terça-feira, 19 de junho de 2012

Eu escuto Mamelungos - Juca Badaró

Foto: Vivian Rigueira






ENTREVISTA - O jornalista baiano Juca Badaró fala sobre o "O FILHO DA ATRIZ", curta-metragem escrito e dirigido por ele.







Antonio Nelson - Como surgiu a idéia de fazer o filme?

Juca Badaró - Desde as primeiras reflexões, quando a ideia do roteiro para o curta-metragem surgiu, eu gostaria de falar dos artistas que não têm voz, daqueles que dedicam sua vida à arte e dificilmente serão valorizados por isso. Eu queria levar a mensagem dessas pessoas, que muitas vezes se encontram à margem. Meu desejo era dar voz e vez a esses personagens do submundo. E assim é Verena, a personagem principal o filme. Uma jovem atriz que sobrevive do teatro e que apesar do talento, do esforço, mal consegue pagar as contas do mês e sonha em um dia ser reconhecida com a única coisa que considera importante na vida: sua arte. Verena transita pela movimentada vida noturna do centro de Salvador e encontra em Marco, um travesti que ganha a vida dançando em boates, o seu companheiro inseparável. A princípio, gostaríamos de poder contar a história sofrida desses artistas que o mundo desconhece.  

A.N - Quais as fontes de inspirações?

J.B - Quando decidi falar sobre a vida destes personagens marginais, várias referência vieram à minha cabeça, naturalmente. Pensei muito a respeito de Macabéa, personagem de Clarice Lispector em "A hora da estrela". Uma figura pobre, com pouca escolaridade e vítima do preconceito por ser nordestina numa grande cidade do Sudeste. Uma marginal, antes de tudo. Uma mulher vítima da discriminação. Verena, a nossa personagen, carrega um pouco disso. A jovem artista cheia de sonhos na cabeça, que no fundo é renegada porque sua arte não é respeitada e não vale nada para a sociedade de consumo, onde a arte acontece de um processo massificado. O seu amigo e companheiro Marco talvez sofra ainda mais preconceito, numa certa medida por ser artista e ainda mais por ser homossexual, um homem que ganha a vida se travestindo de mulher. São personagens puros, que querem apenas ser felizes, mas que sofrem as consequências da sinceridade, da inocência e da fantasia. Nesse ponto enxergamos algo de "O Idiota", de Fiodor Dostoiévski. Os de bom coração, amantes da arte, passam por idiotas, loucos, quiçá imbecis e doentes. É assim que a sociedade enxerga os artistas do submundo em:


 

A.N - Quais paradigmas estão em questão?
J.B - O nosso filme, humildemente, pretende despertar nas pessoas e fazer pensar em qual realmente é o valor da arte em nossa sociedade. Qual o papel do artista e em que medida ele é responsável por quebrar paradigmas e padrões pré-estabelecidos? A história de Verena e Marco trazem à tona questionamentos a cerca de sexualidade, homossexualidade, preconceito e até espritualidade.

A.N - Quais os maiores desafios quanto ao audiovisual?

J.B - O maior desafio foi fazer um filme sem recursos e com baixíssimo orçamento. O cinema é uma das artes mais caras e que envolvem mais pessoas na pré-produção, produção e finalização. Nós tínhamos que trabalhar na base da boa vontade mesmo e das parcerias: todos da equipe trabalharam sem cobrar nada: desde atores até os técnicos. Assumimos a falta de recursos e os riscos disso. Todos trabalharam pela simples vontade de fazer cinema. E na minha opinião o maior desafio está nisso: produzir uma coisa de qualidade com baixo ou sem qualquer aporte financeiro.

A.N - Como foi o processo de criação da trilha sonora original do filme?

J.B
-
Assim como todos os outros profissionais, os músicas que compuseram a trilha sonora também fizeram tudo por amor. Tive a felicidade em contar com o arrajandor e músico Marcello Alves, que conheci quando trabalhei em Angola. Ele se juntou com outro grande amigo, o engenheiro Neto Maia, que faz música nas horas vagas. Os dois me trouxeram um material muito interessante e muito ligado à proposta do nosso curta. O filme fala de sofrimento, de dor, de descontentamento, mas ao mesmo tempo é um filme dedicado aos artistas. O artista lida com a felicidade e a tristeza com muita facilidade e elas estão juntas a todo momento. A trilha precisava fazer diálogo também e acho que conseguimos esse resultado. Os dois músicos me emocionaram no processo criativo. A estreia será no segundo semestre de 2012.

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