quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Entrevista exclusiva com Peu Lima, baterista da banda Mamelungos de Recife


“Percebemos nos shows que mais pessoas cantam nossas músicas. E isto talvez seja resultado do nosso ideal, que é dar as músicas para o mundo. Disponibilizamos o disco para download com o intuito de também alcançar esse objetivo”.

Peu Lima – Baterista, compositor, arranjador e cantor – Mamelungos de Recife.

Foto: Paloma Amorim

Desde criança, Peu Lima, 28 anos, apresentava sensibilidade para tirar sons das cadeiras, mesas, e objetos que transmitissem sonoridades "similares" à bateria. Na infância, seu pai o colocava na cacunda para assistir diversos gêneros e ritmos carnavalescos do Recife e Olinda, em Pernambuco. As consequências surtem na batera. Dos bairros Casa Forte, Rosarinho e Parnamirim - Thiago Hoover, Luccas Maia, Weré Lima, Igor Bruno e Peu Lima são os Mamelungos de Recife. Confira!

Antonio Nelson – O nome da banda me remete no tempo em que meus pais me levavam no Recife para assistir os Mamulengos. Qual a identificação de vocês?

Peu Lima É mais uma questão da cultura de Pernambuco. Coisa de criança lúdica. Fazemos com alegria. Com o intuito de gerar o bem comum da sociedade. E quando pensamos no nome, fomos inspirados também na mistura de raças, o Mameluco. Além disso, o Malungo de Chico Science. A união disso tudo gerou um nome forte aqui. Criou-se um conceito, um modo de vida, que é fazer o bem. Surgiu uma família composta não só por nós, mas pelos amigos, fãs etc. Como a gente costuma falar: “nós vamos mudar o mundo”. Acreditamos que temos essa possibilidade. Produzimos as músicas e entregamos para o mundo, e esta atitude nos dão muitas coisas boas em troca. Estimula perseverança!

A.N – Todos vocês são cantores, compositores e arranjadores. Um ar de ineditismo! Como é o processo de criação?

Peu LimaEssa é uma boa questão. Muitos nos questionam por não possuir uma identidade sonora como nos viram em outros trabalhos. Mas, acreditamos que nossa identidade é justamente a pluralidade do som, a diversidade. Tocávamos em outros trabalhos, e já tínhamos feito apresentações juntos. Foi quando surgiu a ideia de reunir cada componente com suas músicas e fazer a banda. Pois, a união poderia dar certo. O processo de composição foi basicamente individual. Juntamo-nos, e cada um foi mostrando sua música. Depois concebemos a ideia de como seria. Cada um acrescentou seu instrumento e suas influências na música do outro, gerando uma mistura que agradou a nós e a nossos amigos. Diga-se de passagem, temos muitos amigos. Eles foram extremamente importantes para chegarmos até aqui. Depois de três anos de banda o processo mudou um pouco. Já sabemos como o outro toca e fica mais fácil conceber resultado final. Em geral, um faz a música e mostra. Os outros ouvem e acrescentam. Mas somos livres para dar ideias um para o outro.

Agora, por exemplo, vamos dar atenção a uma música que foi composta em parceria entre Luccas (vocal) e Igor ( guitarra). Fizemos Produção Fonográfica na Associação de Ensino Superior de Olinda (AESO). Isso contribuiu para que pudéssemos trabalhar em conjunto e desenvolver nosso trabalho no dia a dia. Ainda bem que crescemos num ambiente rico em cultura, e cultura musical nem se fala!

Temos a felicidade Silvério Pessoa como amigo nosso. Thiago Hoover toca com ele também. Chamamos Silvério para fazer uma participação num show nosso. Ele aceitou de imediatamente. E foi muito bom! Silvério chamou Hoover para tocar na banda dele... E assim vem sendo. Eles fizeram uma temporada na França com La Talvera, uma banda da Occitania. Estev na Holanda e na Bélgica também.

Participamos do show do Ventilador Sonoro com Otto e Academia da Berlinda. Na ocasião também convidamos Lula Queiroga, que já tinha nos convidado para participar do lançamento do novo disco dele. Cantamos "Atirador", em 10 de dezembro de 2011.

Crescemos escutando muita música boa... Para nós (risos). As influências vieram de muitas partes, mas principalmente de nossas famílias. Mas enfim, escutamos de tudo por aqui. Alguns têm mais influências do Rock, outros do Samba, mas a MPB estava sempre misturada! Posso dizer que no começo da múscia Fanfarra, a bateria é de Bossa Nova. Mas falo de MPB em geral: Geraldo Azevedo, Chico Buarque, Caetano... Alceu Valença.

Foto: Bruna Coutinho.

A.N – Maculelê, Caboclinhos, Ciranda, Maracatu de Baque Solto, e Baque Virado; Vassourinhas, Frevo... Gêneros e ritmos musicais múltiplos em Pernambuco. É desafiante reunir tudo?

Peu Lima Crescemos ouvindo e escutando muita música boa (risos). As influências vieram de muitas partes, mas principalmente de nossas famílias. Escutamos de tudo por aqui. Alguns têm mais influências do Rock, outros do Samba, mas a MPB estava sempre misturada! De maneira até inconsciente. Agregamos e absorvemos muito da música pernambucana. Terminamos por acrescentar ao nosso som essa multiplicidade, mas de uma maneira que não foi forçada, entende? Não dissemos: aqui é um maracatu ou uma ciranda. As coisas foram fluindo e convergiram para arranjos com toques das raízes de Pernambuco. E é muito bom ter a possibilidade de reunir tudo. Somos bastante ecléticos e abertos a novos sons. Isso nos ajuda muito.

A.N – Quais os ícones locais e nacionais que lhes inspiram?

Peu Lima Di Melo é um cara que a gente curte. Gilberto Gil, os Novos Baianos são massa! Lenine e Lula Queiroga também locais e nacionais. Pô! Eu mesmo ouvi muito Chico Science e Mundo Livre S/A.

A.N – O que torna o Carnaval do Recife Multicultural?

Peu Lima A prefeitura divide o carnaval em pólos descentralizados. Assim pode fazer com que estilos musicais diferentes sejam apresentados. O povo pode ir de acordo com o som que agrada mais e tem a opção de conhecer outros trabalhos. É uma coisa bem interessante, pois não fica com aquela coisa de: Carnaval é frevo! Carnaval também é frevo!

A.N – Vocês dispõem o download do CD no site da banda. Quais as cosequências?

Peu Lima “Percebemos nos shows que mais pessoas cantam nossas músicas. E isto talvez seja resultado do nosso ideal, que é dar as músicas para o mundo. Disponibilizamos o disco para download com o intuito de alcançar esse objetivo”.

Foto: Bruna Coutinho

A.N – Como descobriu a percussão? O que representa pra você?

Peu Lima Tenho flashes de memória de quando era pequeno, acho que uns 03 ou 04 anos de idade, do meu pai batucando em tudo... Televisão, mesa, cadeira...E eu via aquilo e ficava impressionado. Mas era só a curtição dele... Ele só sabia tocar piano, e há muito não tocava, pois era obrigado pelos meus avós. Eu já acordava nos finais de semana com música e via meu pai batucando nos objetos... Então meus brinquedos eram instrumentos musicais de criança. Ele fez uma tuba para mim com um bocal de verdade, um arame envolto por uma mangueira e um pinico na extremidade! (risos). Mas o que mais me interessava era o batuque. Pedro Enock Ferreira de Lima, para ser mais exato.

Meu pai era morador de Olinda também... Então, todo carnaval eu ia pra casa dos meus avós e brincava carnaval no ombro do meu pai. O lugar que eu mais gostava de ficar era ao lado dos músicos das Orquestras de Frevo vendo eles tocarem. Era o melhor do carnaval.

Com meus amigos de prédio montamos uma banda e eu tocava atabaque. Viajamos para o exterior. Somos amigos de longas datas. Resolvemos comprar instrumentos de verdade! Meu amigo e eu compramos uma guitarra, cada um. Outro um violão, e o terceiro um baixo... Nada de bateria. Meu instrumento era a bateria, e o guitarrista só tinha um violão... Então,então vendi a guitarra a ele para comprar minha bateria...Isso em 1997... E estou até hoje.

Sempre tive o apoio da família. Penso que isso é um ponto crucial na carreira de um músico. meus pais vão aos shows. Mas meu pai vai menos. Ele viaja muito por causa do trabalho. Minha mãe vai sempre que o show é cedo! (risos). Ela sempre reclama dos horários! Mas ela é fanzona! Curte demais. Assim como os pais dos meninos.Link
A.N – Qual a relação de vocês com Olinda? Na música, Fanfarra, as tradições cLinkarnavalescas de Olinda são ilustradas.

Peu Lima Olinda é uma terra diferenciada. A arte está no sangue dos que vivem lá. Em 2011, tocamos mais do que em qualquer outro lugar. O mercado Eufrásio Barbosa foi o local. Foram no mínimo cinco apresentações. Ganhamos vários amigos. O número de pessoas que curtem a banda aumentou bastante, e ainda está crescendo. Nossa música foi bem recepcionada por Olinda. Esperamos tocar muito por lá.

A.N – Em quais os lugares mais importantes vocês fizeram shows? Qual região o público impactou mais? Já tocaram em outros estados?

Peu Lima O ano de 2011 foi muito bom para a banda. Já começamos na prévia do bloco Guaiamum Treloso. Abrimos os shows de Nando Reis e Otto. E em seguida rolou o Abril Pro Rock. A partir daí as pessoas passaram a olhar a banda com outros olhos. Estaremos em SP no mês de março. No You Tube temos vídeo da retrospectiva 2011. Fizemos um show incrível na Livraria Cultura. A livraria ficou cheia. As pessoas ficaram de fora... Emocionante foi tocarmos no carnaval na comunidade Alto José do Pinho, no Recife.



A.N – Na música, Ainda tô achando, vocês cantam: “e se a regra for mesmo correr feito um louco, quando eu ouvir o pipoco eu vou sentar no chão, no meio da multidão”. Vivemos num mundo caótico? Vocês são foras da lei como asseveram na composição?

Peu Lima O mundo é caótico porque as pessoas não se respeitam. Somos fora da lei? Quem não é? Vivemos numa época em que as leis não condizem com a evolução dos hábitos e costumes da sociedade.



A.N – Nas composições de vocês é notável um tom infanto-juvenil. Lembro dos Saltimbancos. Alguma relação?

Peu Lima A trilha sonora dos Saltimbancos é muito legal. Acho que pode ter alguma lembrança na música Colemim. Mas não foi nada pensado. Nossas músicas têm um estado de espírito jubiloso.

A.N – Luiz Gonzaga é homenageado pelo Galo da Madrugada em 2012. O que ele representa pra vocês?

Peu Lima A canção "A Vida do Viajante" retrata uma vontade nossa de rodar o país.

Foto: Mamelungos

A.N – Quais são as expectativas para o Carnaval Multicultural do Recife 2012? E onde farão shows?

Peu Lima - Ficamos muito felizes quando soubemos que vamos tocar no carnaval. Participar de uma festa dessas é realmente muito bom. E vamos tocar na terça-feira (21/02), às 22h, fechando o carnaval, no pólo descentralizado do bairro de Casa Amarela, que é um dos maiores. Ano passado o show da Nação Zumbi foi muito bom por lá. Nas devidas proporções, não podemos deixar a peteca cair. Queremos fazer um show para manter esse nível!

Estamos fazendo um projeto de um show dos Mamelungos. Queremos fazer um bloco de carnaval: Bloco dos Mamela (risos). Provavelmente será em 2013. Estamos correndo com isso. Temos amigos e fãs. Uns vão pra Olinda, outros viajam, outros estão no Recife Antigo. Aí, queremos juntar todo mundo antes do carnaval pra se divertir. Estamos divulgando muito a música Fanfarra Frevo, que está na coletânea Pernambuco Frevando para o mundo, que será lançada neste sábado (28/01).



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os artigos assinados não representam necessáriamente a opinião do Sentinelas da Liberdade. São da inteira responsabilidade dos signatários. Sentinelas da Liberdade é uma tribuna livre, acessível a todos os interessados.