quarta-feira, 20 de maio de 2009

A ficção brasileira está ameaçada



Sentinela – Luis Guilherme Pontes Tavares*


Mais claro impossível. Apesar da editora da Nova Fronteira, Cristiane Costa, não ter dito com estas palavras, o fato é que ela informou que os autores de literatura brasileira têm poucas chances de publicar numa das grandes editoras que foram nos últimos anos adquiridas por estrangeiros, sobretudo espanhóis e portugueses. Costa proferia a palestra “Se vende não é bom, se é bom não vende”, no 2º Seminário Nacional Livro e História Editorial, quando revelou que tais editoras estão interessadas nos megasellers, situação que alcançam os títulos que estão vendendo horrores em vários países simultaneamente. É desafio apenas para o brasileiro Paulo Coelho... e olhe lá.

O evento foi realizado em Niterói, nos dias 14 e 15 de maio passados, no bloco 3 do campus Gragoatá da Universidade Federal Fluminense – UFF –, em Niterói. O 2º Seminário foi antecedido por dois outros eventos, realizados no Rio de Janeiro, nos dias 11, 12 e 13 de maio: o “Diálogo Brasil-França: livros e leituras, teorias e práticas”, no auditório da Fundação Biblioteca Nacional; e o “Colóquio internacional: arquivos, memória editorial e história da vida literária”, num dos auditórios da Academia Brasileira de Letras – ABL.

Reuniram pesquisadores do livro e da leitura de muitos estados brasileiros e contou com a ativa participação de experts nesses temas que vieram da França – Diana Cooper-Richet, Andre Vauchez, Jean Yves Mollier, Jean-François Botrel, Michel Melot, Frederic Barbier e Roger Chartier –, da Argentina – Gustavo Sorá – e de Portugal – Manuela Domingos –, muitos dos quais com livros publicados no Brasil. Chartier, por exemplo, é autor publicado por mais de uma editora no Brasil.

Lamentável, todavia, o que aconteceu na tarde de 14 de maio quando os economistas Fábio Sá Earp e Georges Kornis não concluíram a apresentação do trabalho “Em queda livre? Uma década do livro no Brasil”. Apresentariam a tese de que a indústria editorial brasileira, acompanhando tendência internacional, multiplicou o número de títulos publicados, porém diminuiu as tiragens médias, disso resultando prejuízo para o setor. Tentaram, porém houve problema com o computador, houve discussões acaloradas que impediram a exposição e, por fim, o tempo acabou sem que sequer a exposição alcançar o meio do caminho. Ficou para depois. Até porque o vazio foi preenchido por muitas interrogações.

Os eventos do Rio de Janeiro e de Niterói foram organizados pelo professor doutor Anibal Bragança, da UFF, que, no final, convocou a todos a participarem da próxima versão – o III Seminário Nacional Livro e História Editorial –, prevista para 2011. Para quem pensou que nos cinco dias de pré-seminário e do seminário de 2009 só houve palestras e apresentação de trabalhos, registre-se que também aconteceram as exposições “Francisco Alves, o rei do livro”, na ABL, e “Biblioteca das Moças – França, Portugal e Brasil. A construção da sensibilidade romântica”, na Biblioteca Central da UFF (campus Gragoatá), e os shows “Agnes Moço e grupo”, na ABL, e “Bia Bedran e grupo Palha de Milho”, no campus citado. Enfim, em 2011, quem viver verá o organizador superar-se mais uma vez. Parabéns!


*Luis Guilherme Pontes Tavares - Jornalista, professor e produtor editorial em Salvador.

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