terça-feira, 13 de outubro de 2009

Maestro das Emoções


Psiquiatra explica como é possível conviver com a depressão

Por Alexandre Gondim*

Aos 56 anos, o psiquiatra e psicanalista Luís Fernando Pedroso teve sua trajetória profissional rodeada de percalços e surpresas. Da militância política no movimento estudantil secundarista até a detenção como preso político em 1971, Pedroso passou a se interessar pelo comportamento das pessoas. Em 1974, começou o curso de medicina. Ele, então, percebeu que a política, a ideologia, assim como as religiões, não explicavam os comportamentos, mas a psiquiatria estabelecia uma intermediação entre a biologia, física, química e a sociedade.

O médico assume, abertamente, o próprio grau de loucura, considerando-a ferramenta para compreender os pacientes. Sua vivência, seus altos e baixos e suas crises depressivas promoveram uma compreensão mais nítida que ele chama de comunhão de experiências. “Tenho que ter muita noção da minha loucura para poder me identificar com o paciente”, afirma, revelando-se irritável, distímico, difícil de controlar, oscilante entre a euforia e a melancolia.

Ao longo da entrevista, Pedroso discorre sobre a depressão, sobretudo nos jovens, apontando os diferentes tipos da doença, suas causas, formas de diagnóstico e tratamento. Aborda os motivos do suicídio e a relação entre os fatores psíquicos e bioquímicos que configuram um estado depressivo. Conclui dizendo que doença mental mata muito mais do que se pensa e alerta aos pais para ficarem de olho nos filhos.

Alexandre Gondim – O diagnóstico da depressão, normalmente, engloba uma combinação de sintomas e circunstâncias subjetivas. O que de fato provoca a depressão e como ser preciso no diagnóstico?

Pedroso – Há vários tipos de depressão. Você tem a depressão monopolar, a depressão bipolar, depressões reativas, vivenciais. Tem umas mais de natureza constitucional, hereditária, e outras vivenciais, reativas, mais relacionadas às circunstâncias e com o estresse que a pessoa está vivendo. E você distingue tanto a existência da depressão como a diferença de uma para a outra pelo conjunto de sinais que a pessoa apresenta.

Há cura ou o paciente deve aprender a conviver com a doença?

Pedroso – Geralmente, depressões, transtornos de humor não têm cura. Você tem que buscar algum tipo de controle, medicamentoso ou espiritual, filosófico, cultural, a depender da natureza da depressão. Se você tem uma depressão biológica, constitucional, não adiantam os controles culturais. Mas, se você tem uma depressão mais reativa, vivencial, as medicações funcionam pouco. Mas, todas elas, de alguma forma, você tem que aprender a controlar e conviver.

Como lidar com um jovem com pensamentos suicidas? Qual a origem destes pensamentos?

Pedroso – A pessoa pensa em suicídio quando ela está num grau de sofrimento muito grande e o suicídio é a única forma que ela vê de cessação desse sofrimento. Sofrimentos dessa magnitude são produzidos por depressão grave e essa é uma situação de emergência gravíssima, porque, existindo o pensamento do suicídio, existe risco real de vida. E doença mental mata e mata muito mais do que a gente pensa. Há mortes explícitas, pela doença mental, como suicídio, e mortes do suposto acidente (de carro etc.) que, na verdade, são suicídios não explicitados. Ou, às vezes, não suicídios, mas outros tipos de imprudências que a pessoa é levada a cometer pela doença mental. Quando uma pessoa está com ideias suicidas, é uma das indicações a internação.

De que consiste e quanto tempo em média dura o tratamento?

Pedroso – O tratamento dura muito tempo, mas a fase aguda, em média, 15 dias, tempo que todas as terapêuticas começam a funcionar, diminui o sofrimento e tira a pessoa do risco. Mas ela deverá fazer a manutenção e a continuidade do tratamento, às vezes, por alguns meses ou alguns anos, depende do caso.

De que forma a psicanálise contribui para melhorar o quadro depressivo?

Pedroso – A psicanálise atua na superestrutura cultural, filosófica, ideológica do deprimido, nos sintomas, e ela ajuda um pouco no entendimento da psicologia do deprimido. Na medida em que o doente se fortalece psicologicamente, ele pode administrar melhor a doença. A psicologia, a psicanálise, vai abordar mais o lado saudável da pessoa. A psiquiatria mexe mais com a doença.

No caso dos jovens, que recomendações você faria para aqueles que eventualmente apresentem um quadro depressivo?

Pedroso – O jovem, até por ser jovem, tem pouca informação e pouca vivência. Eles ficam muito assustados, muito perplexos, muitas vezes tendem a esconder. Quem vê e quem tem que ficar de olho nos jovens são os pais e, diante de condutas pouco usuais, fora de determinados padrões, têm que consultar um especialista. Tem que levar a sério porque as famílias pensam, geralmente, que tudo é droga.

Drogas terapêuticas?

Pedroso – Não, drogas alucinógenas. Tem um caso clássico, que eu costumo contar, de uma senhora dizendo: “Doutor, é droga?”. E eu disse: “não, minha senhora, é esquizofrenia”. E ela respondeu: “ah, doutor, graças a Deus”. Droga não é tudo isso que se fala, mas a loucura é. A loucura produz crimes, produz morte, ela existe. E o problema é que muitas vezes as pessoas tendem a não ver ou a ignorar, deixar para lá, até que acontecem as tragédias.

No caso, a loucura dos jovens é uma espécie de endemia?

Pedroso – É, de alguma forma. Primeiro, porque você enlouquecer na adolescência é normal.

Por quê?

Pedroso – Porque a adolescência é um processo de transformação, de mudança; de alguma forma, de caos interno, psíquico; de muita experimentação, de muitos desejos, muitos tesões e pouco juízo. De alguma forma, a gente enlouquece na adolescência e isso é normal. O problema é quando isso atinge níveis extremos e, aí, complica.

* Alexandre Gondim é Bacharel em Publicidade e Propaganda pela Universidade Salvador – UNIFACS, artísta plástico: www.alegondim.com/arte , estudante de jornalismo da Faculdade Social – FSBA, e colaborador do Sentinelas da Liberdade.

Um comentário:

  1. As drogas são necessarias. As legais. Produzem seretonina,noroadrenalina e funcionam. Depois de 20 anos de psicanalise lacaniana posso dizer a combinação drogas e terapia é o ideal. Se não der, pelo preço, opte pelas drogas. Palavras de especialista.VIVA O PROZAC!!!!!!!

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