quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Imprensa negra na Bahia

Sentinela - Luís Guilherme Pontes Tavares*
Um dos méritos do livro As associações dos homens de cor e a imprensa negra paulista. Movimentos negros, cultura e política no Brasil republicano (1915 a 1945), do professor doutor Antônio Liberac Cardoso Simões Pires, é a fidelidade aos fatos. Trata-se de uma publicação do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros do Tocantins – Neab – da Fundação Universidade Federal do Tocantis lançada em 2006. O professor Liberac, como ele é mais conhecido, informa, por exemplo, que os movimentos negros no Brasil continuam sem a relevância pretendida porque falta união entre os militantes.

O autor, agora professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB – em Cachoeira, encerra o livro com estas recomendações: “Necessitamos entender melhor as relações nacionais e internacionais entre grupos de negros; desenvolver pesquisas comparativas entre os países da diáspora negra nas Américas; procurar de descobrir as relações entre os movimentos negros brasileiros e os norte-americanos na primeira metade do século XX para entender as possíveis influências das experiências das associações de homens de cor nas lutas pelos direitos civis dos negros norte-americanos na segunda metade do século XX”.

O professor Liberac conclui, após as considerações acima, com a seguinte reflexão: “Talvez possamos responder também o porquê de não conseguirmos unificar os movimentos negros na diáspora, em defesa dos negros cubanos que vivem os efeitos sociais das lutas políticas. Enfim, acredito que o entendimento de como se deram os processos históricos envolvendo indivíduos pertencentes a um conjunto de comunidades negras da diáspora africana vai nos ajudar a organizar uma agenda comum contra a descriminação racial nas Américas”.

O livro do professor Liberac foi sugerido pela historiadora Wlamyra Alburquerque, autora de O jogo da dissimulação (São Paulo: Cia. Das Letras, 2009) devido o interesse que demonstramos a respeito da imprensa negra, em especial da imprensa negra na Bahia. Esse interesse tem relação com o nosso compromisso com o estudo da história da imprensa baiana, que vejo aumentar desde 1988. O livro do professor Liberac examina alguns títulos de periódicos da imprensa negra paulista da primeira metade do século XX.

Sobre a imprensa negra baiana, por sua vez, desconhece-se qualquer trabalho a respeito. Sequer há um trabalho famoso sobre a imprensa abolicionista baiana. De modo que enxergo a profunda pobreza bibliográfica sobre o tema, e, porque a diminui, louve-se o esforço do Núcleo de Estudos da História dos Impressos da Bahia – Nehib –, sobretudo pela Coleção Cipriano Barata, iniciada em 2005, de natureza interinstitucional e dedicada a estudos sobre a imprensa baiana, cuja logomarca já figura em seis volumes.1

A propósito da imprensa negra na Bahia há, em gestação, a montagem de evento que será realizado em 2010, como parte da programação dos 80 anos da Associação Bahiana de Imprensa – ABI –. Além do professor Liberac, serão convidados o professor Sílvio Roberto Oliveira, da Uneb, cujos estudos sobre o poeta e jornalista Luiz Gama (1830-1882) tornam mais claras as contribuições desse baiano às letras nacionais; o empresário André Nascimento e os jornalistas Ana Alakija e Luis Augusto Santos (L.A.), que estiveram juntos na condução e realização do jornal Afro-Brasil, que circulou na década de 1980 em Salvador; a professora Ana Célia Silva, da Uneb, que estudou e continua estudando o preconceito entranhado nos livros didáticos brasileiros; o professor Jayme Sodré, colaborador de A Tarde e dedicado às pesquisas sobre a cultura afro-brasileira, dentre outros. Será sentida a ausência de Jonathas Nascimento, morto recentemente, cujo depoimento sobre o Boletim do MNU (Movimento Negro Unificado) seria valioso e, portanto, indispensável.

No primeiro semestre deste ano, no Centro Universitário da Bahia-FIB/Estácio, a imprensa negra da Bahia foi o tema da disciplina Tópicos Especiais em Jornalismo e a oportunidade se constituiu em ensaio do que poderá ser o evento do próximo ano na ABI. A iniciativa teve o duplo propósito de introduzir na turma a discussão sobre a imprensa negra e animá-la – e aos demais alunos concluintes – a eleger o tema como objeto do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.
O desafio está lançado.

* Luís Guilherme é Jornalista, produtor editorial e professor universitário. lulapt@svn.com.br


1 Apontamentos para a história da imprensa na Bahia (Salvador: Academia de Letras da Bahia; Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, 2005); A primeira gazeta da Bahia: Idade d'Ouro do Brazil, de Maria Beatriz Nizza da Silva (2. ed. Salvador: Academia de Letras da Bahia; Assembléia Legislativa do Estado da Bahia; Editora da Universidade Federal da Bahia, 2005); ARTHUR AREZIO DA FONSECA, de LUIS GUILHERME PONTES (Salvador: Egba, 2005); Anais da imprensa da Bahia, de João Nepomuceno Torres e Alfredo de Carvalho (Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 2006); Apontamentos para a história da imprensa da Bahia (2. ed. Salvador: Egba, 2007) e Memória da imprensa contemporânea da Bahia, organizado por Sérgio Mattos (Salvador: Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 2008).

Um comentário:

  1. ALFA 11

    SOU O CABO HOHENFELD. SERVIR NO HOSPITAL GERAL DA PM , CHOQUE, 12 BATALHÃO/C E NO 6 BATALHÃO. FUI DEMITDO POR PERSEGUIÇÃO POLITICA E HOJE AGUARDO TAMBÉM ESTÁ ANISTIA DO GOVERNO LULA. ESPERO QUE O GOVERNADOR WAGNER VENHA REALMENTE CUMPRIR A LEI, JÁ QUE ELE DISSE QUE TUDO QUE ELE FAZ É DENTRO DA LEI. ESPERO QUE ELE VENHA A REEDITAR LOGO ESTA LEI E ACABE DE VEZ O NOSSO SOFRIMENTO. CONTAMOS COM O APOIO DE TODOS OS COLEGAS NESTA LUTA…ANISTIA JÁ. MEU E-MAIL:PAULOHOHENFELD@HOTMAIL.COM OU PAULOANGELINI@HOTMAIL.COM …..FIQUEM COM DEUS

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