredito que todo o contexto do Manguebeat não teve de início uma fomentação com objetivo de impacto. Foi um movimento que foi tomando forma e crescendo assim como a Tropicália, MPB e outros que equiparo. Na minha humilde opinião, vejo como de mesma importância para música brasileira como também vejo que se voltaram os olhos para Pernambuco no começo dos anos 1990, e de toda movimentação reverberada pelo movimento na época. Para as bandas foi um marco na forma de pensar e trabalhar a singularidade musical de Pernambuco. Para muitos, o fim de mais um movimento musical do Brasil.

No ano de 2011 foram lançados em Pernambuco cerca de 170 discos, muitos deles produzidos de forma independente. O importante é que muitas bandas continuam trabalhando sem pensar muito se o movimento acabou ou não, mas com a consciência de que abriu os olhos e ouvidos de muita gente. Acho que temos que apresentar para o Brasil e para o mundo nossa facilidade de assimilar e englobar novos ritmos e sons de características originais que compõem nossa riqueza cultural.
A.N – Grande mídia... redes sociais, blogs e sites. A veiculação nas rádios, no impresso e na TV é difícil?
Y.R - Bastante! Sempre foi muito difícil a veiculação de bandas independentes nas rádios e canais de televisão até hoje, mas atualmente, o grande veículo de comunicação é a internet. Antes, ou você tinha grana pra pagar sua veiculação, ou você tinha gravadora, ou você era o sucesso do próximo verão e no inverno ninguém mais recorda de você. Na rádio e na TV ainda é assim! O que aconteceu é que o mercado mudou e isso no meio independente deu uma melhorada considerável porque facilitou acessibilidade e encurtou o elo entre a banda e o cara que curte a banda.

A.N – O Brasil oficial e o Brasil real?

Y.R -
O Brasil oficial é subjetivo por quem o oficializa no meio artístico e em vários aspectos do país. Os imediatismos midiáticos das redes nos bombardeiam o tempo inteiro com informações importantes e ao mesmo tempo também criam uma densa cortina de fumaça que dificultam o nosso entendimento do que é oficial e do que é real. Poucas pessoas tinham este poder de observação na era do monopólio das informações. Hoje isso está mais claro pra todos nós. "Existe música pós-manguebeat, existe outro Brasil dentro do Brasil oficial, e sabemos disso".

A.N – Qual a previsão para o novo CD?

Y.R -
Provavelmente este ano ainda iremos trabalhar o "Olindance", que rodou pouco por outros estados. Queremos dar uma circulada ainda com este trabalho e, paralelamente, compor, e já começar a pensar em outro disco, sim. Mas com a ideia de fazer na mesma calma que foi este. Não podemos estipular prazo porque pra fazer um disco 100% independente leva tempo, dinheiro e inspiração. Temos uma cobrança interna de sempre que todo disco saia, seja no mínimo melhor que o anterior, então temos uma grande responsabilidade pela frente.

A.N – Quais as expectativas para o Carnaval Multicultural do Recife em 2012?

Y.R -
As melhores possíveis! Passamos o ano inteiro esperando o carnaval. A cidade fica entupida de gente de todos os lugares do mundo, além de ser uma ótima oportunidade para mostrar nossa música ao vivo para muita gente num clima diferente. Sempre são shows especiais e as pessoas podem conferir toda essa multiculturalidade que a cidade respira.

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