quarta-feira, 1 de julho de 2009

Imprensa alternativa com grife


Sentinela - Luis Guilherme Pontes Tavares*


Pode surpreender que a revista Poder, de Joyce Pascowitch, possa ser, na atualidade, classificada como um produto da imprensa alternativa. Atesta isso um ensaio que a dona da Glamurana Editora publicou sobre o político Luiz Ignácio Lula das Silva na edição de maio. A grande imprensa brasileira jamais publicou nada igual. Afora a Fórum, a Piauí, a Brasileiros e a Caros Amigos, de identidades mais evidente, surpreende também classificar a Rolling Stone, da Editora Abril, como veículo de jornalismo alternativo. É só ler e constatar.

O conceito “imprensa alternativa” identifica, sobretudo, os veículos que se opuseram ao regime militar brasileiro que regeu os destinos do país entre 1964 e 1985. O conceito, no entanto, pode ser aplicado aos produtos jornalísticos de qualquer tempo, antes e depois da ditadura militar. A imprensa alternativa dos dias atuais distingue-se daquela outra porque não está sob censura e não é patrocinada por grupos políticos e oponentes explícitos ao governo atual. Simplesmente ela é assim classificada porque utiliza abordagens distintas das que predominam na grande imprensa, oferecendo assim um ponto de vista alternativo ao coro geral.

O ressurgimento da imprensa alternativa no Brasil tem sua explicação e resulta da ampliação da sombra do Estado sobre os grandes veículos. A análise desse problema não é o objetivo deste breve comentário, mas não se deve desconhecer dois recentes episódios tomados como remoção de lixo discricionário: a revogação da Lei de Imprensa e o fim da reserva de mercado para o jornalista diplomado. São, também, circunstâncias que explicam a volta e a expansão de veículos de informação que podem ser classificados de imprensa alternativa.

É provável que o professor Bernardo Kuncinski esteja atento a tudo isto, ele que é autor do livro fundamental sobre a imprensa alternativa – Jornalistas e revolucionários (2ª edição revista e ampliada. São Paulo: Edusp, 2006). A bibliografia sobre a atuação da imprensa no período da ditadura militar não é pequena e muito há, ainda inédito, nos armários das universidades: trabalhos de conclusão de curso (documentários, monografias e afins), dissertações e teses.

A propósito da bibliografia especializada no tema em apreço, registre-se o livro Recortes da mídia alternartiva, organizado pela professora Karina Janz Woitowicz, publicado pela editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no Paraná. O livro reúne 22 artigos apresentados entre 2005 e 2008 no Grupo de Trabalho de Mídia Alternativa reunidos nos encontros nacionais organizados pela Rede Alfredo de Carvalho. É improvável que a obra chegue às livrarias do Norte e Nordeste, de modo que é recomendável o contato direto com a editora: editora@uepg.br ou (42) 3220 3744-45.

A professora Karina Woitowicz, ora realizando estudos no Chile, foi a criadora do GT de Mídia Alternativa e o conduziu com o brilho que se reflete na edição de Recortes. Os 22 artigos de pesquisadores de vários estados brasileiros foram agrupados em quatro capítulos: “Comunicação alternativa em tempos de repressão política”, “Luta pela democratização da palavra”, “Minorias sociais na mídia alternativa” e “Mídia alternativa: trajetória, conceitos e experiências”. A organizadora é autora de um dos artigos do primeiro capítulo: “Lutas e vozes das mulheres na imprensa alternativa: a presença do feminismo nos jornais Opinião, Movimento e Repórter na década de 1970 no Brasil”.

Enfim, a imprensa alternativa é um fenômeno de todos os tempos e se avulta sempre que a liberdade está ameaçada.

* Jornalista, produtor editorial e professor universitário. e-mail: lulapt@svn.com.br

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