domingo, 22 de janeiro de 2012

Recife: Azabumba e Rabecando com Públius Lentulus


“Uma pessoa fundamental na minha formação é a professora Cirinéia Amaral. Ela foi quem me sensibilizou, e me motivou bastante em ser minha docente de música no Colégio de Aplicação da UFPE, além de passar muitos conhecimentos sobre a cultura popular de Pernambuco”.
Públius Lentulus – cantor, compositor e arranjador





Foto: Marcelo Lira.

Entrevista exclusiva com Públius Lentulus
. Confira!

Antonio Nelson – Seu nome foi inspirado no senador romano?

Públius Lentulus – Meu nome é realmente Públius Lentulus, e foi inspirado no senador Romano, do Romance: Há dois mil anos. Eu nasci há dois mil anos atrás! (risos).

A.N – Você nasceu e foi criado no Recife? Como foi o primeiro contato com a música? Como começou tudo?

Públius – Sou nascido e criado no Recife, mais precisamente na Várzea, região muito firme, forte, fértil e rica, no que tange a cultura popular. Terra de grandes Mestres como seu Dida - finado Mestre da Burra da Várzea, brincante e fabricante de brinquedos populares -, Mário Sete Cordas, Cláudio (cavaquinista), e de grandes compositores como Ivan Moraes.

A Várzea é também o lugar onde tive o primeiro contato com a Educação Musical Formal, onde está situado o Colégio de Aplicação da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), e também a Escola Municipal de Artes João Pernambuco, além do Departamento de Música da UFPE, e do Núcleo de Etnomusicologia, onde conclui uma Pós-graduação.

Sempre ouvia muito desde criança os discos de artistas populares como Claudionor Germano, Roberto Carlos, The Pops, Michael Jackson, e de Orquestras Cubanas, dentre outros discos dos meus pais, além de ouvir bastante as rádios AM e FM, onde fui aprendendo a gostar de música popular, para depois passar a criar as minhas próprias canções.


A.N – O bandolim é seu instrumento mais íntimo? O público ainda não conhece bem a faceta desse banjo?

Públius - O bandolim é o instrumento onde melhor me encontrei, acredito, para expressar a música de maneira mais pessoal, buscando inspirações nas músicas tradicionais, e no pop para transcender a escola desse instrumento para além do universo do chorinho e do samba, que tanto caracterizam o bandolim brasileiro.

Comecei a tocar esse instrumento na Orquestra de Pau e Corda, do Bloco Lírico Cordas e Retalhos, em 1998.

Mas, no Ensino Formal de Música comecei tocando violão e viola caipira, através de métodos de Roberto Correia e Braz da Viola, para somente depois enveredar pelos caminhos do bandolim e de outros instrumentos de corda, como o charango e a guitarra elétrica.


A.N – Quais músicos de Pernambuco são ícones para sua formação?

Públius – “Uma pessoa fundamental na minha formação é a professora Cirinéia Amaral. Ela foi quem me sensibilizou, e me motivou bastante em ser minha docente de música no Colégio de Aplicação da UFPE, além de passar muitos conhecimentos sobre a cultura popular de Pernambuco”.

Estudei com grandes violonistas como Wander Vieira e Márcio Beltrão, na João Pernambuco, além de Teoria e Harmonia com Marco César e Edvaldo Filho.
O professor e doutor em música Carlos Sandroni, também foi fundamental nessa trajetória em busca da música, com seu aprendizado além do âmbito acadêmico. Já o professor e doutor Daniel Sharp, da Universidade do Texas, influenciou bastante um aprofundamento acerca da Etnomusicologia.

A.N – O Movimento Manguebeat e o Pós-manguebeat?

Públius – O Manguebeat , assim como o Pós-mangue são fundamentais para se compreender os desdobramentos da música independente atual em todo o Brasil, e são referências estéticas muito relevantes para o processo de criação da nossa obra. Sempre acompanhei de perto o Mestre Ambrósio (já extinto), sobretudo, a Nação Zumbi e o Mundo Livre S/A, além da Banda Eddie, e todas as bandas independentes que (res)surgiram após o boom do Manguebeat, como o Chão e Chinelo, o Cordel do Fogo Encantado e a Comadre Fulozinha (já extintos); a Academia da Berlinda, Mula Manca, Mombojó, China, Jr. Black, Mônica Feijó, Treminhão, Tonino Arcoverde, Júnior Barreto, Herbert Lucena, Sérgio Cassiano, Joaquim Izidro, Cláudio Rabeca, Fim de Feira, dentre outros.

Como grandes novidades em Pernambuco, destaco o Idílio Moderno, duo formado por Julio Rangel e André Maria, dois grandes cantores e compositores, além de grupos como Arabiando, Saracotia e o Galho Sec, que contribuem na renovação do choro e da música instrumental brasileira.

Destaco os grupos mais tradicionais como o Samba de Coco Raízes de Arcoverde, e Mestres como Ferrugem, Dona Cila, Bongar e Aurinha do Coco, que são referências estéticas.

Também não deixo de reconhecer e valorizar a grande importância das mais antigas gerações da música pernambucana: João Pernambuco, Luperce Miranda, Capiba, Nelson Ferreira, Luiz Gonzaga, o Movimento Armorial, a Banda de Pau e Corda, o Quinteto Violado e o Quarteto Novo, além de artistas da geração udigrudi, nos anos 1970, como Lula Côrtes, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, e o grupo Ave Sangria.

A.N – Quais são suas expectativas para o Carnaval Multicultural do Recife? Onde você tocará?

Públius - As expectativas são sempre positivas! É sempre muito bom participar dessa grande festa! Espero poder fazer parte desse grande congraçamento que enfeita as ruas do Recife e Olinda com poesia, alegria, e arte, sobretudo.

A.N – Como surgiram as bandas Azabumba e Rabecado? Por que dois projetos?

Públius – A Azabumba surgiu em meados de 1999, a partir do encontro com Gustavo Azevedo e Juliano Holanda, além de Carlos Amarelo e Bruno Vinezof, após passarmos por várias formações, temos dois discos para ouvir no: www.reverbnation.com/azabumba.

O Rabecado surgiu para embalar as noites pré Carnavalescas Olindenses com baião, carimbós e arrasta-pés em meados de 2004, e acabou lançando dois discos (em 2007 e 2011) e um DVD coletivo chamado Quatrofonia, também lançado no ano passado. Os discos do Rabecado estão disponíveis para audição na internet: 
www.reverbnation.com/rabecado.

Foto: Emerson Calado

A.N – É difícil espaço na grande mídia local? As redes sociais, blogs e sites facilitam propagar sua arte?

Públius - Aos poucos vamos ganhando mais espaço na mídia impressa e televisiva. Tocamos bastante na Rádio Universitária FM e Folha FM. Enquanto isso, vamos divulgando na cibermídia nossos vídeos e músicas.

O reverbnation, myspace, youtube, além de blogs, facebook e twitter, se tornam grandes ferramentas para propagação dos nossos projetos. O videoclipe da música Dois Unidos, por exemplo, tem mais de 200 mil acessos no Youtube. Um grande mérito para uma banda independente.

A.N – O Brasil oficial e Brasil real?

Públius - O Brasil oficial e o real são ilustrados por Machado de Assis, e continuam a existir, mas cada vez mais pessoas procuram revelar o Brasil real através da Arte.

A.N – Quais são seus escritores preferidos? Está lendo algum livro?

Públius - Gosto muito de Mauro Mota, Carlos Drummond, Fernando Pessoa, Machado de Assis, Augusto dos Anjos, além da poesia oral dos cantadores de viola, como Zé Vicente da Paraíba.
Escritores como João Cabral, Ascenso Ferreira, Marco Polo Guimarães, e populares como Zé da Luz, Cancão (João Batista de Siqueira) fazem parte das minhas maiores referências para criação.

Atualmente, venho musicando sonetos de Waldemar Emídio de Miranda, poeta recifense, ainda pouco conhecido pela grande mídia, mas de relevante obra. O último livro que li foi "El libro de las preguntas", de Pablo Neruda.

A.N – É indispensável o ensino da música nas escolas?

Públius – É fundamental estudar música. É preciso estimular as novas gerações a estudarem História da Música, para se reconhecerem como novos atores nessa construção da música brasileira.

Foto: Michele Assumpção.

A.N – Quais lugares do Brasil você gostaria de tocar?

Públius - Gostaria de circular com o espetáculo do DVD Quatrofonia, que reúne o Rabecado junto com grandes artistas, como Tonino Arcoverde, Joaquim Izidro e Sérgio Cassiano, em um show itinerante em diversas regiões do país como o sudeste (SP, RJ e MG), centro-oeste (DF, GO), e sul (RS), e obviamente pelo Nordeste: na Bahia, em Fortaleza, no Crato, e em Juazeiro do Norte.

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