sábado, 29 de agosto de 2009

Berluconi e Hunter Thompson em Fortaleza

Sentinela - Luis Guilherme Pontes Tavares*

Afastem-se de mim a xenofobia e a postura severa contra a prostituição para que não pareça rude preconceito o mal-estar que me causou o desfile ruidoso e descarado de homens (?) italianos com jovens putas brasileiras, tão ruidosas e descaradas quanto eles, pela Rua Monsenhor Tabosa, em Fortaleza. Imaginei como seria tratado, por exemplo, em Roma, o transito diário de homens brasileiros e putinhas italianas. A cena cearense, pela regularidade com que ocorre, parece não constranger mais. Apesar dos pesares berlusconianos recentes, suponho que os italianos não tolerariam por muito tempo que os brasileiros andassem por Roma, Veneza ou Florença como se estivessem nos corredores de um prostíbulo qualquer.

A Fortaleza que revi neste agosto de 2009 é distinta daquela que visitei pela primeira vez há mais de 20 anos. O progresso tratou de substituir, no Monsenhor Tabosa, as lojas de artesanato de extraordinária qualidade pelas lojas de artigos semi-industriais, cuja arte e acabamento são, no mínimo, descuidados. A economia, sem dúvida, foi adiante, porém a cultura retroagiu. E isso é lamentável, tanto quanto o desfile de italianos e putas brasileiras naquela rua que, no meu modo de ver, deu para trás.

Fortaleza foi sede, entre 19 e 21 de agosto, do VII Encontro Nacional de História da Mídia, evento promovido pela Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia – Alcar – e que atraiu participantes de todo o Brasil que ouviram palestras e apresentaram trabalhos nos vários grupos de trabalhos temáticos que foram formados a partir de 2003. A programação foi cumprida nas instalações – e que instalações! - da Universidade de Fortaleza – Unifor (www.unifor.br) –, empreendimento do Grupo Edson Queiroz localizado em ampla área à margem da Avenida Washington Soares, que é uma das saídas (CE-040) da cidade.

Lamentei que a Fortaleza que visitei não seja exatamente a cidade que nos chega pelas emissoras de televisão. Na telinha tudo parece mais bonito e melhor arrumado. Penei um bocado com o sistema de transporte coletivo, apesar da garantia de que com uma única passagem o usuário possa prosseguir o percurso quando ele faz baldeação no Terminal de Papicu. Utilizei, no primeiro dia, o Grande Circular 2 e a viagem, desde a Praia de Iracema até a Unifor (via Terminal de Papicu), levou mais de duas horas. A decisão de retornar de táxi foi infeliz: paguei R$ 30,00 pela corrida, a mesma que outros colegas pagaram a metade desse valor.

A participação baiana no VII Encontro foi, sobretudo, dos professores da Faculdade Social da Bahia – FSBa – em cujo curso de jornalismo estão concentrados alguns dos principais estudiosos da história da mídia baiana. Estive em dois grupos de Trabalho – História da Mídia Impressa e História da Mídia Alternativa. Apresentei trabalho sobre a passagem de Hamilton Almeida Filho – Haf – pela Tribuna da Bahia em 1972-3. Porém, o que me encantou foi escutar a apresentação da jornalista Luciene Mendes Lacerda, formada pela Unifor, sobre o tema “O jornalismo gonzo: um possível diálogo entre Hunter Thompson e Arthur Veríssimo”.

Para concluir: se me constrangera encontrar Silvio Berlusconi em Fortaleza, por outro lado me encantou ter encontrado Hunter Thompson por lá.

* Jornalista, produtor editorial e professor universitário. lulapt@svn.com.br

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